quarta-feira, 30 de junho de 2010

disfunção

O que foi mesmo que me disseram? Ah, sei. Que eu iria me acostumar, que com o tempo o meu coração não iria mais acelerar ao te ver chegar. Que a rotina ia me possuir, que eu iria me cansar do jeito carinhoso de chamar, que as frescurites de paixonite aguda iriam acabando-se, pouco a pouco. Pois bem, comigo foi diferente. As possibilidades de eu não ter seguido a regra são muitas. Posso ter uma disfunção no cérebro, um retardo emocional, posso realmente te amar demais ou simplesmente ser rebelde e jogar o jogo de outra forma. Mas a verdade, a verdade mesmo, é que durante todo esse tempo, não consegui diminuir nada - nada mesmo - do que eu sinto por você. Ainda olho o celular a cada cinco minutos, com a esperança de receber uma mensagem, quem sabe uma chamada perdida. Recados na página pessoal dos sites de relacionamento, e-mails, pergunto ao meu porteiro se tem algum recado. Tudo com a esperança de preencher meu dia a dia com tuas coisas, tuas palavras, tua presença. Quando você aponta pela janela, deus!, fico a ponto de passar mal de nervosa. As mãos ficam geladinhas, o coração fica mais rápido do que uma bateria. E então, quando você chega, posso sentir seu corpo quente, seu olhar sincero. Você me traz paz, você me traz amor.
O que mais gosto em você são os seus hábitos estranhos e sem sentido. Ah, como eu gosto! Só você tem as mãos inquietas, prestes , sempre, a mexer ou até quebrar alguma coisa. Eu amo você porque você é assim, certinho, leva tudo ao pé da letra. Eu amo você porque você lê todos os manuais de instruções, até o do macarrão instantâneo. E quando alguém surta de nervosismo ao seu lado, você fala 'se acalme', com voz forte e imperativa, pois você é a única pessoa que acredita que isso pode funcionar. E isso, isso é lindo.
Quando rimos das desgraças, quando você cozinha para mim, quando eu te peço com aquela voz manda para lavar os pratos no meu lugar e você força um sorriso, odiando aquilo, mas vai lavar. Quando tentamos imaginar as vidas alheias ou quando temos a certeza que nenhuma vida é melhor que a nossa. Em todos esses momentos, eu amo você. E é tanto amor que mal consigo respirar. É tanta emoção, tanto coração, tanta verdade, tanto, tanto, tanto tudo... Eu, você, o nós, o nó. E a minha vida segue e eu quero mais. Acho que estou doente, meu querido. Eu estou amando e , mais do que nunca, é de verdade.

domingo, 20 de junho de 2010

vinte de junho

"Conheço você de algum lugar" "Conhece?" - ele desdenhou. Ela apenas sorriu, o que fez ele também pensar que a conhecia, lembrou daquele sorriso. Pensou alto, "De onde?", ela conseguiu ouvir, mas nada disse. Estendeu sua mão, ele segurou. Chegou ao topo da montanha, sem perceber que tinha escalado tanto. Ela disse "Pode deitar aqui", oferecendo seu colo. Ele achou estranho não achar estranho deitar no colo de uma mulher que ele não conhecia. Ela afagou seus cabelos e disse o quanto era doce o seu olhar. Onde ele estava? Quem era aquela mulher que, apesar de tão familiar, ele jamais tinha visto antes? Dormiu em seu colo.
O sol nasceu, fez com que os machucados dele ganhassem melhora. Ela  fazia curativos uma vez na semana. Ele questionou ''Que tal fazer curativos todos os dias? Alivia tanto a dor!" Ela olhou firme nos olhos dele, "Você não pode se acostumar e eu não posso te trazer apenas boas sensações". O tempo passou de maneira veloz, ele acostumou-se com o corpo dela e o cheiro doce que possuía.
Foi em uma tarde chuvosa que um anjo apareceu. Ela tinha saído, foi procurar coisas bonitas para enfeitar a cabana, queria agradá-lo naquela noite. O anjo vestia uma capa preta, o que fez ele pensar que poderiam   ser notícias ruins. "Hoje você vai embora. Já está curado e uma hora ou outra isso vai acontecer. Antecipa o sofrimento dela, é o melhor a fazer". Ele não soube explicar o que o fez seguir o anjo, afinal, ele adorava viver daquela forma. Porém, foi embora sem deixar vestígios. Desceu  ao concreto, voltou a sentir dor, as feridas se abriram novamente.
Então em um dia, sentado em sua escada, ele sentiu um cheiro familiar. Fechou os olhos, sentiu os lábios dela tocarem os seus. Confuso, apenas ouviu a voz dela embalar seus ouvidos "Estarei sempre aqui, serei seu ponto de fuga e equilíbrio. Te ouvir, te fazer sorrir e te amar é o que eu devo fazer''. E agora ele sabia que ainda existiriam vezes em que se sentiria vivo.

terça-feira, 1 de junho de 2010

'quero que você me aqueça neste inverno'

Sempre volto de carona com a mesma colega da faculdade. Ela me deixa sempre no mesmo lugar e eu já sei até decorado a quantidade de passos que preciso dar para chegar até o portão de casa. Bem, essa explicação toda, é só para contar que hoje, após descer do carro da minha amiga e ir a caminho do portão da minha casa, eu ouvi uma voz. Juro que na hora pensei "minha nossa, to ouvindo uma voz e ela gosta de Roberto Carlos" foi quando eu olhei pra trás e tinha um sujeito, um mendigo, todo cheio de tralhas, com um cachorro no braço e cantando o mais alto que podia "Quero que você me aqueça neste inverno e que tudo mais vai pro inferno". Ele cantava olhando para o cachorro e aumentava a voz na parte do 'inferno'. Comecei a pensar que aquele cachorrinho devia, realmente aquecer aquele homem.

Todos nós queremos ser aquecidos. É verdade que a tal da solitude é algo bom. Nossa, é algo ótimo. Mas a comapanhia do outro é e sempre será uma das coisas mais prazerosas da vida. Nenhum de nós quer morrer só. E mais, o assunto, esse assunto, é sempre alvo de sucesso. Hoje, por exemplo, uma amiga minha chegou contando que foi assaltada, jogaram ela no chão, levaram alguns objetos... depois ela contou que levou um pé na bunda do namorando. Quanto ao assalto, não houve especulação, mas ela teve que responder boas perguntas em relação ao pé na bunda... Estamos sempre interessados no amor. Por mais clichê que isso possa parecer. Todos queremos com quem contar, quem ver, quem brigar. E é disso que sentimos falta quando não temos e agradecemos quando encontramos. Você não quer ser só.

'Quero que você me aqueça neste inverno e que tudo mais vá pro inferno...' é o hino de todos nós.