domingo, 30 de dezembro de 2012

2012 - o inacreditável.

Em 2011, eu passei a virada com dois amigos em uma festa num alto prédio do centro da cidade do Recife. Olhando os fogos que anunciavam no céu a chegada de 2011, eu só conseguia pedir uma coisa a deus, ao universo, aos bons espíritos ou seja lá quem me ouvisse: ser feliz. Tinha sido um ano muito duro, muito difícil. Eu precisava de descanso.
2012 foi inacreditável. Logo em janeiro, uma dessas coisas que só acontecem em novela, aconteceu comigo. Ganhei um prêmio de 10 mil pilas para redecorar a minha casa. E aí eu, que sempre quis ajudar minha mãe, pude dar a ela uma "casa" novinha em folha. Foi maravilhoso.
Em fevereiro, o menino com os olhos mais curiosos do mundo me encantou. A gente começou a namorar e eu pude, enfim, me sentir viva de novo.
Já em agosto eu fiz 21 anos e, depois de ser considerada adulta no mundo inteiro, decidi que era a hora de ser criança de novo e resolvi pedir demissão do emprego e viver um pouco às custas da minha mãe. Precisei dar alguns passos para trás para poder seguir em frente. Consegui um novo emprego, me reafirmei como profissional e me senti em paz.
Terminei um ciclo que pareceu uma eternidade, mas que ainda nem consigo dimensionar a saudade. A faculdade acabou e a emoção de me formar se confunde com a angústia de perder o contato diário com os meus amigos. Os meus melhores amigos. Coincidência ou não, foi o ano em que mais estivemos juntos, desde o início da faculdade.
Venci um pouco o meu orgulho pedindo desculpas a quem magoei. Tentei ser um pouco menos ríspida com quem amo e, de volta, ganhei muito mais carinho.
Crescer dói e é claro que em 2012 eu também senti dor. Também foi o ano da saudade, dos desencontros, das despedidas. Mas eu também ganhei muita gente, me senti renovada e tive forças para me reinventar. Mudei tudo: o cabelo, as roupas e os sonhos.
2012 foi bom. Foi um ano que eu nunca vou esquecer. Eu fui tão feliz que mal posso acreditar.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Dezembro e o frio na barriga

Todo dezembro é a mesma coisa. As luzes iluminam a cidade e esquentam o meu coração. Eu queria viver num mundo que todo mês fosse dezembro. Que todo dia tivesse campanha solidária para juntar agasalho, roupa e comida para os mais necessitados. Que cartões fossem postos junto a presentes e que a gente abrisse o coração pra falar o quanto as pessoas são especiais. E as comidas? Pra mim, nenhuma época do ano é mais feliz.
E eu, de ansiosa que sou, fico com um frio na barriga só de pensar em tudo que acontece em todos os dezembros. As mãos gelam em pensar em rever os amigos, fazer confraternizações e o constrangedor amigo secreto. Mas esse dezembro é especial.
Nos últimos quatro anos, me relacionei com pessoas, fiz amigos e, principalmente, construí uma rotina. E, neste dezembro, tudo acaba. A rotina, a convivência diária, as conversas no meio do corredor com as amigas.
Pode parecer papo colegial, mas a faculdade pra mim foi bem recreio, mesmo. Foi lá que eu conheci tantos amigos e amigas que hoje são os meus melhores. E foi lá que eu aprendi a ser quem eu sou de verdade.
Depois deste dezembro, muita coisa vai mudar. De estudante, vou ser jornalista.
Com saudades antecipadas do meu dezembro, espero os encontros e a despedida com muito frio na barriga.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

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Tem que cuidar, proteger e regar. Senão o amor passa, vai embora e o que fica é só um coração vazio, esperando o próximo passageiro.
Tem gente que não se importa em ser mais um. Que não se importa em não fazer a diferença, em não ser marcante. Essas pessoas não levam nada com elas e não deixam nada com a gente.
E tem gente que não sabe a importância de ter alguém ao lado. Não sabe a importância de um cafuné, de um sorriso cúmplice ou dos pés lado a lado.
Talvez um dia alguém entenda a minha sede de romantismo. Até lá, vou vivendo o meu mundo em escala de cinza, mas investindo em colorido sempre.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O jantar

Luciana sentou em uma cadeira que tinha vista para a porta de entrada do restaurante chic. Marcelo perguntou se ela queria frango ou carne bla bla bla, ela disse que sim. O telefone tocou, Marcelo passou mais ou menos dez minutos falando sobre trabalho com o amigo da firma. Luciana olhava ao redor. Um casal constrangia a todos com beijos calorosos, desses indecentes. Os garçons davam risinhos discretos e se entreolhavam, todos abismados com a indelicadeza do casal. A menina com uns 19 anos e o cara quase um trintão. Um senhor, sentado na mesa ao lado, fez 'rum huum' com a garganta, prevendo que a mocinha estava prestes a enfiar a língua na orelha do cara. Marcelo, que acabara de desligar o telefone, comentou "que falta de educação, né? Poderiam se agarrar em outro lugar" e Luciana deu um sorriso amarelo, fez que sim com a cabeça, mas só conseguia sentir inveja da mocinha, das línguas e da orelha.
O garçom trouxe os pratos. Começaram a comer e, a cada garfada, Marcelo tinha mais medo. Medo que Luciana dissesse "que porra é essa", mas ela engolia cada pedaço e parecia pensativa. Ele conseguiu relaxar um pouco e aproveitar o sabor do filé ao molho madeira. Luciana até achou o prato de Marcelo mais bonito que o dela, pensou em pedir pra provar, mas seria indelicado.
Então ela lembrou daquele dia na casa de Bruno, em que ele cozinhou um cachorro quente muito ruim e os dois se lambuzavam de molho vermelho. Assim, sem se preocupar em parecer bela, educada ou de família, Luciana se sentia à vontade com Bruno como jamais se sentiu com Marcelo. Pena que, além de Luciana, Bruno fazia outras três garotas também se sentirem à vontade e aí o romance não durou. 
Voltando ao filé ao molho madeira, Marcelo continuava a pensar "que porra é essa?" e pensava que Luciana sentia o mesmo. Mas já que ela nada falava, ele também resolvia se calar. Terminaram o jantar. "Sobremesa?" o garçom perguntou, quebrando o silêncio. Luciana disse "eu não quero, você quer?" bla bla bla, foram pra casa.
Boa noite, meu amor, até amanhã, amo você. E deitados em posições opostas - porque não tinha problema, era bom esticar a coluna e a claridade incomodava Luciana, dormir de conchinha era muito mainstream - dormiram abraçados com o medo de amanhã não conseguirem mais se olhar.
E ainda dizem que o amor engorda. O que engorda são as garfadas que a gente dá para evitar a conversa, as risadas e os beijos mal educados.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

like a boy

Pedro acordou de um sono pesado. Há dias o vizinho fazia reforma no apartamento, o que impedia que as manhãs fossem silenciosas e as tardes fossem convidativas. Andava sendo difícil trocar a noite pelo dia, como Pedro mais gostava de fazer. Naquela semana, portanto, ele estava dormindo e acordando como a maior parte das pessoas - deitando com a madrugada e acordando com o sol.
Pode ter sido essa mudança drástica de rotina ou a falta do que fazer que andava fazendo a mente de Pedro trair o seu coração e ter sonhos com ela. Betina, que há meses não dava notícias, aparecia em sonhos que não tinham nada a ver, sabe? Uma verdadeira intrusa na imaginação involuntária de Pedro. Ele sonhava que estava jogando futebol e, logo depois, via o sorriso de Betina na imaginária arquibancada. Sonhava que estava em um tiroteio e um dos assaltantes era a própria Betina. Depois sonhou com cartas de baralhos e, deus, quem estava estampada em todas as cartas? Betina, Betina, Betina. 
Desempregado há três meses, as roupas estavam cada vez mais justas. A geladeira só tinha cerveja e água com gás. Mas pensando bem, ele só estava seguindo as regras. Afinal, há algo mais clichê do que um homem abandonado resolver deixar de trabalhar, fazer a barba e ir à academia? É isso que os homens fazem quando sofrem, não é? Bem, pelo menos era assim que Pedro fazia.

sábado, 1 de setembro de 2012

E se eu pudesse voltar atrás? E se eu quisesse reviver todos os momentos, voltar a realizar os planos, vestir as roupas, os sapatos do fundo armário? E se eu quiser frequentar aquele bar antigo, tomar aquele vinho barato e ouvir aquela música que foi sucesso na época? Eu posso?
A gente muda o tempo inteiro. E o mundo tira um pouquinho de nós a cada dia. Um pouco  da inocência, da delicadeza, da fé, da esperança. As risadas ficam mais longas, mas também ficam mais raras.
Se eu pudesse voltar atrás, eu guardava mais momentos doces comigo. Eu tiraria mais fotos. Eu diria mais palavras sinceras. Eu evitaria brigas, eu seria menos egoísta. Beberia menos, comeria menos também. Talvez não.
As vezes o passado vem para nos salvar de um presente tenebroso. As vezes o futuro. na verdade, era o passado.
Vamos voltar a ser o que realmente faz sentido. Vamos voltar a ser nós.

domingo, 26 de agosto de 2012

21

Lembro a primeira vez que eu fiquei sozinha em casa. Minha mãe tinha ido me buscar numa festa de aniversário de uma amiga da escola e o carro quebrou na volta pra casa. Voltamos andando e o meu pai voltou até lá com ela para resolver a situação do fiat uno azul metálico (horroroso, por sinal). Chovia muito naquela noite. Fiquei olhando da varanda a esquina da rua da minha casa, esperando que meus pais voltassem. Eles demoraram, no máximo, duas horas, mas parecia uma eternidade.
Outro dia estava no ponto de ônibus e uma menina de uns 3 ou 4 anos me olhava e sorria. Então sorri de volta e ela falou para sua mãe "olha, mãe, a mulher tá rindo". Inconscientemente olhei para os lados, procurando a tal mulher. Acontece que aqui, no auge dos meus 21, eu ainda não tinha reparado que não sou mais uma menina. E, acreditem, aquilo me pegou de surpresa.
Crescer dói. Dói pagar as contas e dói mais ainda arcar com as responsabilidades das nossas escolhas. Precisamos decidir o tempo inteiro. Açúcar ou adoçante, com ou sem leite, molho branco ou bolonhesa, ir de escada ou elevador, casar ou comprar um bicicleta. E todas, todas as nossas escolhas provocam reações. E não afetamos só a nós, afetamos a nossos pais, amigos, amantes, colegas de trabalho. Pessoas que lidam com o nosso mau humor, estresse, TPM e azia.
Então vem esse medo de agir, medo de magoar alguém por agir errado. E as vezes nem o medo nos poupa de sermos imprudentes, impulsivos, extravagantes.
Quando a gente tem medo aos 21 e não pode mais esperar os pais na varanda, o que a gente faz? Bem, eu acho que a gente deve começar a limpar toda a sujeira. Deve ser um bom começo.
A primeira tarefa que eu preciso fazer aos 21, portanto, é essa. Limpar toda a sujeira.
Vamos recomeçar. Com medo, é verdade. Mas quem tem medo também tem fé.

terça-feira, 10 de julho de 2012

A rua

Ana agarrava Jorge dentro do banheiro corporativo da firma.
Naquele mesmo  instante, no mesmo empresarial, Guto, o motoboy, deixava seu telefone na mesa de Ronaldo, o recepcionista do escritório de arquitetura.
No mesmo bairro, ainda no mesmo quarteirão, Bia deixava Leo com olhos cheios de lágrima ao mostrar o seu coração alado tatuado com o nome dele nas costas.
Do outro lado da rua, Marcela dizia "sim" a Rodrigo na mesa forrada com toalha de linho do restaurante mais 'in' da cidade.
E por mais que houvesse tanto amor naquelas redondezas, eu só conseguia pensar em nós ali, parados dentro daquele carro. Esperando algo de bonito e salvador acontecer. Algo que tirasse as dúvidas, os medos, as preocupações corriqueiras. Pensei em abrir a boca, mas na mesma hora você também impulsionou o corpo pra frente, como quem ia tomar alguma atitude. Fiquei calada então. Mais alguns minutos se passaram, nada se disse.
Abri a porta do carro, olhei firme para você. Você sabia, naquele momento, o que eu estava querendo dizer. E o meu coração gritava "olha, se você não me sequestrar agora e me levar, sei lá, para o quinto dos infernos, eu saio deste carro e você nunca mais vai me ver". Você continuava olhando pra mim. Assim, como quem não espera que o pior aconteça. Como quem só espera um milagre.
Foi então que eu olhei bem nos castanhos dos teus olhos. Castanhos quase verdes, desses que dá pra se perder na profundidade, na dúvida e no mistério. Olhei e vi todas as nossas cenas. Nós, desconfortáveis, é verdade, no primeiro encontro. Depois naquele hotel barato da nossa primeira viagem juntos. E como não lembrar dos dias no hospital quando você cuidou de mim dia e noite sem parar?
Fechei a porta do carro. Peguei na sua mão. Respiramos juntos. Inclinei a cabeça para frente e disse "vamos". Você sorriu.
Jorge deixou Ana pela nova secretária. Guto não atendeu quando Ronaldo ligou. Bia cobriu o coração alado com um dragão. Marcela fugiu da igreja com uma mulher.
Mas eu e você estamos aqui. Dentro do carro, perdidos na imensidão do desespero e na certeza de todos os sorrisos.

domingo, 8 de julho de 2012

Músicas ruins.

Cheiros, cores e objetos são traiçoeiros, mas nada é mais cruel do que uma música. Músicas te levam a outro lugar, te fazem lembrar de pessoas queridas e, muitas vezes, nem tão queridas assim. De repente, um ou dois acordes te chacoalham a memória e você se pergunta o que mudou.
Eu ainda consigo sentir a respiração ofegante. O quarto escuro, as cortinas fechadas. Dias e dias sem sair para ver o sol. Apenas sentindo toda aquela dor e sofrimento. Na verdade eu acho que não sentia mais nada. Tudo já estava dormente, inclusive o meu coração.
É difícil lembrar de cada parte dessa história sem precisar engolir seco e respirar fundo. Mas quando eu lembro, a única coisa que faço é agradecer. Agradecer ao tempo, a deus, à força suprema, aos espíritos, ao paraíso, a alá, a buda, a qualquer coisa que possa interferir em nossas vidas, por ter conseguido superar aqueles dias em que a tristeza me visitou sem trégua.
A música está na metade agora. Irônico, há um trecho, apenas um trecho, que me remete a uma boa sensação. Era o show da minha banda favorita e eu erguia os braços para cima, pulava e cantava. Na minha cabeça, naquele momento, eu estava feliz. Mas apenas naquele momento.
Depois vem toda a cena da chuva, o medo e, mais uma vez, o quarto escuro e solitário.
A música está no fim agora. As lembranças vão se recolhendo em meu coração.
A próxima canção é animada e me lembra um final de semana entre amigos numa praia perto da minha cidade. As lembranças ruins, por ora, foram embora. Mas uma música sempre serve para lembrar que certas coisas não passam. Não passam nunca.

domingo, 1 de julho de 2012

I believe in magic

Quando somos pequenas, leem histórias de príncipes e princesas para que possamos dormir. Durante muito tempo, ouvi minhas amigas desejarem príncipes, castelos e cavalheirismo. Leia-se cavalheirismo como atitudes cordiais de abrir a porta do carro ou puxar a cadeira para a mocinha sentar. Um homem que use roupas apresentáveis e tenha dentes brancos.
Mas do que vale ele pagar a conta se, durante o jantar, ele não ouviu uma palavra do que você disse e ainda te encheu os ouvidos falando sobre o modelo do próximo carro novo? É pensando assim que eu vejo o quanto a necessidade de parece viver um conto de fadas transforma a vida de muita gente em um verdadeiro inferno.
Eu prefiro viver com alguém de carne, osso e coração. Alguém que não abra a porta do carro, mas que alise a minha cabeça até que eu consiga dormir. Não, eu não preciso de alguém que pague minhas contas. Mas eu preciso de alguém que ouça todas as minhas angústias e minhas vitórias no trabalho. Eu não quero alguém que use a mais alta costura. Sinceramente, prefiro encontrar furinhos nas velhas camisetas surradas.
E quando eu tenho isso, acreditem, eu vivo o maior conto de fadas. Eu vivo cada olhar, cada toque ao som de uma balada só nossa. Eu não quero viver, jamais, como esses casais que não se falam durante o jantar e que vão para casa intactos, embalados na mais alta classe. Eu prefiro perder a linha com o meu par e, bêbados, rirmos da vida alheia e da nossa vida. Perder a classe, mas nunca perder o sorriso.
Não, eu não acredito em príncipes e nem em cavalheirismo. Eu acredito em chamego, em agarrado, acredito em beijo de reconciliação e acredito em cafuné. Eu não acho que o que qualificaria um homem a ser digno de ser meu seria o jeito com que ele me trata com devoção e, sim, o jeito com que ele me trata com franqueza, com respeito e amor.
Um cara desajeitado, com uma camisa surrada e sem a menor habilidade para abrir portas de carro pode transformar a sua vida em mágica. Basta saber qual o tipo de magia que vai importar no seu coração.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

casal de sorrisos largos.

Entre todos os casais que já conheci, eles eram um dos mais bonitos. Os dois com sorrisos largos, pele morena, cabelos negros e olhos redondos. Pareciam irmãos, é verdade. Exceto pelo tesão visivelmente presente. Os dois ali, juntos, pareciam dar choque.
Ela era meiga, dessas meninas que de tão bonitas todos tinham raiva só de olhar. Mas com tanta doçura, não cabia outra opção a não ser adorá-la. Ele era desses cabras charmosos. Tocava violão, falava francês e tinha os cabelos enrolados, que chamavam os dedos de qualquer menina para brincar em volta de sua nuca, descendo a mão pelos cachinhos negros que desciam até os olhos.
Essa semana soube que eles não estão mais juntos. Brigaram, acabaram, parece que apareceu outra menina - para ele ou para ela, não entendi ao certo. Nunca fui próxima deles a ponto de ter coragem de chegar, na malandragem, e perguntar o que aconteceu. Mas que o meu peito doeu, doeu.
É tão difícil você ver duas pessoas juntas e não conseguir imaginar uma sem a outra. É tão difícil um casal conseguir transmitir tanta paixão e tanto carinho para terceiros. Acho que quando é de verdade, os sentimentos ultrapassam o individual e transcendem as paredes, fazendo com que todos percebam o segredo dos dois. Aquele segredo que se diz ao pé do ouvido, assim, sussurrando, na imensidão de coisas de um 'eu amo você'.
Aos dois, desejo toda felicidade do mundo sozinhos. Por mais que tenham deixado o mundo menos belo e mais infeliz não estando mais juntos. E que possam se encontrar, mais tarde quem sabe, dentro de um dia colorido. Quem sabe se reconheçam pelos cabelos negros, olhos redondos e sorrisos largos e continuem aquela história bonita que, mesmo acabando, ao meu ver foi infinita.

O anel do azar.

Adoro um brechó, um bazar e afins. Acho o máximo. Me assusta um pouco vestir roupas de gente morta, é verdade, mas eu sou corajosa. Já comprei bolsas, vestidinhos, blusinhas e nunca tive problemas. Também conheço quem compre e acho que, hoje em dia, virou até hype.
Acontece que entre todas as variedades disponíveis nos brechós da vida, eu nunca, nunquinha mesmo, simpatizei com uma coisa: as joias.
Não que eu esteja falando de diamantes e esmeraldas, mas até as mais simples das bijoux me deixam receosas de comprá-las depois que alguém já tenha usado.
Uma vez li, em alguma revista imbecil, que as joias carregam o peso do coração de uma mulher. Aquilo ficou na minha cabeça e sempre achei que pedras e correntes poderiam carregar energias por muito mais tempo do que roupas, móveis, casas ou carros. São objetos pessoalíssimos, desses que se escolhe a dedo antes de pôr no corpo.
Pois bem, mês passado eu saí para almoçar com uma amiga e ela usava um lindo anel. Ela recatada toda, logo reconheceu que o anel era a-minha-cara e  tirou do dedo para que eu pudesse experimentar. Quando ela viu meus olhinhos brilhando, concedeu que eu ficasse com a peça e eu pulei de alegria  com o presente.
Acontece que essa minha amiga não é lá o melhor exemplo para alto astral. Ela reclama de tudo, tudo mesmo, o tempo inteiro. E nada para ela é bom ou excelente. Acho que nunca a vi ter uma crise de riso. Enfim, uma pessoa das quais não descreveria como alguém leve.
Hoje saí de casa parecendo que ainda estava de pijama e coloquei o anel para dar um up no visual. Ele, de tão lindo, ganhou logo o gosto das amigas do trabalho que perguntaram onde eu tinha comprado. Expliquei que tinha sido presente. Acontece que desde que eu pus aquele danado daquele anel, meu dia começou a dar errado.
Veio uma dor de cabeça dos infernos, o trabalho, que estava super calmo, me prendeu até às 21h e o encontro marcado com o namorado foi cancelado por outros compromissos. Li um texto de uma ONG que me deixou com um nó na garganta até agora e perdi o ônibus para a faculdade.
O tempo inteiro pensava 'tenho certeza que é essa porcaria no meu dedo', mas tentava pensar em outra coisa para não dar asas à minha fantástica imaginação. Exausta, na volta pra casa tomei um táxi e tirei o anel. Na mesma hora, o taxista liga a TV portátil e eu abro o primeiro sorriso do dia com uma cena da novela. O mundo parecia mais leve naquele momento.
Cheguei em casa e encontrei mãe, avó e tia em frente à TV me esperando com pão doce para o jantar.
Coincidência ou não, parece que o dia só começou quando guardei o anel na última gaveta jurando nunca mais usar. E a minha amiga que não me escute, mas boas vibrações são fundamentais.

terça-feira, 12 de junho de 2012

O papel celofane.

Ontem fui terminar de comprar o presente do dia dos namorados. Precisava de uma caixa bonita e muitos papéis coloridos, além de um papel celofane transparente, porque é muito mais bonito. Pois bem, esse texto vai seguir assim mesmo, viu? Bem brega. Continuando, a loja já iria fechar e nada do papel celofane transparente. Até que avisto um, o último. Pena que uma mocinha, com uma bela cesta de chocolates nas mãos, também viu e entramos em competição para ver quem, no final das contas, iria levar a melhor.
Saí de lá rindo, pensando em como as mulheres são bobas. E acreditei que, naquele momento, enquanto eu lutava arduamente por um papel celofane com a tal fulana, nossos namorados assistiam TV e tomavam cerveja. Homem não liga pra essas coisas.
Cheguei em casa morta de cansada. Mas eu e Lucas combinamos de trocar presentes na noite de ontem, então ainda terminei de montar o presente e me arrumei.
Tínhamos pensado em ir a um restaurante fino e caro. Mas, no carro, decidimos ir no mesmo restaurante de sempre. Melhor assim. E à meia-noite, trocamos presentes. Lucas me deu um dos melhores presentes que já ganhei na vida. E, melhor, numa caixa, dessas que eu pensei que só as mocinhas compravam. Não tem escapatória, no final das contas todos somos bobos.
Disseram que hoje era o dia do amor. Eu acho que hoje é um dia de comemoração, sim. Se o comércio determinou que hoje seria o dia dos namorados e que todos ganhariam presentes, acho muito justo lutarmos pelo último celofane da loja. Mas hoje tem que ser um dia de comemoração por tudo que você tem no coração.
Quando Lucas toca a campainha da minha casa e eu fico nervosa querendo saber se eu tô bonita. Quando eu durmo junto dele e ele acorda de madrugada só pra fazer cafuné, mesmo acreditando que eu já durmo solenemente. Quando a gente briga e depois ri da briga, ridicularizando todos os defeitos e só deixando as coisas boas. Esses são os meus momentos preferidos.
O amor provoca isso nas pessoas.
E, por falar em amor, eu não consigo deixar de pensar em um dos meus melhores amigos, que se chama Ricardo. Ricardo, ou Cadinho, era o estereótipo do homem desacreditado. Todas as vezes que chorei por amor no ombro de Ricardo, ouvia coisas do tipo "isso passa, doido". E passava. Mas eu, apaixonada, acreditava na eternidade de todos os meus amores. Cadinho nunca acreditou. Nem nos amores dele, nem nos meus.
Acontece que chegou uma menina na vida de Cadinho que mudou tudo. O menino começou a ficar endoidecido, com olhos brilhando e falando dela como quem fala de uma mistura de ursinho fofinho com pedra preciosa. Sim, Cadinho virou um homem meloso e apaixonado. Talvez ele nem saiba, mas hoje eu sinto um orgulho dele fora do comum. Ele, finalmente, abriu o peito para os sentimentos e agora se deixa levar por tudo, até mesmo pela crença na eternidade de um amor.
Então hoje eu desejo um feliz dia do amor para o meu amor e para os meus amigos. Porque, no final das contas, somos todos crianças, correndo atrás de uma bela história para viver. Ou de um rolo de papel celofane para enfeitar.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

A menina que ri alto

Olha lá a menina que ri alto. A menina que fala alto. A menina que suspira alto. Tudo o que ela faz dá pra ver. Olha lá o coração dela pulsando por você sabe quem. As batidas são tão fortes que todos conseguem ouvir. E o calor do sangue das suas veias também dá pra sentir. Porque tudo que essa menina faz é de verdade, é humano e dá pra sentir bem no peito o quanto é sincera essa paixão dela pela vida, pelas pessoas e pelos momentos mais delicados e passageiros, mas que ela guarda no coração.
Tá bem, tá certo que não é de bom tom utilizar sempre do exagero para seguir na vida. Precisa rir tão alto assim, menina? Precisa falar pros quatro cantos o que tá sentindo ou pensando? Essa menina não tem filtro não, é?
Tem não. Ela é uma fratura exposta, sempre à mostra de quem quiser ver. Acontece que quando a gente se expõe muito, a gente mostra o que as pessoas querem e o que não querem ver. E o que quase ninguém quer ver é a verdade.
Olha lá a menina ligando de novo pra ele, indo ao encontro dele. Olha lá como ela se joga na frente desse homem como quem se joga na frente de um caminhão e diz 'pode passar, eu vou me arrebentar todinha, mas eu não vou sair daqui'. E aí ela vive esse acidente passional de paixões, ilusões, desejos, suspiros, beijos, olhares e recordações. Ela vive no mundo dela, que não precisa ser meu ou seu. É dela.
Olha lá a menina que ri alto. A menina que fala alto. Tudo o que ela faz dá pra ver. Você quer ver? Ela te mostra. Mas não tenha medo, não. É só uma menina rindo alto e dentro dela o coração pulsando em sangue e amor.

para Sthael.

domingo, 13 de maio de 2012

famiglia

Minha família nunca foi tradicional. Nós não somos chiques, não somos finos. Somos barulhentos e um pouco mal educados. Uma vez, o namorado da minha mãe disse que nos parecíamos uma família italiana. Mas eu acho que nós somos bem brasileiros mesmo. Desses, classe média, emergentes, farristas e trabalhadores. Nada de mais, nada de novo. Somos só mais uma família comum entre tantas outras por aí.
Acontece que há quase três anos sofremos duas perdas. Meu avô e meu tio, patriarcas da família, morreram em menos de três meses de diferença. Sem dúvidas, o maior trauma de nossas vidas.
Agora eu volto na memória há uns dez anos atrás. Eu e minhas primas trancadas no quarto, conversando. Era natal. Meu avô, no terraço, recebia cada membro da família. Os filhos na cozinha, conversando sobre problemas e soluções financeiras, minha avó no fogão, os primos mais novos brincando e os mais velhos dando apenas 'uma passadinha', pois tinham outras festas a comparecer. Tudo pelo meu avô que ali, sentadinho na cadeira do terraço, acompanhava o vai e vem. Vez em quando ele contava alguma piada, buscava um livro de fotos ou algo assim. Mas, era claro, estava todo mundo mais preocupado em comer, beber e, no final da noite,chegar em casa com a sensação do dever cumprido.
A morte, pra mim, é um mistério. Ainda não aprendo a lidar com ela. As vezes choro compulsivamente, as vezes não consigo chorar. E já houve momentos até de sorrir. Porque, para mim, o amor transborda a vida. E é dessa forma, por esse amor, que a minha família superou o trauma.
Hoje nós somos mais unidos, mais fortes e mais divertidos. Quando estamos juntos, estamos de verdade. E não por obrigação ou dever, não por não saber até quando iremos ter essa oportunidade. Somos jovens. Viveremos muito ainda.  Mas nos juntamos, sempre que possível, para celebrar a vida. Porque hoje, para nós, a companhia da família é a melhor companhia do mundo.
A família também cresceu. Vieram as esposas, os maridos e os bebês. Hoje são três bebês que cumprem papel de filhos, netos, bisnetos e tataranetos. São a continuação. Do sangue, da tradição e da vida.
Escritas da família no dia das mães antecipado (12/05)
Por isso, aprecie sua família ao máximo. Sabe aquele tio do pavê? Ele te adora, mesmo quando reclama que você tá comendo a sobremesa pela quinta vez. E cada família é linda. Seja uma família tradicional, uma família de dois, de três, uma família gay, uma família sem pais ou sem filhos. Uma família de amigos, por que não?! Aproveitemos o amor que transborda na união de alguns. Porque, no final da noite, meus amigos, o que pesa é o coração.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

manual para apaixonados.

"Começo de namoro é tão bom. Aproveite o começo." Todos ouvimos isso. O tempo inteiro. Dos nossos pais, amigos e do comercial do chocolate. Também passou no Fantástico que a paixão tinha tempo certo para acabar e que você tinha que correr até que todo o encanto passasse, até que tudo virasse pó.
Mas será que as paixões são tão efêmeras desse jeito? Eu amo brigadeiro há vinte anos. Será que um dia vou deixar de gostar? Será que um dia vou deixar de ouvir Caetano? Será que uma hora vamos todos parar de tomar coca-cola? Não. São nossas coisas prediletas. E eu, meus amigos, nasci com o dom de me apaixonar eternamente não só por bebidas, comidas e artistas. Eu me apaixono perdidamente, determinadamente e eternamente por pessoas.
Sou do tipo que, em uma festa, paro por um momento e observo os meus amigos que, de tão lindos, me emocionam. Como não prestar atenção na nossa risada, no carinho, no jeito com que eles chamam uns aos outros com apelidos adolescentes e como contamos as mesmas histórias por vezes infinitas? Como não amar minha mãe cada dia mais quando ela chega do trabalho, me dá um beijo na testa e entra no banho cantando a música da novela?
As pessoas são incríveis. Sabe essa pessoa que está do seu lado? Por favor, nunca deixe de olhar pra ela dessa forma. Nunca deixe de observar o jeito que ela ri, a forma que ela olha quando está brava e o sorriso sem graça que ela se esforça para soltar mesmo quando a sua piada não tem graça alguma. Não se esqueça da doçura do boa noite, das risadas cúmplices e das mãos dadas no cinema.
Por favor, não deixe de perceber a pele macia, o abraço confortável e a delicadeza de um beijo apaixonado. Nos dias tristes, tire ao menos dez minutos para lembrar dos seus momentos mais felizes e faça das lembranças boas um álibi contra todo o mal.
Juntos somos mais fortes. Vencemos o velho conceito, a matéria do fantástico e o comercial do chocolate. Porque não há nada mais bonito do que se reapaixonar todos os dias pela mesma pessoa. Somos muitos. Vamos nos descobrir e desafiar as leis da validade. O amor é infinito.


domingo, 6 de maio de 2012

flight,

E se não for pra sempre? E se tudo que você planeja, sonha, quer for comprometido pelo ciúme, pelo desgaste. pelos objetivos opostos? São tantas perguntas e questões que o mais fácil, e melhor, a fazer é ignorá-las. Fingir que as possibilidades ruins não existem. E viver. Viver a perfeição de cada momento, por mais efêmero e passageiro.
Se eu pudesse fazer um pedido, eu pediria que os sorrisos e a paixão de agora fossem eternizados porque não há momento mais doce e lindo do que a inocência de um começo. Não há conforto mais feliz do que os teus braços e não há sensação mais maravilhosa do que acordar com sua barba roçando no meu pescoço.
E aí eu vou construindo uma redoma de flores. Com um monte de sorrisos e palavras bonitas que é pra quando a tempestade chegar a gente ter lugar para se esconder.


quinta-feira, 3 de maio de 2012

nobody is good.

As pessoas são preguiçosas. Preguiça de levantar e pegar o controle remoto, preguiça de andar dois quarteirões no lugar de pegar um taxi, preguiça de fazer comida de verdade, preguiça de pensar, de não usar a calculadora e nem o tradutor. Somos todos preguiçosos. Mas uma coisa que eu nunca tive preguiça na minha vida foi de conhecer pessoas. E não me refiro a conhecer novas pessoas, disso, sim, tenho preguiça. Mas falo de conhecer os meus, os próximos, os que estão perto de mim. E, dessa forma, eu sempre me conheci mais. Sempre.
Acontece que eu sou uma pessoa muito faladeira, muito barulhenta, com sorriso largo e olhos curiosos. E aí tem gente que tá junto de mim e jura que me conhece dos pés a cabeça. Bobinhos. Só me conhece de verdade quem não tem preguiça. Preguiça de quebrar minhas barreiras, as redomas que construí em volta dos meus sonhos, desejos, promessas, espinhos.
E foi percebendo que nunca ninguém seria tão meu amigo quanto eu queria que eu virei a minha melhor amiga. Eu virei a única pessoa com quem sei que posso contar todos os dias, todas as horas. E não é desprezo pelos meus amigos, eles são, sim, maravilhosos, mas eu sou assim exigente. E foi assim que eu aprendi a me virar sozinha. Não por desejo ou egoísmo, mas pela busca pela plenitude.
Ninguém é bom o suficiente para você dividir seus sonhos, seus dramas e seus fracassos. Ninguém será bom o suficiente para se envolver com os seus problemas e as suas conquistas da forma que você espera.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

auto ajuda.

Somos capazes.Capazes de acreditar de novo, de viver de novo, de nascer de novo. Somos capazes de vibrar por uma amiga que vai casar mesmo enquanto consolamos uma outra que está pedindo divórcio. Somos capazes de superar todas essas coisas ruins que apertam o coração e incomodam a mente na hora de dormir. E somos capazes,principalmente, de sermos quem realmente somos. Você já tentou?
Quantos sorrisos diários você dá por conveniência? Quantas vezes você fica calado diante de uma situação para parecer bem educado? Quantas vezes a vontade era de sair correndo mas o corpo te obrigou a ficar?
Feche os olhos, são tempos de sinceridade. Não com os outros, mas com você. Chore. Você tem muito o que chorar. Mas depois ria, rir sempre vale a pena. Chorar as vezes não.
Acredite que entre todos os sentimentos, o pior deles é o fracasso. Nós somos responsáveis por tudo o que fazemos, inclusive pelo nosso perdão. Se perdoar é um dom.
Acredite que existe um depois. Acredite em destino, em sorte ou acaso, mas acredite em alguma coisa que te faça tirar um pouco o peso da busca incansável pela felicidade das costas. As vezes a felicidade encontra a gente e não o contrário.
Por mais dura que a vida possa ser, pode haver felicidade em um domingo à noite. Seja entre você, um bom filme e uma xícara de café, no meio de uma roda de amigos e doses de vodca ou entre dois corpos apaixonados entre lençóis. A felicidade está nas pequenas coisas. No ônibus que chega no ponto bem na hora que você precisa, nos 200 gramas que você perdeu após aquela amidalite ou no sapato novo da promoção que não combinou com nada do seu guarda-roupa, mas que você levou mesmo assim.
A vida é simples e curta. Eu sei que esse texto tá na categoria mais baixa de auto ajuda, mas as vezes não é disso que a gente precisa? Uma auto ajuda? Vamos nos ajudar? Vamos tentar.

domingo, 29 de abril de 2012

Bangladesh


-Sim. (e um sorriso)

Foi isso o que ela respondeu pra ele quando ele perguntou se iriam juntos para Bangladesh. Iriam. Iriam juntos para onde ele quisesse. E, ao contrário do que a mãe dela pensou, do que a vizinha dela disse e do que todas as amigas entenderam, não era submissão. Não era falta amor próprio e nem subverter valores. Nina era focada e decidida e o maior dos planos dela, naquele momento, era fazer aquele projeto de amor eterno dar certo. E o que é o amor senão o companheirismo, a ombridade, o estar junto independente de lugar, clima, conta bancária?
Você já ouviu a expressão 'conte comigo para qualquer coisa' um milhão de vezes, mas quantas vezes você realmente acreditou nessa frase? Quantas pessoas você tem para contar, de verdade, para qualquer coisa? E para ir para Bangladesh?
As vezes vale a pena se perder na imensidão do outro. Nos planos do outro. No amor total e incondicional. As vezes vale a pena ser mais ele que você, vai chegar uma hora que você vai precisar que ele seja mais você do que ele também. E é assim, vivendo cada dia os desejos de um que um casal consegue ser dois.

'Sabe o que é? Eu não consigo me entregar devagarzinho ou não me entregar toda. Eu preciso ser intensa, sincera e inteira. Em tudo.'

Foi assim que Nina escreveu o bilhete de despedida. Nenhuma das suas amigas a apoiou. São tão poucas as pessoas que conseguem entender a imensidão de se entregar. São poucas as pessoas que se entregam. São poucas as pessoas que são inteiras.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Nina. - Cena 1

Sentada no banco do ônibus, com as pontas dos cabelos pintadas de azul, Nina olhava a estrada e seu coração começava a bater mais forte. A sensação de pertencimento, estranhamente, lhe vinha ao peito, apesar dos anos fora daquele lugar. Nos braços, uma única mochila, alguns chaveiros de diferentes lugares. Nos pés, um velho all star. O mesmo com que tinha saído daquele lugar há algum tempo.
Algumas novas tatuagens e alguns novos pertences. No coração, o mesmo amor de sempre, mas novas feridas, fruto da vulnerabilidade da eterna busca pelo amor mais puro.
O ônibus entrou na rodoviária e Nina conseguiu ver seus pais a esperando na fila. Modestos, com roupas simples e humildes, mas Nina não deixou de perceber que eram roupas 'de domingo'. Saltou correndo do ônibus e foi abraçar os seus.
Por cima do ombro dos seus pais teve uma visão inesquecível. Rostos conhecidos, sotaque familiar. E aquele mesmo cheiro de esgoto que dominava a cidade há tanto tempo.
Nina estava em casa. Voltava ao seu lugar.

sábado, 21 de abril de 2012

Furei com Chico!

Desde muito cedo conheci o peso da palavra boemia. Meus pais são (acho que, na verdade, foram) exímios boêmios. E eu, no papel de criança anã, dessas que adoram se meter em conversa de adulto, observava os trejeitos, as falas e o jeito com que os adultos movimentavam as mãos. Sozinha, na pequena solidão do ser criança, eu pensava que não via a hora de crescer, tomar um copo de cerveja e rir, daquela forma que meus pais e os amigos faziam. Eles eram felizes.
Uma das minhas recordações mais antigas da minha vida é o barulho do chuveiro ligado vindo do banheiro e a voz do meu pai cantando Olhos nos Olhos. Eu lembro da intonação dele e do jeito que sua voz ficava afinada quando cantava "e que venho até remoçando, me pego cantando, sem mais nem porquê". Por muito tempo, Olhos nos Olhos, pra mim, era a recordação doce da infância em família. A recordação durou até alguns anos, quando sofri minha primeira fossa. Olhos nos Olhos começou a ser, também, trilha sonora da minha vida de mulher.
Chico Buarque sempre foi nome batido na minha casa. E eu adorava (ainda adoro, confesso) quando o meu pai contava a vez em que quase matou Chico de susto e que depois recebeu um beijo na testa do seu ídolo. Meu ídolo. Nosso ídolo.
O som da voz do meu pai, me colocando para dormir, cantando João e Maria, o choro preso na garganta em tantas vezes que ouvi Futuros Amantes, o samba no pé ao ouvir Vai Passar. O romantismo e doçura ao ouvir Tanto Amar. E hoje noto que Chico Buarque não foi só o meu cantor favorito da vida inteira, da vida dos meus pais e tudo mais e coisa e tal, mas ele foi, principalmente, trilha sonora das nossas vidas.
E hoje, meu caro (e caro $) Chico, eu vou furar com você. Não vou ao seu show. E a única coisa que eu posso dizer é que 'suas noites são de gala e o meu samba ainda é na rua', mestre. Meu coração fica um pouco apertado, mas sei que nosso encontro está marcado. "Não se afobe, não, que nada é pra já."
Roda mundo, roda gigante, roda moinho, roda pião. Até breve, meu ídolo.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Sofia is dead.

Estava com dois dos meus melhores amigos. A noite de ano novo é a minha preferida do ano. Usei uma calcinha rosa, que era pra ter amor, brincos e pulseira dourados, para ter dinheiro e uma medalha no peito em forma de relógio, que era pra o tempo vir e curar as dores, trazer novas cores.
5, 4, 3, 2, 1. As pessoas se abraçaram. Eu fiquei olhando, sozinha, para os fogos da praia de Boa Viagem. Ali, na cobertura daquele prédio, rodeada de centenas de pessoas no galpão, eu estava só. Eu estava feliz. As cores no céu, o barulho das garrafas explodindo e um pedido, apenas um pedido: mudança. Eu queria mudar.
Acordei no dia primeiro de janeiro e corri para o espelho. Nada tinha mudado. Perdi as esperanças. Não iria ser mágico? Não, não iria. Voltei a dormir. Acordei às 14h e não olhei mais no espelho. Até hoje.
Hoje eu me dei conta de como o tempo passou rápido e de como as dores foram embora. De como me acostumei com a ausência de certas pessoas e de como me apaixonei pela presença de outras. E eu acho que esses quatro meses de 2012 foram mais importantes para a minha mudança do que qualquer outro período da vida inteira. Se os Maias estiverem certos, eu morro em 2012, mas morro renovada.
Ando tendo ideias, sentimentos e reações pouco comuns. Ao longo dos anos, aprendi a cultivar o cinismo. Mas tenho percebido que minhas reações e sentimentos estão cada vez mais à mostra. Teria eu perdido a capacidade de fingir? Teria eu perdido a capacidade e o direito de guardar o que eu sinto só pra mim?
Também me percebo seca em alguns momentos. Tenho chorado menos. De alegria e de tristeza. Algumas lágrias caem. Duas ou três, no máximo. Mas cadê o choro compulsivo, poxa? Ele não vinha umas duas ou três vezes por semana?
E coração de galinha. Eu sempre tive a maior pena na minha vida de comer coração de galinha. E agora eu peço coração de galinha no meio do bar?! Assim, como quem não tem pena das galinhas?
E a música? Eu não vou pro show de los hermanos, não ouço mais Marisa, nem Caetano e nem Gil ultimamente. Tenho escutado Foster the People e publicado fotos no instagram. Meu deus, sou hipster?
Eu não sei pra onde estou indo, não sei com quem estou indo. Desacertei os ponteiros e as direções. Eu to com medo, mas to feliz. E, de tão feliz, decidi uma coisa. Sofia is dead. Sofia me representou por anos. E foi o retrato dos meus sentimentos durante a minha transição da vida boa para a vida difícil - leia-se adolescente para vida adulta. Por isso, vou criar outra personagem. Alguém que represente esse novo eu, essa nova Duda, essa nova etapa, a nova história. Sofia chorou, sorriu, amou, casou com Téo, separou, disse a ele que era tarde demais, acreditou de novo no amor. E Sofia agora vai descansar um pouco, ficar em stand by, quem sabe. Talvez um dia ela volte, talvez uma hora ela apareça e cruze comigo. E aí eu conto tudo aqui, nesse vão de palavras rudes.

domingo, 15 de abril de 2012

I don't combine with you.

Sabe qual é a maior prova de amor do mundo inteiro? Compreensão.
Você cresce, é educado, criado, formado, tem seus próprios conceitos, valores e ideias. Você passou por momentos, vivências, dias que te fazem ter uma, duas ou três opiniões firmes sobre determinados assuntos e sobre determinadas pessoas.A vida da gente é mais complexa e mais difícil do que qualquer um pode imaginar. To mentindo?
E aí você inventa de dividir a sua vida com alguém. Alguém que, assim como você, passou por momentos, vivências e dias que o fizeram ter uma, duas ou três opiniões firmes sobre determinados assuntos e sobre determinadas pessoas. E aí, meu amigo, o bicho pega.
É diferente discordar de amigo, de chefe ou de subordinado. Uma hora ou outra vocês se separam, vão cada um para suas casas e fica por isso mesmo, esquecem o conflito. Mas quando o cara é fã do FHC e a mocinha é DilmaTeam e eles vão dormir na mesma cama, o caos acontece.
Eu nunca ganhei flores. Também nunca tive grandes declarações de amor em público, nunca jogaram rosas na minha rua por um helicóptero. Mas, confesso, não sou fácil. Sou dessas mocinhas que defendem as ideias até o fim e acabam vencendo pelo cansaço. Por isso, a coisa mais bonita que alguém pode me dar é a compreensão. É o respeito às minhas crenças, à minha postura diante de algumas situações e, principalmente, à minha forma de encarar a vida.
É claro que a vida não é preto no branco e todos temos que ser flexíveis, além do mais, todo mundo pode mudar de ideia (alguém aqui tem preguiça de pensar?).
A minha contribuição ao mundo para me tornar alguém mais compreensiva é amar um cidadão que não gosta de Nutella. Sim, isso é possível. Mas é assim, não é? Um dia atrás do outro e vamos nos superando. Seja a Nutella, a visão política, o time de futebol ou percepções sobre a vida. A diferença nos faz mais bonitos.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Dois (2)

São 30 dias, 720 horas e 43200 minutos. Falando assim, um mês parece muito. Mas na verdade não é. Quantas vezes você já parou e pensou 'nossa, já é outubro?' porque na sua cabeça ainda era, sei lá, julho. Os meses passam muito acelerados quando a vida tá mais ou menos.
Entretanto, nós nunca sabemos o que nos aguarda. Um dia você acorda e é a mesma pessoa de sempre, mas um acontecimento ao longo daquelas 24h pode mudar sua vida. Pra sempre. Foi mais ou menos assim que aconteceu comigo há exatos trinta dias atrás.
Eu estava comendo hamburger. Não, a cena não é nada romântica, aviso de antemão. E aí eu olhei pra ele, que sentava do meu lado com tanta dedicação. Não sei explicar como uma pessoa pode sentar com dedicação, mas o que eu quero dizer é que ele aparentava, de verdade, querer estar ali. E aí eu olhei bem nos olhos dele, que representavam tanta coisa pra mim naquele momento. Representavam a fé, o amor, a esperança de que, sim, duas pessoas podem ser felizes juntas. E eu perguntei se ele queria ser meu namorado. Ele quis.
Segundo o dicionário, trauma significa:

s.m. Fig. Desagradável experiência emocional de tal intensidade, que deixa uma marca duradoura na mente do indivíduo.

E era assim que eu me sentia. Traumatizada. Eu tinha colocado na minha cabeça que eu seria feliz sozinha. Que se envolver, correr o risco de se machucar, deixar que alguém entrasse na minha vida e no meu coração, de novo, seria algo fora de cogitação. Mas eu tinha estabelecido todos esses planos antes de conhecer ele. E ele mudou tudo. Me fez acreditar de novo, me fez querer de novo e, principalmente, me fez abrir mão da confortável solidão para viver o risco de ser dois. Agora é tudo em dobro. São duas cocas, são dois sanduiches, são dois ingressos de cinema. São dois. 
E eu não sei pra onde a gente tá indo e nem no que isso tudo vai dar. Não sei se vamos alcançar a eternidade ou se daqui a uns anos vou sofrer sentindo sua falta. Não sei se vai dar certo. Mas tá dando certo. Eu to feliz. Feliz, confesso, como eu nunca fui, como eu nunca pensei que eu poderia ser. E essa completude, essa emoção e esse coração disparado a cada minuto que vai passando e eu sei que vou te encontrar, não tem preço. 
Eu sou capaz de amar, eu sou capaz de te amar. Eu sou capaz de sentir todas as essas coisas de filme: mãos geladas, coração aflito, saudade excessiva, medo de perder. Eu sou capaz de ter um amor desses de cinema e que me faz tão feliz como só as mocinhas são. Mas o melhor de tudo é que eu não sou mocinha. Eu sou real. De carne, osso e coração. 



segunda-feira, 9 de abril de 2012

new love, new life.

Sou arrogante. Também sou teimosa e um tanto mimada. Eu também sou a dona da verdade e até quando estou errada penso em todas as possibilidades de estar certa antes de reconhecer o erro. Mesmo que seja óbvio, mesmo que seja claro. Eu não sou fácil.
Também sou prolixa e faço grandes discursos. Desses discursos moralistas, dessas palavras dramáticas. Eu tenho preguiça de mim.
Há algum tempo, parte de mim morreu. Morreu um amor, morreu uma vida, morreram os planos, a crença no eterno, morreram as alianças, morreu o hábito. E eu aprendi a ser só. É bom ser só. Eu aprendi que estar comigo e fazer minhas coisas é uma delícia. Percebi que tenho amigos fantásticos e que rir até a barriga doer faz a vida mais feliz e é viciante. Eu aprendi que a solitude não é de todo ruim.
E aí aparece você. Você chega de mansinho, começa a mexer com a minha cabeça e, aos poucos, com o meu coração. Posso dizer que o meu coração venceu pelo cansaço porque tentei,com todas as minhas forças, tirar você de perto de mim -tirar você dos meus pensamentos e das minhas mãos geladas sempre que você se aproximava.
Eu tentei acreditar que era só mais uma paixão efêmera, dessas tantas que eu tive ao longo desses meses e até me boicotar eu tentei. Tentei te magoar, tentei de deixar, mas em todas as tentativas eu falhei. Eu falhei porque, no fundo, a minha vontade era clara. Ficar com você era o meu maior desejo. E só eu sei há quanto tempo eu não desejava tanto uma coisa como eu desejei você.
É engraçado te dizer isso, mas você vem me mostrando uma nova vida e uma nova pessoa que mora dentro de mim. Um pouco menos egoísta, um pouco mais altruísta e racional. E sabe por que você me obriga a pensar mais? Porque eu não quero te perder. Eu não quero dar um passo fora do salão, não quero acrescentar nem mais um pingo de coisa alguma que é para não faltar nem sobrar nada. Para que tudo possa continuar assim, na medida.
Eu acredito, hoje, em um tipo de amor que eu não acreditava. Eu quero, hoje, coisas que eu nunca imaginei querer e tenho vontade de gritar pro mundo o quanto eu sou feliz por sentir isso tudo. Hoje me sinto mais viva, muito mais viva. Você chegou.
E é por isso que hoje eu me sinto outra pessoa. E eu quero me conhecer mais, te conhecer mais e ir até o nosso limite, conhecer mais a mim e a você juntos, porque é assim que eu quero a minha vida. A minha nova vida. Com você.
Eu te dou o meu coração. Eu te entrego todas as minhas crenças. Hoje, agora. Sim, eu acredito em amor de novo, eu acredito em você, em mim, no nosso futuro, acredito nas palavras meigas que você me fala e acredito que eu posso ter um final feliz. Porque você me faz acreditar em tudo de novo. Você é a minha coisa bonita e maravilhosa. Eu amo você.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Why so serious?

- Porra, tu tem que levar tudo tão a sério?

Foi assim que Tiné me chamou a atenção, visto que eu tinha ficado emburrada depois dela fazer piada. Foi então que eu concordei "tenho", ainda com tom emburrado. E ela nem sabe, mas naquele momento meus olhos encheram de lágrimas. Desculpa, minha amiga, não é que eu tenha que levar tudo tão a sério. Mas a culpa não é minha. 
Primeiro, como não levar tudo tão a sério se eu tenho minhas contas pra pagar, os prazos pra entregar, a saudade dos amigos pra administrar, os finais de semana pra perder, o sono acumulado para esquecer, a tendinite para curar, a unha que tem que fazer, a sobrancelha que não para de crescer, os cabelos que preciso aparar, as medidas que é preciso perder, preciso passar naquela lojinha do centro para ver cor de lustres e escolher o novo sofá da sala com a minha mãe.
Como não levar tudo tão a sério se ultimamente a única luz que tenho visto é a do monitor do computador? Como não levar tudo tão a sério se há anos não vejo alguns amigos e que sempre ficamos no 'vamos marcar' mas as atribuições de gente grande acabam nos roubando as coisas mais importantes? Como não levar tudo tão a sério se o trânsito não para, se o atendimento da TV a cabo é uma droga e se eu ainda nem tive tempo de ver a filha de uma das minhas melhores amigas que nasceu há quase... três anos?
A vida é séria, minha amiga Tiné. E eu peço desculpas. Desculpas a você e a todos os meus amigos que não tem visto meus sorrisos, que não tem conseguido ter minha presença nos aniversários, casamentos e batizados. Desculpem a ausência, a demência e a ignorância. Acho que me tornei uma pessoa séria.
E hoje deu tanta saudade. Saudade dos dias que a gente dormia à tarde, com o sol laranja entrando pela janela do apartamento. E que depois era a hora de se arrumar para a festa. Festa. Faz tempo que eu não vou a uma festa. 
To com saudade dos meus amigos. A vida amorosa da minha melhor amiga tá um caos. To com saudade dos domingos à tarde, saudade  das madrugadas dos sábados e das sextas. Das sextas sinto muita saudade. To com saudade de dormir o dia inteiro, saudade de dizer 'passa aqui em casa, to de bobeira' e rir, rir, rir. Porque desculpem aos que se rendem, mas eu não gosto de levar as coisas tão a sério. Eu não sou tão séria. Desculpem a ausência, eu prometo que vou voltar.
Esse não é um texto de amor. É um dos únicos, talvez o primeiro, em que a realidade é o tema principal e que o lúdico não teve vez. Talvez esse seja um texto sério demais. Mas também preciso ser justa e dizer que nos últimos dias apareceu um príncipe na minha vida que me tem roubado sorrisos e que com ele eu não consigo ser séria demais. Confesso, sem medo, eu confesso que esses momentos são os únicos que conseguem me manter lúcida. Droga. Acabou virando um texto de amor. Que seja. Chega de seriedade, eu quero voltar a gargalhar.

domingo, 25 de março de 2012

avenida principal

Ele morava numa avenida bem movimentada, uma das principais da cidade. Sofia, então, comprou um mapa da cidade e começou a tentar caminhos alternativos que não a levassem a olhar a varanda, a janela do quarto, ver um pedacinho do teto e do lustre da casa dele. Passar na frente da casa de Téo era como passar na frente de um cemitério. Não dava para fazer isso sem sentir, ao menos, um calafrio.
E foram meses nessa fuga incansável, nesse dom de desviar os sentimentos, as sensações e a saudade. Se passava, não olhava. Se via, fingia que era engano. E o tempo foi passando e Sofia foi se acostumando a olhar pra baixo toda vez que passava por aquele prédio verde naquela avenida movimentada.
Até que um dia Sofia esqueceu. Esqueceu que o prédio estava lá, continuou, empolgada, cantando Caetano dentro do carro e quando viu, já tinha visto o prédio. E aí foi a surpresa: ela não sentiu nada. Nem arrepio, nem sentimento de angústia, nem medo.
O significado das coisas pode mudar. Não a importância, mas o significado. Foi quando Sofia percebeu que naquele prédio, naquele terceiro andar, naquele apartamento ela já tinha depositado a sua vida inteira. E hoje, naquele momento, só restava uma coisa: saudade.
Sorriu, continuou a cantar a música e voltou a frequentar a avenida principal.

sábado, 24 de março de 2012

Sofia olhou para o corpo dele adormecido ao seu lado, passou as mãos nas suas costas, deu um beijo em sua nuca e pensou 'ele é meu'. 



segunda-feira, 19 de março de 2012

Sofia era corajosa para muita coisa, mas tinha um medo tremendo de coisas simples. Não gostava de ouvir pequenas verdades por exemplo. Tinha medo de ver as horas quando já passava da madrugada. Tinha medo de ligar os aparelhos eletrônicos na potência máxima. E tinha medo de rever pessoas, coisas, objetos que a fizessem sentir saudade, nostalgia, vontade de voltar no tempo e se reencontrar.

alianças vagabundas

Mas eu não te conheço de algum lugar? Não sei, as vezes eu acho que você guarda um segredo e que se essa história de sistema toda existir você deve saber do que acontece por trás das câmeras. Ou você sabe, apenas, o que acontece dentro de mim. Você desvenda meus pensamentos, minhas razões, minhas angústias e meus desejos mais íntimos. Você, menino. Você.

Foi isso que Sofia escreveu pra ele no bilhete amassado que agora ele lia em voz baixa. Sozinho, no quarto de dormir. Ele olhava as fotos na parede. Aquela viagem para Buenos Aires com preço promocional, o reveillon em Bangladesh. As alianças vagabundas compradas na feirinha hippie de Porto de Galinhas e o amor estampado no sorriso dela. Tudo aquilo tinha sido trocado pela "necessidade de liberdade, conhecer outras pessoas, quem sabe a gente se encontra, te amo, marcos, não tem nada a ver com amor" etc que Sofia tinha dito antes de ir embora. 
Há dois meses o coração dele também esperava que ela voltasse. Esperava que ela entrasse pela porta, como se nada tivesse acontecido, e que começasse a reclamar da bagunça daquela casa sem ela. Que começasse a tentar limpar os farelos velhos que estavam em cima da mesa e que reclamasse dele parecer um mendigo com aquela barba mal feita.
Ela, ironicamente, ao contrário do que Marcos pensava naquele instante, não estava numa festa e nem nos braços de outro homem. Ela estava na casa dos pais - pra onde jurou que jamais voltaria após fugir de casa com Marcos há uns 4 anos - deitada na cama, pensando nesse vazio que essa liberdade dá. Afinal, do que adiantava Sofia ter o mundo todo à disposição se a única pessoa que interessava era ele?


e o mundo vai dar voltas sobre voltas ao redor de si.
até toda a memória dessa nossa história se extinguir
e você nunca vai saber de nada do que eu senti
sozinho no meu quarto de dormir.

Arnaldo.

domingo, 18 de março de 2012

Foi, foi sim eu errei. Sim, eu sei, foi um erro grande, sim. Não, eu não acho que você deva me perdoar e nem acredito que você queira. Acho que seria mais fácil se alguém aqui sentisse qualquer coisa que não fosse amor. Sim, sinta raiva de mim.
E enquanto os erros e a raiva te fazem não querer me ver pintada de ouro, a nossa cena se repete na minha cabeça infinitas vezes. E, pra mim, estamos ainda naquela festa em que o meu vestido era colorido e até o teto do carro mudou de cor. De novo, de novo, de novo. A cena acontece de novo na minha cabeça e eu te pergunto se seria isso o que chamam de eterno. É terno.
Eu te perdi.
Você vai me perder.

domingo, 11 de março de 2012

So Duda.

'E todas as vezes que o amor mandar me buscar eu vou, Olga. Eu sou assim'
E foi com essa frase que comecei a pensar sobre o que eu sou e, principalmente, sobre o que eu represento para as pessoas, sobretudo meus amigos.
Corações, palavras de amor, crença no eterno. Todas essas babaquices são 'tão duda'. Escuto essa expressão tantas vezes por dia. Me derreto com casamentos, com relacionamentos, com alianças, promessas, músicas e poemas. E escuto dos meus amigos que sou besta, romântica, boba e ingênua. Escuto que também sou burra.
Acontece que dentro de mim tem alguém que acredita cegamente no amor. No amar, no ato de amor. Acredita que amar é uma construção de sentimentos, de escolhas, de palavras, atos, gestos, sorrisos. Por isso eu tento deixar a vida  de todo mundo ao meu redor um tanto mais amável.
E é assim que eu amo. Com todo o coração, com toda a minha alma. Eu ligo o foda-se para o medo. Todo mundo tem medo. Mas eu tenho mais medo mesmo é de não amar.
Eu sou assim, sim. Eu me entrego de vez, eu mergulho de cabeça, eu crio tatuagens no meu coração, escritas poéticas e dramáticas. Eu imagino um casamento, eu imagino uma família, eu concretizo o amor com carinho, cafunés e abraços. Porque a minha alma é forte e aguenta duas,três ou quinze desilusões, mas ela não aguenta um minuto sequer de solidão.
E é por isso que, neste texto, hoje e agora eu sou Duda e não Sofia. Eu sou eu, crua, vulnerável e nua. Sou eu e meu coração prontos pra enfrentar mais um desafio. E eu escolho ir em frente. Eu escolho arriscar.
Que venha mais um amor, que venha mais uma dor. E, se for o caso, que venha a eternidade.

sábado, 10 de março de 2012

Ela comprou óleo perfumado para banho, comprou hidratante para o corpo, condicionador com cheiro de rosas. Ela foi no salão, fez unha da mão, pé, depilação e escova no cabelo.
Na volta pra casa, viu uma lojinha com um vestido lindo, de princesa. Ela comprou o vestido, calcinha e sutiã.
Ele não ligou.

quinta-feira, 8 de março de 2012

segredos de liquidificador.

Eu amo você.
Eu te amei desde a primeira vez que eu te vi. Desde que eu cruzei meu olho com o seu e te achei tão bonito. Você destoava no meio da multidão e eu, inexplicavelmente, quis ficar perto de você. E a gente ficou perto, a gente ficou junto. E foi assim que tudo começou. Simples, fácil, de verdade.
Já me despedi de muita gente nessa vida, mas nunca me despedi de ninguém que não quisesse se despedir de mim. Isso, meu amor, isso eu devo a você. Você me ensinou a pensar em mim e por mim. E é por pensar assim que a nossa história pausa, que o nosso filme desacelera e o mocinho e a mocinha se separam. E é desse vínculo tão bonito que eu me vejo tão crescida. Eu cresci com você. Eu cresci por você.
Imagino que um dia a gente possa se encontrar de novo, rir desse tempo e contar as bobagens. Talvez nesse dia, nessa hora, a gente possa seguir junto no mesmo compasso, a gente possa querer a mesma coisa ao mesmo tempo.Mas se você quiser comer tapioca e eu quiser tomar sorvete, aposto que a gente acha um canto que tenha as duas coisas juntas. O mundo é grande, terá lugar para nós dois.
Há muito tempo eu não chorava por ninguém. Hoje, nesse instante, eu choro por você. Choro por tudo que a gente deveria ser e não é, choro por tudo que a gente tinha pela frente e o tempo, deus malandro, nos tirou.
Mas um sorriso me convence que além da despedida há o encontro. Nós nos encontramos, nós estamos juntos. Não vai ser fácil mudar o roteiro, mas com paciência a gente consegue.

que só eu que podia, dentro da tua orelha fria, dizer segredos de liquidificador...

sábado, 3 de março de 2012

our meeting

E me chegou tão bonito. Com seus olhos de criança, me puxou pela mão, me envolveu toda. Mexeu com o corpo, com a alma e o coração. Me deu de presente um espelho e fez com que eu enxergasse melhor. Me deu uma música e vários sorrisos. Foi bom.
Eu te ofereço o mundo. O meu e o de fora de mim. Para que você percorra todos os lugares, dance todas as músicas, beba todas as doses e depois corra pros meus braços pra me contar.Que você aprenda a falar 24 dialetos diferentes e que jamais se canse de se apaixonar. Se apaixone por todas as anas, beatrizes,luisas, amandas e letícias. Mas que nenhuma delas te faça esquecer de mim.
E que tudo isso possa se repetir num looping eterno de sorrisos e olhares.Desse nosso jeito estranho, tão estranho que quando a gente se conheceu parecia que a gente tava se reconhecendo. Porque conhecer você a cada dia é também me conhecer melhor.
E eu reconheço o amor em nós dois. Na euforia, no nosso encontro, na nossa paz. Porque no mundo há muita gente que você pode amar, mas são poucas as pessoas que tentam embelezar a vida de outras de uma forma tão bonita como você embeleza os meus dias.
O nosso encontro, a nossa história, os nossos versos.
Nós somos o amor.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Tarde demais.

Chegou em casa do trabalho morta de cansada. Colocou uma garrafa de vinho para gelar, tomou um banho e colocou aquela velha camiseta. Ligou o som da sala, há meses ela não usava o som da sala. Escolheu Caetano. "Deixa eu dançar pro meu corpo ficar odara. Minha cara, minha cuca ficar odara. Deixa eu cantar que é pro mundo ficar odara, pra ficar tudo joia rara" e Sofia foi rodopiando até a cozinha, pegou uma taça, abriu a garrafa de vinho. Se jogou no sofá, fechou os olhos. Ficou odara.
Duas da manhã, o cd de Caê já tinha tocado inteirinho. Ela foi recolhendo os pacotinhos vazios de torrada que tinham servido de tira gosto emergencial. E aí o telefone da casa toca. O telefone de Sofia era desses telefones antigos que a gente gira o disco para escolher o número, sabe? E era pesado também. Era laranja, mas o tempo desbotou para bege. E tocava fazendo trim trim, nada de musiquinhas da moda. Ok, o telefone tocou às duas da manhã. E aí Sofia pensou em três opções: poderia ser um trote, poderia ser um golpe ou poderia ser morte. Portanto, atendeu tensa, firme e seca.
- alô
- Sofia?
Engoliu seco. Há meses ela não ouvia aquela voz. Há meses ela não escutava aquela voz chamando o nome dela. Sim, era ele. Ela ficou calada um tempo.
- Ainda tá aí?
- Oi, Téo.
Téo começou a conversar amenidades. Sofia logo estranhou.
- Téo, alguém morreu?
- Não, não. 
- E o que é isso? 
Foi então que Téo começou a falar do vazio, da falta dela, do medo de ficar sem ela e ser sozinho pra sempre. E falou que era muito triste se sentir estagnado no tempo e que sentia falta dos planos deles e que andava pensando sobre como estariam se ele nunca tivesse ido embora. E ele também disse que dia desses alguém passou com o cheiro dela, que ele havia lembrado daquela hora do dia em que ela chegava na cama com o cabelo molhado, cheirando a alfazema, dava um beijo nele de bom dia e saía para o trabalho. E ele também disse que sentia falta do café com leite dela, do cafuné dela, do pé dela encostado no dele. E de abraçar, de beijar e de viver com ela.
Sofia ouviu tudo com atenção e amor. Téo não era de falar muito e não era de dizer o que sentia. Mas, naquela noite, ele disse coisas que ela jamais imaginou que ele diria. 
Sofia tinha esperado por meses que Téo invadisse a sua casa, que pedisse pra voltar. Todos os dias, antes de dormir, ela passava perfume no pescoço, para se caso ele aparecesse pela madrugada e a abraçasse, sentir o seu cheiro. Mas agora, vendo aquilo tudo sair da boca dele, ela viu que já tinha extrapolado o tempo. Ela viu que não dava mais pra acreditar que um recomeço pudesse acontecer.
Com a voz mais doce que conseguiu, Sofia disse clara e cuidadosamente
- Téo, é tarde demais.
Desligou o telefone sem dizer adeus. Uma nova fase começava e o sol das cinco da manhã invadiu o apartamento.

- Alô.
- Oi, sou eu. Por que você nunca atende o celular de primeira?  To te ligando há horas, querendo que você me escute, olha, to com um problemão, to precisando de ajuda.
- Se eu não atendi, eu estava ocupado, Sofia. Jesus, quando você vai entender que eu não vivo 24h para você?
- Ai, mais eu bem queria que você vivesse, viu? Eu ia evitar de fazer tanta besteira. Escuta, vou te contar a minha história do começo e aí você vai opinar sobre o que eu devo fazer certo?
- Certo.
- Então, tem esse cara, eu conheci ele por uma amiga e..
- Eeeeeeeeeei! Encontrei a Marcela ontem. Lembra da Marcela? Aquela que estudou com a gente na primeira série?
- A Marcela estranha ou a Marcela que tinha um estojo rosa?
- Acho que era a estranha.
- Ok, ok, mas vamos voltar pra minha vida, porque eu já disse, tá um caos, você precisa me ajudar a resolver.
- Tá, conta, você fica enrolando.
- Eu fico enrolando, João? Eu to aqui há quarenta minutos tentando te fazer me ouvir. E você fica falando da Marcela tal, da outra Marcela, dizendo que eu não posso contar com você 24h por dia etc
- Epa! Eu não disse isso. Eu disse que eu não vivo 24h por você, mas você pode contar comigo 24h horas por dia, sim. Se sua causa for mais importante, eu largo o que eu tiver fazendo para te ajudar.
- Tipo hoje que você não atendeu o telefone?
- Ah, mas hoje a minha causa era mais importante.
- E qual era a sua causa?
- Sabe a vizinha do cachorro? A que tem que descer de escada porque o cachorrinho dela não vai no colo de jeito nenhum?
- Arram, a que usa um perfume insuportável? Sei.
- Então... Ela veio aqui hoje.
- Fazer o quê? Ai, meu deus! Vocês? Vocês...? Conta tudo!
- Ai, eu não vou contar essas coisas pra você, Sofia. Depois você sempre tira sarro da minha cara.
- Não, não tiro.
- Sô, meu pai tá me chamando aqui, ele quer que eu ajude ele a pendurar uns quadros na parede. Desculpa sair na pressa, espero ter te ajudado aí com seus problemas.
- Tá bom, João. Manda um beijo pro Tio!

O pior é que tinha ajudado mesmo. Há dias em que nada é mais orientador e confortante do que a voz do seu melhor amigo.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

by, crashers

Dentre todas as minhas características, a minha maior qualidade é também o meu maior defeito. Não, não é uma entrevista de emprego e não vou chatear ninguém com o velho clichê 'sou perfeccionista'. A minha maior questão é ser protetora. E, entre proteger meus amigos, meus amores, minha família etc, eu também sei me proteger muito bem.
Na verdade, aprendi ao longo da minha minúscula vida que na nossa estrada aparece todo tipo de gente. Mas não é todo mundo que merece e deve entrar na sua vida, deitar na sua cama ou tomar do seu café. Tem que escolher muito bem quem entra na sua sala. E, de verdade, sempre soube escolher muito bem. A maior parte dos meus amigos são meus amigos há, no mínimo, cinco anos. Já deu tempo de deitar na cama, tomar café e mais um monte de coisa. Eu os conheço bem.
Acontece que em um momento frágil deixei a porta aberta. De repente, era uma festa. Tinha gente bebendo do café, do chá, do leite. Gente deitada na minha cama, no corredor e no sofá. Gente que eu nunca tinha visto na vida, mas que dizia 'calma, duda, somos amigos'. E eu, de trouxa, acreditei.
Entraram na minha vida, me ouviram, souberam das minhas coisas, do que eu sentia e pensava, pelo menos por um instante. O que eu não sabia é que, na verdade, enquanto eu achava que era uma festa, era uma cilada, bino.
Acho que tá na hora de varrer a casa. Então, vamos lá, todos vocês que por acaso acham que me conhecem e que podem deduzir atitudes, sentimentos e, minha nossa, minha índole, um abraço e até nunca mais. Eu não preciso de vocês, sabe por quê? Vocês não precisam de mim. Não precisam do meu carinho, da minha sinceridade, da minha gentileza e nem do meu sofá, meu café, meu queijo, minha cama.
Tá na hora de limpar a sujeira e arrumar a casa. Tanta gente do lado de dentro que acabei deixando algumas boas pessoas do lado de fora.
Não se enganem comigo. Eu posso estar rindo ou chorando, mas é preciso enxergar bem mais do que isso para saber o que eu to sentindo.
Eu não preciso mais disso. Respiro. Um, dois, três. A casa está vazia.
Vou sair para comprar flores.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

nêga day.

Minha rainha, minha vida, minha preciosidade, minha nêga. Hoje é o seu dia e eu quero declarar o meu amor por você. Foi um dia tão corrido que nem consegui te deixar aquele velho bilhetinho na sua cama, tradição que carrego desde criança. Mas as coisas mudaram muito. O último ano foi o maior pra mim e foi o ano em que eu tive que virar gente grande. Por isso, mãe, hoje, enquanto todos estavam comendo e bebendo ao redor daquela piscina, eu estava trancada no quarto trabalhando.
E é com muito orgulho que eu me olho no espelho hoje e vejo o quanto batalho, o quanto sou esforçada, honesta e franca. Todos esses atributos devo a você. Confesso que as vezes penso que a gente tá distante. Mas quando a gente senta na mesa, toma aquele copo de cerveja e conversa sobre a vida, eu entendo que esse tal de laço materno é algo que ninguém consegue explicar nem desvincular. Muito menos se afastar. Ainda mais nós duas que sempre fomos unha e carne, arroz e feijão, corda e caçamba e o que mais tiver de nome para definir pessoas que não se largam.
Algumas pessoas falam sobre a minha obsessão por você. Dizem que sou muito ligada, que isso pode me tornar dependente para sempre. Eu discordo. O meu problema, se é que isso é um problema, é que eu declaro  o meu amor de forma escancarada e quando você não atende o telefone e eu banco a filha neurótica ligando cem mil vezes é porque você é o meu mundo inteiro e tudo que eu mais amo na vida está em jogo quando o assunto é você.
Parabéns a você por ter tanta capacidade de amar. Obrigada por cuidar de mim com tanta garra, força e dignidade e ter me transformado em alguém decente. Obrigada por me deixar até hoje correr para sua cama quando tenho pesadelo e me dar xarope na boca já que se você não fizer isso eu não me levanto para tomar. Obrigada, principalmente, por entender as nossas diferenças e me respeitar, aceitando cada pedacinho meu em seu colo. E obrigada por me poupar do 'eu avisei' todas as vezes que eu faço besteira. Você apenas chora junto comigo.
Toda vez que me perguntam do que eu tenho mais orgulho na vida, minha resposta é: minha mãe. E após todos esses anos, hoje, exatamente hoje, eu só tenho duas coisas a te dizer: parabéns pela batalha e obrigada pelo amor.
Te amo, minha vida.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

what changed?

E lá estava ele. Camisa que o tio trouxe de nova iorque, tênis luxuosamente simples, calça comprada na lojinha de marca que vendia roupas que pareciam ter sido compradas na feira. Copo de uisque na mão. Barba mal feita. Tudo milimetricamente calculado para parecer despojado. Foi chegando com ar de quem era foda, fo-da. Viu um grupo de rostos conhecidos e começou a se expandir, contando piada e passando a mão no cabelo das meninas.
Foi então que, quando olhou de lado, ele a viu. Ela estava sentada na mesa, com os velhos amigos de infância dela, um vestidinho que ele tinha dado há uns dois anos e aquela velha sandália rasteira de couro, que ele odiava. O cabelo dela estava um pouco diferente, mas ele sempre confundia se o que tinha mudado era a cor ou o tamanho. E ele lá, parado, observando ela fazer aqueles mesmos atos que ela sempre fazia. Só pelo movimento de suas mãos podia saber que ela estava contando aquela história da bebedeira  em buenos aires. E ela jogou o cabelo pra trás, o enrolou com um elástico e voltou a se debruçar na mesa, sorrindo.
E ai ele começou a ficar com vergonha. Vergonha da camisa de nova iorque, vergonha do tênis pseudo-alternativo-de-marca, vergonha da calça rasgada pela loja e da barba cafajesticamente mal feita. E depois da vergonha veio a saudade. Saudade daquela simplicidade dela, daquele sorriso dela, daquelas histórias dela.
E depois da saudade veio o choro. Tardio, ardente e doloroso. Demorou, mas a falta dela chegou.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

I dont love you more.

Eu não amo mais você é uma frase muito mais difícil de ser dita, e até pensada, do que o seu contrário. Não amar mais é encerrar todas expectativas, possibilidades. Até porque nós sempre amamos. Como amigo, amiga, ser humano, irmão. É sempre amor, mesmo que mude.
Porém, nos limitando ao amor carnal, ardente e apaixonado, digo-lhes com toda a certeza; eu nunca disse que não amava alguém. Nunca, nunca mesmo. Se disse foi da boca pra fora e peço desculpas aos envolvidos. Eu sempre acho que amo para sempre.
Acontece que é muito mais fácil nutrir, alimentar e até estimular esse amor. Mesmo que ele te faça sofrer, mesmo que te faça chorar. Amar alguém que não ama você e resistir ao estímulo desse sentimento é mais comum do que todo mundo pensa. É mais fácil estar com esse amor não correspondido dentro do peito do que estar sem nada.
Então, ok, vamos lá. Eu...não...amo...mais...você. Sim, eu amo e amo muito. Mas não daquela forma. Não mais. Sim, eu estou feliz agora e estou sozinha. E não é ruim ser só, sabia? É bom aprender a ser só, individual e egoísta, é bom pensar que estou completamente disponível às possibilidades. Não vamos nos casar, não vamos ter cinco filhos, não vamos estar velhinhos sentados em cadeiras de balanço.
Antes, antes eu pensava que você era o ser mais bonito e incrível do mundo. Te coloquei em um pedestal, alimentei idolatria e me fiz inteiramente sua. E hoje eu percebi que sim, você é incrível. Mas não é o único ser que é, entende? Tem muita gente bonita, sensível, incrível no planeta.
Não tô comparando você, por favor, não fique bravo. Eu não quero que ninguém aqui fique bravo, ok? Eu só to dizendo o que eu já deveria ter dito a mim mesmo há muito tempo. Não há mais paixão, não há mais amor. Eu sou livre.

Parafraseando Caio Fernando Abreu, digo que vou colar um eu te amo no espelho. Sim, é para mim.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

isso é pra viver.

E aí que hoje eu vi os teus amigos, os nossos amigos. E parecia tudo tão diferente, mas ao mesmo tempo tão igual. E aí me deu tanta saudade, sabe? De repente me deu saudade da hipótese de estarmos todos ali, todos juntos e felizes, as vezes fingindo ser felizes, é verdade, mas todos juntos. Me deu saudade das nossas conversas e eu tive uma sensação tão errada. Tive, de novo, aquela impressão de que tudo tava errado, que as coisas não estavam se encaixando e que tava todo mundo fora de si. Uma saudade, uma nostalgia e uma lembrança daquele final de semana em Paquetá.
E aí veio Otto e cantou que "Nasceram flores num canto de um quarto escuro" e é assim mesmo que eu me sinto, sabe? Eu me sinto uma sobrevivente, uma planta que nasce no canto de um quartinho esquecido e sem luz. "Mas, eu te juro, meu amor, são flores de um longo inverno" e aí ele completou, me fazendo lembrar que eu vivi um grande luto até aqui e que eu posso até estar feliz agora, eu posso até gostar de alguém, eu posso passar dias sem pensar em você, mas eu jamais vou esquecer desse longo inverno.
Apesar de tudo, de saber, inclusive, que eu sou muito mais feliz sem você, eu tenho saudade da nossa felicidade mesquinha e pobre, da felicidade pequenininha em que o mundo era só nós dois.
Você faz falta.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Ando pela rua a te chamar
Mas na verdade, tanto faz
Porque visto as frases que você me deu
Mas elas não me servem mais
O que aconteceu com seu futuro que era o meu?
Agora não adianta mais me responder
(nem venha me dizer)
Quem passou do ponto onde era longe
E de que jeito era o certo
Porque minha dor sempre se esconde
Mas nunca sai de perto
O que aconteceu com meu futuro que era o seu?


Moska.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

the last.

Pelo quarto ano seguido se encontraram no bar da esquina. Na rua, o trânsito gritava ao som de buzinadas impacientes. No bar, rostos velhos e conhecidos. Estava claro, não era mais um bar de calouros, eles já eram a velha guarda. Em pensar que há quatro anos nada era tão conhecido e comum assim.
A convivência diária os fez compreender que qualquer pessoa do mundo merece o seu respeito e, se possível, a sua compreensão. Fumantes, caretas, gays, héteros, católicos e ateus. Tinha de tudo, sem clichê, tinha mesmo. Mas o que quase já não havia eram os rastros de quem eles eram nos anos anteriores. Os sonhos, as conversas, as roupas e as expressões. Se colocassem as cenas em paralelo, poderíamos dizer que eram cosplays deles mesmos, com um estilo parecido com alguém que existiu há anos atras. A tolerância também aumentou, a pouca vergonha dilatou e o pudor diminuiu. Hoje, naquele instante, eram mais eles do que jamais tinham sido. E não precisavam falar exageradamente sobre si nem fazer perguntas incansáveis sobre o outro, pois o que precisavam saber, já sabiam. Estavam numa fase tão bonita e tão madura que o silêncio bastava.
E conversavam não apenas sobre as aulas, mas sobre dinheiro, aluguel, namoro e preço da gasolina. Conseguiam manter conversas que só faziam sentido pra eles mesmos e que dentro daquela bolha em que viviam eram as melhores conversas da Terra. E foi assim que resolveram não entrar, resolveram tomar uma, duas, três, sete cervejas, conversar bobagens e fazer silêncio. E foi dessa forma que começou a última temporada deles juntos. O último melhor ano de suas vidas.

Apesar da minha fama melancólica e da minha insistência em ser alguém dramático, foi há quatro anos que conheci a família que eu escolhi pra dividir a coisa mais preciosa que tenho na vida: quem sou de verdade. Entre gargalhadas e dias ruins, o meu dia acaba mais feliz por encontrar essas pessoas 6 vezes por semana. Através deles conheci amigos, conheci lugares, músicas, filmes e cores. Mas conheci, principalmente, a mim mesma e descobri a minha capacidade de amar incondicionalmente. 

sábado, 21 de janeiro de 2012

Nessa cidade agora chove. Chove até granizo. E não tem nada de você aqui. Não tem seu cheiro, não tem seus lugares prediletos, não tem seus amigos. Mas, mesmo assim, eu te procuro a cada esquina. Penso que por acaso eu posso esbarrar com você por, sei lá, um milagre, uma façanha do destino, uma conspiração sua. E eu olho, atentamente, para todos os meninos que passam ao meu redor. Não, nenhum deles é você e nenhum deles pode me dar o que você deu.
À noite, peço aos bons espíritos, a deus, a iemanjá, a qualquer coisa, pra te proteger. Sei lá, eu ainda não tenho tanta certeza se você consegue, de verdade, viver sem mim.
Um amor imenso, um amor tão grande e sincero que nem mesmo milhares de km podem diminuir o que eu sinto. Não importa em que lugar eu esteja, não importa o tamanho da nossa distância.
Meu mundo é só meu e eu dei ele pra você.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Lembrar de mim, de você, das crises de riso, das expressões de raiva, de choro. Lembrar da fase mais movimentada do meu coração. Raiva, ciúme, saudade, paixão. Era tudo tão junto, tão presente. E hoje, o que mais me dói é me olhar no espelho e ver que você tá sumindo de mim. As músicas, os filmes, a marca da cerveja, tá tudo meio mudado e cada vez mais as coisas que eu faço, gosto e quero são diferentes das coisas que a gente já dividiu um dia. Não faz mal. Aqui dentro, meu bem, aqui dentro você ainda é presente. Todo dia, sem exagero, é dia de pensar em você. E eu penso, lembro, sorrio, as vezes choro. E as vezes eu pego uma foto nossa e vejo toda aquela completude, aquele nosso jeito de ser feliz como se o amanhã não existisse.
Se tiver pensando em mim qualquer dia desses, pensa com muito amor e tenha a certeza que esteja onde estiver, vou sentir um arrepio bom, desses quando você lê uma coisa bonita ou escuta uma música boa. E aí, se não tiver nenhuma música tocando ou se eu não tiver lendo nenhum livro de romance, e ainda assim eu sentir aquele arrepio, eu vou ter certeza que é você pensando em mim, em nós.
E eu to indo pro mundo, meu bem. Essa coisa de me guardar até você voltar não tá dando muito certo. Minhas intuições começam a concordar com a minha razão. Não, você não vem. Então tá, tudo certo. Pense em mim com muito amor, lembre-se sempre de que as estrelas são as coisas mais lindas e ganhe esse mundo. Também vou ganhar. Mas, ó, guarda esse segredo: tenta aparecer qualquer dia, tenta me surpreender. Pois pode passar o tempo que passar e pode vir quem quer que seja, mas eu vou olhar pro mundo inteiro procurando por você.

domingo, 1 de janeiro de 2012

tudo novo de novo

5, 4, 3, 2, 1. Sofia olhou os fogos de artifício invadirem o céu. Estava rodeada de pessoas, mas naquele momento se sentiu só. Não, não foi uma solidão ruim. Ela se sentiu bem com ela mesma, de uma forma mágica. Só ela sabia tudo o que tinha passado naquele maldito ano. Quantas lágrimas caíram, quantas angústias, quantos pesadelos. E aí ela viu uma nova página se abrir à sua frente. Era um novo ano e Sofia poderia ser quem ela queria ser, afinal, tudo, tudo mesmo, agora era passado. Era tudo novo de novo.
Chegou em casa perto do amanhecer, tomou um café sem açúcar, pois agora iria fazer regime. Olhou o sol irradiar o seu bairro.
 Acordou às duas da tarde, com o sol queimando seu rosto. Tinha dormido no sofá, por cima de um braço e estava com uma dor terrível no pescoço. Correu, foi olhar-se no espelho. Não parecia mais magra, nem mais bonita. Olhou sua carteira, nada de ser mais rica. E tudo o que pediu na tal virada do ano?
Quem sabe no próximo reveillon. Neste, pelo menos, tudo continuava como sempre foi. Sofia ainda era a mesma.