quarta-feira, 20 de junho de 2012

casal de sorrisos largos.

Entre todos os casais que já conheci, eles eram um dos mais bonitos. Os dois com sorrisos largos, pele morena, cabelos negros e olhos redondos. Pareciam irmãos, é verdade. Exceto pelo tesão visivelmente presente. Os dois ali, juntos, pareciam dar choque.
Ela era meiga, dessas meninas que de tão bonitas todos tinham raiva só de olhar. Mas com tanta doçura, não cabia outra opção a não ser adorá-la. Ele era desses cabras charmosos. Tocava violão, falava francês e tinha os cabelos enrolados, que chamavam os dedos de qualquer menina para brincar em volta de sua nuca, descendo a mão pelos cachinhos negros que desciam até os olhos.
Essa semana soube que eles não estão mais juntos. Brigaram, acabaram, parece que apareceu outra menina - para ele ou para ela, não entendi ao certo. Nunca fui próxima deles a ponto de ter coragem de chegar, na malandragem, e perguntar o que aconteceu. Mas que o meu peito doeu, doeu.
É tão difícil você ver duas pessoas juntas e não conseguir imaginar uma sem a outra. É tão difícil um casal conseguir transmitir tanta paixão e tanto carinho para terceiros. Acho que quando é de verdade, os sentimentos ultrapassam o individual e transcendem as paredes, fazendo com que todos percebam o segredo dos dois. Aquele segredo que se diz ao pé do ouvido, assim, sussurrando, na imensidão de coisas de um 'eu amo você'.
Aos dois, desejo toda felicidade do mundo sozinhos. Por mais que tenham deixado o mundo menos belo e mais infeliz não estando mais juntos. E que possam se encontrar, mais tarde quem sabe, dentro de um dia colorido. Quem sabe se reconheçam pelos cabelos negros, olhos redondos e sorrisos largos e continuem aquela história bonita que, mesmo acabando, ao meu ver foi infinita.

O anel do azar.

Adoro um brechó, um bazar e afins. Acho o máximo. Me assusta um pouco vestir roupas de gente morta, é verdade, mas eu sou corajosa. Já comprei bolsas, vestidinhos, blusinhas e nunca tive problemas. Também conheço quem compre e acho que, hoje em dia, virou até hype.
Acontece que entre todas as variedades disponíveis nos brechós da vida, eu nunca, nunquinha mesmo, simpatizei com uma coisa: as joias.
Não que eu esteja falando de diamantes e esmeraldas, mas até as mais simples das bijoux me deixam receosas de comprá-las depois que alguém já tenha usado.
Uma vez li, em alguma revista imbecil, que as joias carregam o peso do coração de uma mulher. Aquilo ficou na minha cabeça e sempre achei que pedras e correntes poderiam carregar energias por muito mais tempo do que roupas, móveis, casas ou carros. São objetos pessoalíssimos, desses que se escolhe a dedo antes de pôr no corpo.
Pois bem, mês passado eu saí para almoçar com uma amiga e ela usava um lindo anel. Ela recatada toda, logo reconheceu que o anel era a-minha-cara e  tirou do dedo para que eu pudesse experimentar. Quando ela viu meus olhinhos brilhando, concedeu que eu ficasse com a peça e eu pulei de alegria  com o presente.
Acontece que essa minha amiga não é lá o melhor exemplo para alto astral. Ela reclama de tudo, tudo mesmo, o tempo inteiro. E nada para ela é bom ou excelente. Acho que nunca a vi ter uma crise de riso. Enfim, uma pessoa das quais não descreveria como alguém leve.
Hoje saí de casa parecendo que ainda estava de pijama e coloquei o anel para dar um up no visual. Ele, de tão lindo, ganhou logo o gosto das amigas do trabalho que perguntaram onde eu tinha comprado. Expliquei que tinha sido presente. Acontece que desde que eu pus aquele danado daquele anel, meu dia começou a dar errado.
Veio uma dor de cabeça dos infernos, o trabalho, que estava super calmo, me prendeu até às 21h e o encontro marcado com o namorado foi cancelado por outros compromissos. Li um texto de uma ONG que me deixou com um nó na garganta até agora e perdi o ônibus para a faculdade.
O tempo inteiro pensava 'tenho certeza que é essa porcaria no meu dedo', mas tentava pensar em outra coisa para não dar asas à minha fantástica imaginação. Exausta, na volta pra casa tomei um táxi e tirei o anel. Na mesma hora, o taxista liga a TV portátil e eu abro o primeiro sorriso do dia com uma cena da novela. O mundo parecia mais leve naquele momento.
Cheguei em casa e encontrei mãe, avó e tia em frente à TV me esperando com pão doce para o jantar.
Coincidência ou não, parece que o dia só começou quando guardei o anel na última gaveta jurando nunca mais usar. E a minha amiga que não me escute, mas boas vibrações são fundamentais.

terça-feira, 12 de junho de 2012

O papel celofane.

Ontem fui terminar de comprar o presente do dia dos namorados. Precisava de uma caixa bonita e muitos papéis coloridos, além de um papel celofane transparente, porque é muito mais bonito. Pois bem, esse texto vai seguir assim mesmo, viu? Bem brega. Continuando, a loja já iria fechar e nada do papel celofane transparente. Até que avisto um, o último. Pena que uma mocinha, com uma bela cesta de chocolates nas mãos, também viu e entramos em competição para ver quem, no final das contas, iria levar a melhor.
Saí de lá rindo, pensando em como as mulheres são bobas. E acreditei que, naquele momento, enquanto eu lutava arduamente por um papel celofane com a tal fulana, nossos namorados assistiam TV e tomavam cerveja. Homem não liga pra essas coisas.
Cheguei em casa morta de cansada. Mas eu e Lucas combinamos de trocar presentes na noite de ontem, então ainda terminei de montar o presente e me arrumei.
Tínhamos pensado em ir a um restaurante fino e caro. Mas, no carro, decidimos ir no mesmo restaurante de sempre. Melhor assim. E à meia-noite, trocamos presentes. Lucas me deu um dos melhores presentes que já ganhei na vida. E, melhor, numa caixa, dessas que eu pensei que só as mocinhas compravam. Não tem escapatória, no final das contas todos somos bobos.
Disseram que hoje era o dia do amor. Eu acho que hoje é um dia de comemoração, sim. Se o comércio determinou que hoje seria o dia dos namorados e que todos ganhariam presentes, acho muito justo lutarmos pelo último celofane da loja. Mas hoje tem que ser um dia de comemoração por tudo que você tem no coração.
Quando Lucas toca a campainha da minha casa e eu fico nervosa querendo saber se eu tô bonita. Quando eu durmo junto dele e ele acorda de madrugada só pra fazer cafuné, mesmo acreditando que eu já durmo solenemente. Quando a gente briga e depois ri da briga, ridicularizando todos os defeitos e só deixando as coisas boas. Esses são os meus momentos preferidos.
O amor provoca isso nas pessoas.
E, por falar em amor, eu não consigo deixar de pensar em um dos meus melhores amigos, que se chama Ricardo. Ricardo, ou Cadinho, era o estereótipo do homem desacreditado. Todas as vezes que chorei por amor no ombro de Ricardo, ouvia coisas do tipo "isso passa, doido". E passava. Mas eu, apaixonada, acreditava na eternidade de todos os meus amores. Cadinho nunca acreditou. Nem nos amores dele, nem nos meus.
Acontece que chegou uma menina na vida de Cadinho que mudou tudo. O menino começou a ficar endoidecido, com olhos brilhando e falando dela como quem fala de uma mistura de ursinho fofinho com pedra preciosa. Sim, Cadinho virou um homem meloso e apaixonado. Talvez ele nem saiba, mas hoje eu sinto um orgulho dele fora do comum. Ele, finalmente, abriu o peito para os sentimentos e agora se deixa levar por tudo, até mesmo pela crença na eternidade de um amor.
Então hoje eu desejo um feliz dia do amor para o meu amor e para os meus amigos. Porque, no final das contas, somos todos crianças, correndo atrás de uma bela história para viver. Ou de um rolo de papel celofane para enfeitar.