segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

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As mãos suavam. Passou as mãos pelo vestido, do busto à cintura, conferindo se estava tudo certo. Respirou fundo, tocou a campainha. Ouviu um barulho que vinha de dentro do apartamento, alguém andava rapidamente, também remexia alguns objetos. "Deve ter perdido a chave", pensou, sem perceber que o fato de ainda lembrar como ele era atrapalhado e esquecido a aliviava. Ouviu a chave girar a fechadura e apertou as mãos com força - como sempre fazia quando estava prestes a qualquer coisa. Mil pensamentos passaram pela sua cabeça naqueles segundos, ela sentiu aquela vontade de desistir, só que não dava mais tempo. Finalmente a porta se abriu e em sua frente estava ele, com um sorriso completamente amarelo e sem graça. Ela pulou em seu pescoço, o deixando sem jeito, o abraçou com muita força. "Que saudades de você" disse, tentanto quebrar o silêncio constrangedor. Se afastaram, ela entrou no apartamento. Era tudo meio bagunçado, mas tinha bem a cara dele. Na sala havia uma enorme estante com livros e cd's. Ela sentou sem cerimônia no sofá, ele sentou numa poltrona ao lado. "Então...Tanto tempo, né?" "É... A última vez foi antes de você viajar. Três anos?" ela concordou, "Três anos. Eu volto e você está adulto, morando sozinho, com... - pegou um porta-retrato que estava em cima da mesinha e olhando para ele continuou - com uma namorada loira... Pensei que você não gostasse de loiras" Ele riu com indiferença "Agora não gosto de ruivas". Sofia o fuzilou com os olhos "Você aderiu às loiras porque são burras e mais fáceis. As ruivas são mais inteligentes, é difícil você se encaixar no nível" ele se levantou da poltrona e sentou junto a ela no sofá. "Ah, é? Bem, Sofia, você dizia que eu me encaixava bem em você, digo, no seu nível" Os dois riram. O clima desconfortável se foi, ela passou a mão nos cabelos dele, alisou sua nuca. "Pensei que você fosse me esperar" ele tentou responder em tom divertido, tirando a seriedade da conversa "eu também pensei". Sofia sentiu vontade de chorar, mas sorriu. "Tenho um presente pra você" Tirou um pacote da bolsa, colocou em cima da mesa. Conversaram mais um pouco, riram de antigas coisas, relembraram, contaram as novidades. Ela precisava ir, ele a levou até a porta. Ela beijou seu rosto, ele falou que marcaria algo com ela 'e a turma' para a próxima semana. Ela se foi. Ele fechou a porta, andou desinteressado em direção do pacote, tentando disfarçar de si mesmo a sua ansiedade. Abriu e havia um caderno dentro. Nenhum cartão. Leu a primeira página:

Recife, 03 de janeiro de 2006

O ano novo foi divino. É difícl pensar que são meus últimos dias com ele. Por mais empolgante que seja viajar, não consigo imaginar o que é ficar sem suas mãos quentes, sem suas frases feitas. Estou com muito medo. Eu o amo.

Por instinto fechou o caderno e o abriu na última página. Ela marcava a data anterior ao dia de hoje. Era o diário de Sofia dos últimos três anos. Nele estava quem era Sofia, as mudanças que tinham ocorrido, os pensamentos e as revelações. Certamente, se ela tinha o presenteado com aquilo, era porque tinha alguma coisa que ele soubesse. Colocou o caderno em cima da mesa e foi tomar banho, pensando em se preparar para passar a noite lendo as anotações que Sofia tinha o presenteado. O passado se tornava presente e ele sabia que alguma coisa mudaria depois daquela noite.

Um comentário:

  1. Muitissimo Obrigada Querida :)))))
    *
    Que história encantadora, devias de continuar a escrever enredos destes :)

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