segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

renda-se, como eu me rendi (ao amor)

"Ele beijou seus lábios, ela teve vontade de dizer que o amava, que estava com saudades; se segurou"


Sofia entrou no velho e bom café da esquina. Aquele ambiente tão íntimo, que por vezes serviu de plano de fundo para as cenas de sua vida. Quantos choros nos ombros das amigas, dores de cotovelo curadas a base de chá mate e limão. De vez em quando, quando a seriedade pedia, mandavam descer aquela cerveja "semi-importada" e pensavam estar bêbadas - já que não dá pra ficar bêbada com uma cerveja que custa 7 reais. Pois bem, Sofia entrou no lugar de sempre, falou com Afonso, o garçom que lhe atendia sempre. Viu todos os doces do cardápio, não pediu nada a mais do que seu velho café com menta. Foi quando Ele atravessou a porta de vidro. Sofia sentiu o coração enlouquecido, mas ela não deixou mostrar. Ele beijou seus lábios, ela teve vontade de dizer que o amava, que estava com saudades; se segurou.
Ele vestia tênis vermelho e usava um casaco velho e um tanto sujo. Como sempre, sem cerimônia e romantismo, foi franco e encurtou as carícias do encontro com a delicada frase 'preciso tirar água do joelho'. Sofia estava acostumada com aquele jeito. Afinal, há quanto tempo já estavam juntos? Bem juntos, na verdade "juntos", na prática, pois na teoria ainda eram amigos. Não conversavam sobre o que acontecia, o que tinham, o silêncio e as atitudes se faziam valer. Um filme passava na cabeça de Sofia, desde o dia em que tinha o visto pela primeira vez até o dia de hoje, onde já havia tanta intimidade. Foi pensando na vida que encostou a cabeça no balcão, afim de dormir e sonhar. Só então percebeu que junto a chave do carro dele e à carteira tinha um bilhete e algo embrulhado com papel brilhante. Sofia, intuitivamente, achou que era pra ela e abriu o pequeno presente amarrotado. O bilhete dizia 'seja minha' e o objeto metálico caiu no chão, rodou uns segundos e parou nos pés de Sofia. Ela abaixou-se, era uma aliança. Quando se levantou ele havia voltado e estava em sua frente, com um olhar ansioso. Ela apenas colocou o anel em seu dedo e beijou-lhe os lábios. Era a prova de que até mesmo os brutos ou as modernas, todos são românticos. E, no final das contas, todos queremos alianças.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Nós dois aqui, com todos aqueles discos espalhados pelo chão. As revistas, as reportagens que você pegou pra me mostrar, as canecas de café quente em cima da mesinha, restos de pizza fria. Risadas, risadas, risadas. Continuei sorrindo, mas parei para ver a situação e, amor, eu quase chorei. Eu quase chorei de alegria por ter você e tudo aquilo, toda aquela bagunça, perto de nós. Todos aqueles planos cofessados, todas aquelas mentiras desmascaradas, tudo tão cru e tão sincero. Ali, onde só havia eu e você. Onde mais ninguém chegou, onde mais ninguém chegará. E eu senti um medo tão profundo, sabe? Um medo de te perder, de não ter mais isso um dia. Eu sei, eu sei que você me acha boba e infantil quando eu penso nisso. Só que eu não quero mais parar de ouvir aquele jazz com você, conversar sobre as matérias idiotas das revistas, tomar aquele café horrível que você faz, comer resto de pizza na sua casa... Isso agora sou eu. É o que eu quero ser. Quero ser pra sempre essa mulher que faz esse tipo de coisa ao seu lado, não quero que você divida mais suas idéias com outras pessoas, quero roubar você, raptar você, sugar, sugar, sugar. Só penso em te sugar.
Não vejo a hora de voltar a ficar perto de você em todas as horas, todos os segundos, dividindo tudo ou qualquer coisa. Não esqueça de mim, não esqueça de nós.

Sofia.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

condenados

essa nova vida minha, esse novo jeito de acordar
essa rotina que chegou, uma nova caminhada
tudo igual ao meu redor, tudo muda à minha volta
sorrisos que vem do nada, estou perdendo o controle

à meia-noite o medo vem me visitar
e é imaginando ficar só que o desespero chega perto
minha mente não consegue sair daqui
e tudo que desejo é um pouco mais de você

estou condenada, enclausurada
estou submersa, submissa, subvertida
respiro suas lágrimas, aspiro seus sorrisos
estou completamente elouquecida, viciada

estraguei meus pensamentos
senti gosto de sangue, anestesiada, estou em transe
não consigo mais sair daqui

vou sugar você até a última gota
vou derramar lágrimas pelas suas facadas
estarei sempre aqui, se você também estiver
querido, você também foi condenado

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

'e eu sei que ainda vou voltar, mas eu quem será?'

Passamos por coisas na vida que nos sugam de uma forma tão imensa que no final das contas levaram muito, muito de nós. Nos levaram não só o tempo perdido com lágrimas e mau humor, por exemplo, mas também o tempo vazio que teremos sem vontade de sorrir e estar bem. A vida vai passando, você vai em sentido contrário. Você não cresce, você diminui. Você começa a ser cada vez menos você, cada mais os outros.