terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

A queijadinha.

Ele chegava e dizia 'meu fio adora um docinho, que nem eu'. Ele sabia que eu era uma formiguinha, que amava coisa doce, ainda mais doce de coco. Queijadinha foi e sempre será o meu doce favorito. E ele sabia. Sabia porque era o dele também.
No dia que ele morreu ele tinha saído pra comprar queijadinha pra mim, com a minha mãe. Ela me disse que ele falou 'isso aqui é pro amor da gente'. Não sei se ela inventou isso para acalentar meu coração, mas eu acredito.
Passei muito tempo sem comer uma queijadinha na vida. E, das que eu comi, nenhuma chegava aos pés da que ele comprava pra mim.
Hoje levantei me sentindo estranha. Uma sensação de que alguma coisa vai acontecer. No caminho para o trabalho tem uma igreja. Não sou católica nem nada, mas entrei para tentar me sentir melhor. E lá eu tive vontade de chorar, tive vontade de sair correndo. Porque a vida não é nem metade do que a gente sonha. E pedi, silenciosamente, naquele momento que o meu avô cuidasse de mim.
Logo hoje, depois do almoço, encontrei uma queijadinha que tem um gosto igual ao da infância.
Vai saber.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

madrugada

Eu gosto da madrugada. É ela que guarda todos os sonhos, todos os desejos insanos e desesperados. É a madrugada que guarda o choro no travesseiro e o roçar de pernas na cama. A madrugada que guarda as saideiras, as conversas polêmicas e o silêncio. O silêncio dos culpados e dos inocentes. É ela que abriga todos os segredos. De todos nós que, noite a noite, passamos por ela e a confidenciamos tantas coisas. É na madrugada que eu gosto de viver.