quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

dois mil e nove


A propaganda do banco já profetizava o que seria desse ano, pelo menos pra mim. Foi, sim, o ano das inovações, das novidades, das realizações, dos inícios e principalmente o ano das perdas e dos ganhos. Perdi objetos pessoais, perdi lágrimas que caíram de raiva e de dor, perdi antigos contatos - alguns até que só mantia por conveniência, perdi antigos hábitos, perdi a minha antiga rotina, perdi a farda do colégio, perdi meu avô - quero enfatizar que a dor ainda é algo imensurável e intragável e que a saudade me sufoca desde então, perdi uma caneta que eu gostava muito, perdi um antigo celular. Ganhei novos ares, uma nova rotina. Ganhei o título de 'universitária', ganhei um monte de gente nova, ganhei novos hábitos, ganhei novos fatos, ganhei novos sentimentos, novas cores, novos gostos. Ganhei ainda algumas pessoas que eu já tinha, mas que mostraram o quanto são fiéis e o quanto, apesar do tempo, ainda as terei sempre por aqui. Ganhei maturidade, ganhei espaço, ganhei sorrisos, ganhei perdão, ganhei saudade. Ganhei a certeza de que a morte apenas transfere o nosso amor para o infinito, onde não podemos ver, mas sentimos sempre. Ganhei força, ganhei perfumes, ganhei esperança, ganhei amor. Ganhei livros, ganhei músicas, ganhei palavras, ganhei abraços. Ganhei muito mais do que perdi, me tornei alguém muito melhor, me fiz de novo, retomei algumas coisas, renovei outras, fui feliz. A fé está em mim, em alguma coisa - não sei bem em quê- e é com ela que sigo, com a esperança de desenvolver nos próximos meses tudo que eu aprendi nos últimos. E que venham mais perdas, mas ganhos. Mas que venha tudo, tudo de bom.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

amantes futuros


"Pra que estrela está olhando?" "Para aquela dali, a que brilha mais" "E o que você tá pensando?" "Nas estrelas, oras". Sofia puxou a mão dele para perto e fez com que ele a abraçasse, ele beijou o seu ombro. "Prefere nuvens ou estrelas?" uma pausa de alguns segundos "Não sei, elas se completam tanto, não consigo imaginar nuvens sem estrelas, nem estrelas sem nuvens" "As estrelas ficam sempre ali, presas, sendo fundo para as nuvens passarem". Ela girou ao encontro dele, olhou cada detalhe. Fechou os olhos. "Você tá chorando?" "Eu estou feliz". Numa cidade tão grande, com tantos milhares de habitantes, em um bairro lotado, uma rua movimentada. Na varanda do terceiro andar, mais precisamente no chão, havia amor. E muito amor. Entre tantos outros, ali eles se amavam. Eles não viram, mas enquanto se abraçavam uma estrela cadente passou no céu e ouviu o desejo dela "eu vou amar você sempre". E amou.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

"

As mãos suavam. Passou as mãos pelo vestido, do busto à cintura, conferindo se estava tudo certo. Respirou fundo, tocou a campainha. Ouviu um barulho que vinha de dentro do apartamento, alguém andava rapidamente, também remexia alguns objetos. "Deve ter perdido a chave", pensou, sem perceber que o fato de ainda lembrar como ele era atrapalhado e esquecido a aliviava. Ouviu a chave girar a fechadura e apertou as mãos com força - como sempre fazia quando estava prestes a qualquer coisa. Mil pensamentos passaram pela sua cabeça naqueles segundos, ela sentiu aquela vontade de desistir, só que não dava mais tempo. Finalmente a porta se abriu e em sua frente estava ele, com um sorriso completamente amarelo e sem graça. Ela pulou em seu pescoço, o deixando sem jeito, o abraçou com muita força. "Que saudades de você" disse, tentanto quebrar o silêncio constrangedor. Se afastaram, ela entrou no apartamento. Era tudo meio bagunçado, mas tinha bem a cara dele. Na sala havia uma enorme estante com livros e cd's. Ela sentou sem cerimônia no sofá, ele sentou numa poltrona ao lado. "Então...Tanto tempo, né?" "É... A última vez foi antes de você viajar. Três anos?" ela concordou, "Três anos. Eu volto e você está adulto, morando sozinho, com... - pegou um porta-retrato que estava em cima da mesinha e olhando para ele continuou - com uma namorada loira... Pensei que você não gostasse de loiras" Ele riu com indiferença "Agora não gosto de ruivas". Sofia o fuzilou com os olhos "Você aderiu às loiras porque são burras e mais fáceis. As ruivas são mais inteligentes, é difícil você se encaixar no nível" ele se levantou da poltrona e sentou junto a ela no sofá. "Ah, é? Bem, Sofia, você dizia que eu me encaixava bem em você, digo, no seu nível" Os dois riram. O clima desconfortável se foi, ela passou a mão nos cabelos dele, alisou sua nuca. "Pensei que você fosse me esperar" ele tentou responder em tom divertido, tirando a seriedade da conversa "eu também pensei". Sofia sentiu vontade de chorar, mas sorriu. "Tenho um presente pra você" Tirou um pacote da bolsa, colocou em cima da mesa. Conversaram mais um pouco, riram de antigas coisas, relembraram, contaram as novidades. Ela precisava ir, ele a levou até a porta. Ela beijou seu rosto, ele falou que marcaria algo com ela 'e a turma' para a próxima semana. Ela se foi. Ele fechou a porta, andou desinteressado em direção do pacote, tentando disfarçar de si mesmo a sua ansiedade. Abriu e havia um caderno dentro. Nenhum cartão. Leu a primeira página:

Recife, 03 de janeiro de 2006

O ano novo foi divino. É difícl pensar que são meus últimos dias com ele. Por mais empolgante que seja viajar, não consigo imaginar o que é ficar sem suas mãos quentes, sem suas frases feitas. Estou com muito medo. Eu o amo.

Por instinto fechou o caderno e o abriu na última página. Ela marcava a data anterior ao dia de hoje. Era o diário de Sofia dos últimos três anos. Nele estava quem era Sofia, as mudanças que tinham ocorrido, os pensamentos e as revelações. Certamente, se ela tinha o presenteado com aquilo, era porque tinha alguma coisa que ele soubesse. Colocou o caderno em cima da mesa e foi tomar banho, pensando em se preparar para passar a noite lendo as anotações que Sofia tinha o presenteado. O passado se tornava presente e ele sabia que alguma coisa mudaria depois daquela noite.
"Ilusões à luz do dia
Cílios de limusine
Faça seu rostinho lindo
Derrame uma lágrima em meu vinho
Olhe em meus olhos
Veja o que você significa pra mim
Docinhos e milk-shakes
Sou o anjo das ilusões
Sou o desfile de fantasias
Conheça meus pensamentos
Não mais os adivinhe
Você não sabe de onde eu vim
Não sabemos para onde vamos
Estamos juntos na vida
Como dois galhos num rio
Sendo levados pela correnteza
Eu te carrego, você me carrega
Nossa vida pode ser assim
Você não me conhece?
Você já não me conhece?"



segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

reflexos.

Olhei bem para seu rosto, suas mãos, olhei também para seus pés. Tentei prestar atenção em tudo, tentei gravar cada detalhe, cada expressão. O olhar já estava impaciente e me perguntava o tempo inteiro 'já posso ir?', apesar de todo silêncio, eu conseguia escutar. Puxei, forçadamente, seus dedos e entrelacei nos meus. Apertei, apertei com um pouco mais de força. Ele não tirava suas mãos das minhas, mas também não retribuia ao aperto. Tentei abraçá-lo, tentei sugá-lo. Tentei absorver tudo que eu podia. Na frente dele e de tudo que ele representava pra mim, na frente da minha vida inteira, na frente de mim mesma. Sorri para ele do jeito que ele gostava, esperei um sorriso de agradecimento, mas ganhei mais uma expressão inerte. Ele apenas me olhava, acho que na cabeça não passava muita coisa e, se passava, devia ser algo bem longe e distoante dali, pois ele realmente parecia não me enxergar. O abracei com mais força. Ele ficou parado por uns instantes, deixou que eu o abraçasse, deixou que eu tentasse difundir o meu corpo com o dele. Depois tentou se soltar, eu apenas exerci mais força e ele entendeu que eu apenas pedia mais um pouco. Por mais algum tempo fiquei ali, abraçada com minha própria vida, com o meu próprio eu, abraçada comigo, com ele, com tudo que nós fomos, com tudo que nós sonhamos. De repente senti repúdio do egoísmo dele, da vontade dele de querer ir embora, de colocar a culpa no tempo, no calor, nos outros, em mim, nos livros. A culpa era dele. Senti nojo dele, senti que se ele queria ir, era porque realmente era melhor que fosse. Me distanciei um pouco, me virei e com as costas viradas para ele eu disse 'agora pode ir'. Foi então quando percebi que ele já tinha ido, talvez antes mesmo de eu me virar. E chorei, pois de mim ele não queria mais nada, nem sequer o desprezo. Chorei por três minutos seguidos e as lágrimas pareciam cair sem controle. Depois parei, percebi detalhes bobos da casa como a pintura da parede que começava a envelhecer. Sentei no chão, rejeitei o sofá. O telefone tocou e eu não quis atender. Lá pelas quatro da tarde me levantei e passando pelo espelho do corredor tive a surpresa de ver o reflexo dele ao invés do meu. Desgraçado, me levou com ele. Se deixou aqui comigo.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

o seu melhor, o melhor de mim.

Aquela casa trazia recordações antigas, lembranças das brincadeiras de infância, memórias inúmeras e emocionantes. O jardim que Clara tinha dado o primeiro beijo, o batente da escada que Alice tinha cortado o joelho e levado três pontos. A árvore no meio do jardim (agora seca e muito velha) ainda tinha as letras 'C' e 'A'. O terraço tinha as mesmas cadeiras com madeira clara.

Clara estendeu a xícara de café para Alice, que sorriu com cumplicidade "Sabe no que estava pensando?" Clara sentou do mesmo modo de Alice (no chão, encostadas na parede, com as duas pernas dobradas e as mãos em cima dos joelhos), Alice prosseguiu "Bem, eu estava pensando em como nós duas somos diferentes" Clara enrugou a testa: "Somos? Sempre fomos tão parecidas" "Sim, é verdade, nós sentimos as mesmas coisas, só que agimos de maneiras diferentes. Tenho tanta inveja da sua racionalidade, do seu comportamento discreto, do seu olhar observador e crítico. Eu sempre estou tão ocupada tentando chamar atenção que acabo não observando nada" Clara olhou para Alice com ternura: "Você não tenta chamar atenção, sua boba. Você chama atenção sem querer" Um pequeno espaço de silêncio, Alice suspirou: "Seu jeito, meu jeito, não importa. A verdade é que somos dois fracassos - sorrindo, quase rindo - Lembra quando namoramos aqueles dois irmãos? Acabamos o namoro na mesma época, ficávamos chorando juntas" "Pelo amor de deus, Alice, eu não gosto de lembrar daqueles dois, o seu tinha cheiro de alho" Alice e Clara riram. "Clara, nem o cara com o cheiro de alho eu consegui manter. Qual o meu problema?" Clara tomou cuidado com o que dizer, pois sabia que Alice precisava ouvir a verdade, mas pensou em que verdade falar: "Alice, o seu problema, digo, o nosso problema, sim, pois eu e você compartilhamos desse azar, o nosso problema é que somos de carne e osso. Somos de carne e osso, Alice. Nós nos entregamos, nós dizemos a verdade, nós não mentimos. E as pessoas não são assim e não são acostumadas com isso" Alice fez sinal de não com a cabeça : "Clara, a vida não é um filme, um romance. É preciso se adequar ao mundo, parar de agir como se o príncipe encantado fosse chegar. Somos as únicas pessoas que acreditam em amor, você e eu. Sim, o resto do mundo acredita em dependência, conveniência, comodismo" Clara complementou: "Egoísmo. Egoísmo, Alice! Essas pessoas não são capazes de amar ao outro, pois só é relevante o que é positivo para si. Você e eu não somos bobas, nem ingênuas, somos apenas duas mulheres que acreditam na capacidade de amar e por isso desejam ser amadas" Alice colocou a xícara inacabada de café na mesa do centro, sentou em frente a Clara: "Até quando, Clara? Até quando vamos esperar alguém chegar, alguém abrir a porta e não ir embora em cinco minutos? Alguém que seja capaz de sentar, conversar, entender, conviver? Vivemos numa utopia sentimental" Clara enxugou uma lágrima que Alice deixou cair: "Quem foi, Alice? Por que você está com esses pensamentos, quem te machucou tanto?" "E o que importa o nome do filho-da-puta da vez, Clara? A história termina sempre do mesmo jeito, eu termino sempre sozinha na minha cama". Clara odiava ver Alice chorar. Ela era sua prima, sua melhor amiga, o amor de sua vida. Pensou em abraçar Alice, mas ficou sem jeito: "Alice, você é uma idiota, assim como eu. Com esse amor comercial, esse amor que vendem e inventam por aí, com esse amor nós duas não sabemos mexer. Somos utópicas, sim, somos por vezes surpreendidas por alguém insensível ou simplesmente seco" Alice concordou com a cabeça e com tom de desespero: "E o que a gente faz, Clara? Vamos viver assim a vida inteira? Vamos estar condenadas a sofrer? Quero parar de acreditar que esse alguém vai chegar, que vou ser feliz, que tudo vai mudar. Na verdade não vai" "Alice, talvez realmente não mude. Mas quer saber? Pra mim nós não deveríamos mudar isso nunca" "Algo que nos faz sofrer, Clara? Por que não mudaríamos?" " É a esperança na vida e no amor, o que nos torna singulares no meio dessa multidão suja e barata. E a esperança, Alice, nos levará à realização. Isso é o melhor de mim, isso é o melhor de você. Não mexa nisso, isso é meu também"

Em silêncio, continuaram olhando pela janela do velho terraço, vendo o pôr-do-sol mais conhecido e antigo, mas também o que mais gostavam. E, mais uma vez, na velha casa, renovaram as esperanças de seguir em frente. E seguiram.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Clara, meu amor,

Sei exatamente que expressão você fez ao ler que eu tinha escrito "meu amor". E deve ser por te conhecer tão bem que você ainda ocupa esse lugar. Não, não estou escrevendo enquanto bebo. Eu sei que só costumava demonstrar nitidamente atos de carinho quando já passava do quarto copo, e pra falar a verdade isso é uma das coisas que acho mais idiotas agora.

Londres está linda, Clara. Mas confesso que esperei mais. A verdade é que saí daí tão interessado em tudo que encontraria por aqui que acabei não percebendo tudo o que eu deixaria para trás. Você, sem dúvidas, foi uma das coisas mais importantes que deixei. A última cena, você fechando as mãos com força, seus olhos estavam vermelhos, isso tudo não saiu da minha cabeça. Achei que quando chegasse por aqui iria logo esquecer, ao me deparar com coisas lindas e enormes. Mas a coisa mais linda e enorme que me lembro nesse instante são os seus dois olhos negros, chorando por mim.

Clara, sei que errei demais com você. Você também errou comigo e nessa soma de erros nosso elo se desfez. Não daríamos mesmo certo daqui pra frente, mesmo que eu ainda continuasse vivendo perto de você. A verdade é que toda relação é perecível e a nossa durou até um tempo maior do que eu esperava. Sim, é verdade, você sempre apostou em nós, mas eu sempre achei que não iria aguentar por muito tempo todos os seus defeitos, incluindo o maior deles que são seus pés gelados. Que saudade do seu pé gelado, meu amor.

Se alguém me perguntasse como seria o futuro daqui pra frente eu arriscaria dizer que você logo vai encontrar alguém que te faça feliz. Você é apaixonante, Clara. Não existe homem em sã consciência que te negue uma chance de fazê-lo feliz. Porque você tem escrito em sua testa 'sou feita para amar'. Eu também acho que não passarei muito tempo sozinho, talvez eu demore um tempo para encontrar alguém 'para levar a sério', mas logo estarei nos braços de alguma inglesa com disposição e carinho disponíveis. Acho que por isso resolvi te escrever hoje, enquanto ainda tenho a certeza de que o nosso 'nós' ainda não foi desfeito, enquanto sei que você ainda deve gostar daquela música irritante que parece um gato miando, enquanto você ainda está, provavelmente, viciada naquele sorvete de abacaxi e enquanto eu ainda me lembro o nome do seu porteiro. Caramba, acabei de perceber que logo vou esquecer do nome dele, também vou esquecer de algumas coisas que vivemos. É normal, a gente fica só com as lembranças mais marcantes. Não queria te esquecer, Clara, você não merece ser esquecida. Sei também que vou me lembrar de coisas tão miudinhas ainda. Vou me lembrar de você ao ver coisas que você gosta, ao ouvir músicas que você ouvia, ao ouvir alguém falando algo que você sempre fala, ao sentir seu perfume em outra mulher.

Eu te amei, Clara. Eu te amei como nunca amei antes. Te desejo a felicidade, te desejo motivos diários para você abrir seu sorriso bonito. Você foi a grande mulher da minha vida.

Até um próximo instante,

André.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

(cont.2) Cap. I - um estranho no ninho de Alice

Talvez uma das melhores coisas em viajar era sentir saudades de casa. No meio de grilos, mato e leite de vaca sentiam uma saudade imensa do trânsito, dos bares decadentes e modernos. O interior nem era tão pobre de civilização, é verdade, mas a fazenda dos pais de Alice ficava em uma localização nem um pouco favorável para quem gostava de respirar fumaça.

Rodrigo e Alice foram dar um passeio de carro, os dois estavam completamente esgotados do silêncio pacato. Alice ligou para Tom, seu único e verdadeiro amigo daquela área. Tom era uma das pessoas mais inteligentes que ela já tinha conhecido e ninguém, ninguém mesmo, cogitava a possibilidade de após o colégio Tom permanecer ali. Ele e Alice sonhavam em dividir um apartamento, faziam planos da liberdade e da loucura diária que teriam. O sonho de Tom foi arrancado pela raíz quando há 5 anos seu pai morreu em um acidente de carro. Tom estava na varanda de sua fazenda, que era alta, e viu a explosão do acidente do próprio pai acontecer a poucas quadras de sua casa. Resolveu, portanto, que cuidaria de sua família, sua herança e o sonho de Tom a partir daquele dia mudou. Alice sentia uma estranha culpa em ter seguido sem Tom. É claro que ela jamais deixaria de ir, por motivo algum, mas saber que estava vivendo a vida que Tom queria a deixava com peso na consciência. Combinaram de se encontrar em um boteco - que também era mercadinho, padaria e farmácia. Alice e Rodrigo chegaram mais cedo, sentaram numa mesa de esquina e conversavam sobre o prefeito. Alice contava que a primeira dama tinha um caso com o entregador de cargas daquele boteco há anos, Rodrigo se divertia em saber os escândalos que já haviam ocorrido, quando de repente Alice parou de contar, seus olhos brilharam demais - talvez estivessem cheios de lágrimas - e ela só conseguiu dizer "Tom!", antes de correr e pular no pescoço dele. Tom e Alice se abraçaram forte, ela conseguia sentir a respiração ofegante dele, como se fosse dela. "Rodrigo, esse é o homem mais bonito e inteligente que eu podia te apresentar nessa cidadezinha medíocre" "Ok, mas eu prefiro mulheres, certo?" "Não se preocupa, Rodrigo, você também não faz o meu tipo" os três riam. Tom e Rodrigo já tinha ouvido falar um do outro, Alice falava compulsivamente na mesa e os dois, maliciosamente, faziam comentários debochados e sarcásticos. Conversavam sobre música, livros, filmes, fofocavam sobre pessoas caricatas. A bebida entrava como o ar, copos e mais copos iam sendo virados, enquanto a madrugava entrava e os segredos saíam.
"Nunca beijei o Vitor, Tom! Deixa de contar mentira" "Beijou sim, Alice! Conta outra, vai! Vocês ficaram até de casinho que eu sei!" "Pronto, olha aí uma prova! Você sempre sabe dos meus casinhos, eu nunca cheguei pra você e falei do Vitor, porque simplesmente nunca aconteceu" "Ok, vou deixar esse assunto pra lá. Mas falando nos seus casinhos, algum pobre coitado na sua rede?" "Os homens estão para mim como a civilização está para essa cidade, Tom! Nada em vista" "Jura? Pensei que você tava se aproveitando dessa idiota, Rodrigo" "Ela que se aproveita de mim, Tom!" Tom falou algo deixando entender que duvidava e disse que iria comprar cigarros, já voltava. Rodrigo mudou o timbre da voz, como quem perguntava o que não devia "Alice... você e o Tom, vocês já...?" "Já o quê?" ela gargalhava, deixando Rodrigo cada vez mais sem jeito "Alice, é sério.. acho que ele gosta de você, hein" "Você tá com ciúme, Rodrigo" "Não, não estou - e realmente não estava. Rodrigo gostava de Alice, mas não a ponto de sentir ciúmes, desejá-la o tempo inteiro, ele não amava Alice- só queria saber se você e ele já tiveram algo". Alice se ajeitou na cadeira, tomou mais um gole, respirou fundo : "Bem, eu não gosto muito de falar disso, me sinto como se tivesse feito algo errado. Há uns anos, estávamos terminando o colégio, eu e Tom já éramos unha e carne. Um dia, do nada, eu o puxei e beijei. A gente tava bebendo uma garrafa de vodka - ela riu, olhou pra baixo- ele me disse que eu era como uma irmã pra ele. E eu disse que o amava como homem. Passei dias tentando convencê-lo de que deveríamos ficar juntos, que ele também me amava. Até que ele concordou" Rodrigo esperava mais, mas Alice parou ali, como quem já tinha falado demais "E...? O que aconteceu?" "Bem, o Tom é incrível, você deve ter notado. Quando ele disse que sim, que me queria também, senti como se tivesse ganho um troféu, uma medalha. Tinha conseguido conquistar o cara mais legal que eu conhecia. Me senti satisfeita, acho que no fundo só queria provar que eu, uma repleta idiota, podia fazer um cara tão especial ficar louco por mim. E eu já não via mais muita graça em estar com ele...Foi quando o pai dele morreu e eu me mudei. O Tom é tão generoso que nunca me cobrou uma explicação. Ele apenas disse 'Alice, seu lugar não é aqui. Não é de mim que você precisa, eu sei'. Fui muito ruim com ele, Rodrigo" Rodrigo viu que a bebida tinha deixado Alice completamente fragilizada e que tocar naquele assunto estava fazendo ela se mostrar de um jeito que ele não conhecia, ele se aproximou, alisou a ponta dos cabelos dela com os dedos, a beijou. "Não fica triste, a vida nos leva a lugares que a gente não imagina. Não se sinta culpada" Alice o beijou com força, pressionou a boca dela contra a dele, quase o machucando "Vamos sair daqui, vamos ficar sozinhos" "E o Tom? Ele vai voltar, não vai encontrar a gente" "Tom não vai voltar, Rodrigo" "Ele disse que voltava logo" "Tom não vai voltar, ele me conhece, ele não vai voltar". Alice e Rodrigo entraram dentro do carro, Rodrigo queria dirigir, pois se julgava em melhor condição, mas Alice disse que queria levá-lo a um lugar. Chegaram no território da fazenda, mas Alice passou direto da entrada principal, subiu com o carro numa íngreme estradinha de barro, a poeira subia e a visão era péssima. Parou o carro, abriu a porta rápido e desceu correndo. Rodrigo foi atrás, Alice parou em um determinado ponto "Essa é a parte mais alta da fazenda, é onde eu me sinto rainha desse reino de loucos" Rodrigo abraçou sua cintura "Tem mais outra coisa, Rodrigo. Aquele Vitor que o Tom falou na mesa, eu fiquei mesmo com ele. Inclusive fiquei aqui, exatamente aqui onde estou com você" "Então é aqui que você traz suas vítimas?" Rodrigo sentou e puxou Alice pra junto dele, abriu sua blusa "Você não é vítima, você é excessão. Minha excessão"

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

(cont) Cap. I - um estranho no ninho de Alice

O sol já estava indo embora quando a família chegou à velha casa da infância de Alice. Ela olhou para o infinito "Rodrigo, essa é a imagem mais bonita que eu poderia te dar". Ele ria do romantismo dela, a olhou bem e viu que o sol refletia nos cabelos castanhos, a deixando quase loira. Pensou "essa cena é mais bonita, Alice" mas não externou. Entrou na casa com o pé direito, mas não deixou ninguém perceber.
Alice fez questão de levá-lo até o quarto onde passaria aqueles dias. O quarto era simples, nada de muito luxo, ou extravagâncias. Não era típico daquela família gastar com o que não fazia falta, apesar da gorda condição financeira. Alice sentou na cama "não é tão fofa como a sua, mas vai te quebrar um galho" e sorriu, como quem cortejava. "Eu estou cansado. Acho que posso tirar um cochilo, não posso? Afinal, o que mais tem pra fazer nessa cidade? Do aeroporto até aqui conheci a cidade inteira", Alice tentou sutilmente 'defender' sua cidade, mas no fundo não havia mesmo muita coisa a ser feita. Deixou Rodrigo no quarto e foi conversar com a família na sala, enquanto todos a perguntavam como caminhavam as coisas e, é claro, sobre o seu 'namoro' com Rodrigo, que ela ainda não tinha conseguido provar que não existia.

2:40 da manhã, Alice tomava café com leite e canela, as pernas estavam totalmente dobradas em cima da cadeira - uma forma de se defender das rãs, sapos e outros bichinhos inimigos que poderiam aparecer. Ouviu a porta de vidro abrir, reconheceu que era Rodrigo pelos passos e pelo cheiro. "Pensei que você só acordava amanhã" - disse antes que ele chegasse até ela- "Dormiria mesmo, mas essa cama é péssima". Alice fingiu que não ouviu. Ofereceu a metade restante de sua xícara e ele aceitou, mas fizeram isso sem dizer nada, apenas olhando um para o outro e para xícara, é claro. "As vezes penso que queria morrer aqui" "Ok, Alice, o campo te deixa suicida?" "Não, seu otário. Falo de envelhecer aqui, descansar quando ficar velha" "Descansar de quê?" "Não sei, Rodrigo. Você não compreende mesmo, não importa", disse quase com voz de choro. "Alice?" puxando o queixo dela com os dedos, afim de ver seu rosto, "Você ficou chateada com essa bobagem?" por um momento ela quase sentiu sensibilidade sair das palavras dele, mas lembrou-se de quem se tratava e engoliu o que pensou dizer. "Não, Rodrigo, não é você. Acho que estou exausta da viagem, devo estar estressada por isso e emotiva pela volta". Longo silêncio. "Alice, lembra quando nós fomos aquele bar que tinha uma entrada vermelha? Aquele com um nome em francês, como era mesmo?" "Aquele que a moça vomitou no meu pé no banheiro?" "Sim, sim. Era isso mesmo que eu ia falar. Hoje quando te vi com sua família senti a mesma admiração que senti por você naquela noite" "Você sentiu admiração? Você sente as coisas? - em tom irônico- Não, vai, é sério, por que você ficou admirado?" "Bom, naquele dia você poderia ter feito um escândalo com a moça que vomitou, mas você simplesmente chegou contando a história, você quase sorria da situação...E hoje, bem, você pega tudo o que eu abomino e sei que você nem gosta tanto na verdade, e faz de tudo isso um motivo para estar bem". Alice olhou para baixo, poucas pessoas a envergonhavam quando o assunto era elogios, mas Rodrigo quase nunca os fazia, portanto a deixava sem graça. "Bom, acho que vou pegar algo de gente grande pra beber. Ouvir você falar de mim merece um brinde". Enquanto Alice entrou para pegar a bebida, Rodrigo pegou o celular do bolso, apenas para checar. Uma nova mensagem de texto! Era de Laura, mulher por quem Rodrigo foi apaixonado a vida inteira. Poderia não ser o amor, mas era a mulher de sua vida. A mensagem dizia : 'Sonhei com você. Saudades de acordar num domingo ao seu lado, com você trazendo nuggets de café da manhã! Um beijo.' Rodrigo não conseguiu mais se concentrar em nada, só lembrava do cheiro de Laura e da saudade que, como em um clique, também começou a apontar em seu coração. O que estava ele fazendo naquela porcaria de fazenda? E com Alice?! Alice o irritava, o olhava de um jeito que ele não gostava as vezes. Entrou rápido na casa, antes que ela voltasse. "Alice? Alice! Vou dormir, ok? Ainda tenho sono" "Mas, Rodrigo, eu só estava procurando o saca-rolha" "Amanhã beberemos!" e entrou rápido no quarto, deixando Alice do lado de fora e trazendo Laura para dentro.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Cap. I - um estranho no ninho de Alice

Alice e Rodrigo desembarcaram no aeroporto interiorano. A cidade não era das menos desenvolvidas. "Aqui é o interior com mais cara de cidade grande" dizia o patético prefeito. Alice ria da cara desconfortável de Rodrigo. Ela tinha crescido ali e por mais que sua mente jamais tivesse pertencido aquele lugar, ela gostava de visitá-lo duas, três vezes por ano. Rever os pais, os conhecidos de infância. Ver como todas, literalmente todas as suas coleguinhas de primário já estavam casadas, com filhos. Ela dizia para a mãe "isso não é pra mim" e realmente não era. Tinha levado Rodrigo com ela dessa vez. "Alice trará o namorado, querido" dizia a mãe ao pai, enquanto Alice falava em tom repetitivo do outro lado da linha "mãaae, não é meu namorado!" e não era. Rodrigo havia chegado em sua vida há dois anos. No começo eles não se suportavam. Tinham se esbarrado em um seminário onde se alfinetaram com seus divergentes pontos de vista e alguns meses depois se reencontraram numa mesa de bar de amigos em comum. Começaram a se ver frequentemente, por conta dos tais amigos, e depois de algum tempo se viram trocando e-mails e mais tarde telefonemas. Horas e horas no telefone diariamente, almoços sofisticadíssimos na Mc Donald's do centro. Depois de 6 meses lineares acordaram um belo dia dividindo a mesma cama. Não foi surpresa. Também não tocaram no assunto depois. Aconteceu outras vezes, com frequencia, é verdade. E já que há tanto dividia tudo com Rodrigo, resolveu que iria levá-lo até sua cidade natal, para que ele bebesse o leite fresco da fazenda vizinha e tomasse sorvete de flocos com ela na praça. "Extremamente empolgante" dizia ele com sarcasmo ao vê-la descrever esse tipo de programa do interior. Ela ria e dizia "Você vai sobreviver". Pois bem, chegaram ao salão de desembarque, "Alice! Alice! Alice!" eram exclames altos, Rodrigo olhou ao redor e não acreditou no que viu. Cerca de 15, 16 pessoas, com apitos, bolas de encher... parecia uma festa. De repente percebeu que Alice não estava mais ao seu lado, ela abraçava um coroa bigodudo que dizia "minha princesinha". De repente ela olhou para trás, como lembrando-se que esqueceu de algo e disse "Rodrigo, vem aqui", ele foi. Rodrigo não gostava de toques físicos em quem não conhecia. Alice ria maliciosamente ao vê-lo sendo forçado a abraçar pessoas como Tia Isa - que tinha 73 anos, era surda e cheirava a agrião. Depois de se divertir o bastante, deu um jeito de tirá-lo de lá, "Gente, o rapaz tá cansado, vamos logo". Ele a olhou com a cara mais desesperadora que ela já o tinha visto fazer e disse "É só o começo, não é?" ela deu uma de suas escandalosas risadas e balançou a cabeça afirmando "Você nem imagina o resto".

domingo, 1 de novembro de 2009

domingo preto e branco


"Tinha que acontecer num domingo" foi o que minha prima mais próxima me falou, se referindo às nossas velhas conversas de como domingo era um dia triste. Mas hoje foi mais triste. Eu que sempre chamei os domingos de amarelos hoje vi tudo cinza. Desbotou a cor, os sorrisos não vieram e como numa brincadeira o que era, existia e estava passou a não ser, não mais existir e não estar mais aqui. Parecia piada e como eu rezei para que fosse! A sala lotada dos seus, você no meio, como sempre foi o centro das atenções. E quantas histórias e lembranças soltas devem ter rondado aquela saleta, pois cada um de nós tinha um almanaque de recordações suas para contar. Me lembro que na infância eu, Luiza e Victor sempre armávamos um plano para entrar no seu quarto e tirar dinheiro escondido do seu paletó. É evidente que você sabia, mas mesmo assim continuava a colocar moedinhas nos bolsos, pois sabia que aquilo nos deixava felizes. Você era isso! Uma explosão de sentimentos cativantes, uma comunhão de atos generosos, bonitos, decentes. Você, meu avô amado, nos ensinou a ser honestos, independente de tudo. Nos ensinou, com o seu exemplo, que para quem amamos qualquer esforço vale a pena. E quanto esforço! Você foi o homem mais batalhador e guerreiro. Foi um pai cuidadoso, prestativo, compreensivo. Um avô que o mundo não conheceu melhor! Apaixonado pelos filhos, pelos netos, pela esposa e pela vida, jamais deixou transparecer tristeza. Excelente contador de piadas, de histórias, ria com paixão por viver. Você é o amor, você é a alegria. E você sempre estará comigo, pois sou parte de você e você de mim. Estaremos juntos sempre, ainda posso te sentir. Que sorte eu tive de ser sua neta, que sorte eu tive de ter você. Até logo, Giba.

ps: "No janga ninguém morre, negão".

domingo, 18 de outubro de 2009

Sofia abriu a janela do quarto, respirou profundamente. Enfim sentia o cheiro do seu velho bairro pacato de novo. Depois de semanas viajando, de tantos dias fora, percebeu que lugar algum a fazia tão bem quanto a sua própria cama. Se sentou numa poltrona que ficava estrategicamente em frente à janela. Olhou o rapaz que vendia sorvete passando e riu. Riu por sentir emoção ao ver aquela cena tão ridícula, de um cotidiano tão simples, mas que era dela. Ela olhou as paredes do quarto, os avisos e bilhetes ainda estavam colados e pensou como era bom se sentir em casa. De repente olhou algo brilhando no chão, se abaixou e pegou o pequeno pedaço de vidro. Eram cacos do porta-retrato que ela tinha jogado ao chão, momentos antes de viajar. Seus olhos encheram de lágrimas, mas mesmo assim sorriu. Lembrou que ao quebrar a foto momentos antes de embarcar, tinha como intuito não deixar nada em sua casa que lembrasse 'ele'. A viagem a faria esquecer de vez o idiota, e na volta ela nem se daria conta que a prateleira estava com uma foto a menos. Ingênua Sofia! Marcelo estava em seu coração, em sua mente, em seus gestos. Ela era ele. Suas atitudes, o que pedia, o que comia, o que dizia. Tudo ainda estava impregnado com o cheiro dele. Em vez de se aburrecer Sofia abriu uma gaveta, pegou um álbum de fotos, escolheu uma em que ele estava deitado em seu colo. Lembrou daquele dia e com detalhes conseguiu sentir o cheiro da pele dele de novo. Colocou a foto em sua prateleira, aliviada:

-Diante dos meus olhos, dentro de mim... -
Fechou os olhos, abraçou a foto- Nem uma volta ao mundo arrancaria você de mim. Você estava comigo o tempo inteiro. Não posso fazer muito, então decidi que por enquanto vou continuar fazendo o de sempre: amando você.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Ela o abraçou com força, quase o sufocou. Deitou no meio das pernas dele, puxou sua mão e praticamente forçou um cafuné:

-Sabe o que eu queria agora?
-Deixa eu imaginar... Um milkshake de ovomaltine, bem grande
-Eu falei o que EU queria agora, não o que VOCÊ quer.
-Tá, o que você queria agora?
-Sair daqui - e olhou pra baixo, como quem se arrependeu de ter dito
-Meu colo e meu cafuné estão tão péssimos assim, Dona Sofia?
-Eu os levaria comigo, juro
-Por que você nunca está satisfeita com o que tem? Por que você sempre 'queria' algo mais?

ela colou os olhos fixamente nele e com um tom ironicamente ofendido respondeu:

-No dia que eu parar de buscar as coisas, eu não estarei bem. É da minha natureza o que você chama de 'insatisfação' e eu jamais quero perder isso.
-No dia que eu te der tudo, Sofia. Quer dizer, se eu conseguisse um dia te dar tudo, o que mais você iria querer?
-Voar.

domingo, 11 de outubro de 2009

Acordei e vi os dois olhos dela fixados em mim. Pensei que não fosse conseguir falar nada, pois minha mente ficou presa ao fascínio daquela cena. Era a primeira vez que eu a via sem maquiagem e ela era ainda mais linda. A boca dela se abriu devagar, como se fosse soltar alguma palavra, mas ela rapidamente trocou por um sorriso...

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

apenas escolha


Bom, certas pessoas possuem dificuldades em falar em público, outras em decorar os nomes alheios, outras de comer verdura. Minha dificuldade sempre foi escolher. Entre 'um e outro' eu sempre ficava com os dois, ou sem nem nenhum. Mas o duro sempre foi deixar algo pra trás, mesmo que aquilo não tenha me pertencido de forma que sua falta me matasse, ainda assim, mesmo com a certeza da superação, eu sempre tive medo de abandonar. Escolher outro caminho, ter a coragem de decidir um novo rumo. É, isso dá medo. Isso treme minhas pernas, faz com que minhas mãos fiquem geladas e me tira o sono. Estar dividida entre o velho e o novo, o certo e o duvidoso, o começo ou o fim. E quando você embarca em um dos dois rumos, você invitavelmente pensa em tudo que está perdendo do outro lado. O ser humano é assim, nunca se contenta com o que tem, é mais fácil se emburrecer pelo que não teve. Mas e agora? Tempo esgotado, preciso decidir. Bom, 'numa guerra existem heróis dos dois lados'. E que o herói do meu lado seja muito mais legal.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

ao meu amigo Marcelo Freire

"Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles"

Essa frase abre bem sobre aquilo que quero falar. Bem, em toda minha vida tive uma certa dificuldade em ser amável com aqueles que amei. As pessoas que mais amei na vida foram também as que mais magoei. Talvez por na maioria das vezes eu também me sentir amada por elas, e terminar agindo como 'eu mesma', transparecendo todo o meu ódio e fervor egoísta.
Numa altura da vida onde já não faz amigos de infância, conheci o maior amigo de infância que poderia ter conhecido - por mais que o tempo parecesse esgotado para esse tipo de relacionamentos. Esse amigo me mostrou que eu poderia ser importante em sua vida, que ele iria me ouvir, me entender, me ouvir mais (é, ele costumava me ouvir bastante) e o mais importante de tudo: me aceitar. Ele me aceitou da forma que eu era, sem pedir que eu mudasse nada. Por muitas vezes trocamos o dia pela noite, viramos madrugadas conversando ao telefone - ao som irritante de uma bateria descarregando, mas também ouvindo gargalhadas 'frenéticas', com piadas sem sentido, que ninguém mais entendeu. Por vezes me perguntei: "Esse alguém é real?" Todas as vezes que teve oportunidade de me ser doce, ele foi. E mais, em todas as vezes em que desabafei, contei meus casos, acasos, meus absurdos. Sempre soube que ele foi e sempre será o grande expectador de minha vida. Ele foi, mais do que todos, um grande e imenso amigo. Como irmãos brigam, nós também brigamos. E fazemos as pazes, e contamos histórias, e rimos do desespero (tanto nosso como alheio). Tentamos ridiculrizar os outros, questionamos coisas absurdas, procuramos sentido para os mistérios. Sentido, ele pra mim não faz o menor sentido. O vejo como um caçula, pois ele ainda não tem noção da dimensão do seu poder de crescimento. Sei que um dia ele terá e nesse dia talvez ele não me veja tanto como me vê hoje (ele me olha com olhos de admiração caçula, desses que implicam muito com a irmã mais velha, mas que a amam mesmo assim).
Mesmo com todas as nossas diferenças, mesmo com todas a nossa 'indiferença', mesmo com todos os motivos que são evidentes e que nos separam neste planeta, ele é a maior prova de amor que eu já tive. E sei que seremos amigos até o fim, até o dia em que acharemos as respostas para todas as perguntas. E nesse dia, quando não restar mais nada a questionar, teremos de recordação todas as risadas 'frenéticas', todas as brigas feitas, todas as reconciliações de mau gosto, toda a admiração cultivada, toda a confiança construída. Todo o amor do mundo. O maior amor do mundo.

ps: te espero num jardim florido, para contar as besteiras ;)

sábado, 26 de setembro de 2009

'um dia é', à minha amiga Louise.


Bem, na verdade não adianta dizer que não é um jogo. Todos nós jogamos, sim. Algumas vezes jogamos sujo, somos trapaceiros, somos malandros. Em outras jogamos limpo, somos sinceros. Nessas vezes dói quando descobrimos que o adversário trapaceou. Você pensa 'nossa, eu poderia ter feito o mesmo, mas não fiz!'. A verdade é que envolver-se com alguém é quase sempre tão surpreendente quanto um jogo de campo minado. Não se sabe onde pisar, até onde se deve ir, onde é território proibido. E até o mais evidente relacionamento, como aqueles que brotam no meio de dois melhores amigos que se conhecem há anos, até mesmo esses trazem surpresas. É como apertar um botão novo da cafeteira, você tem a sensação de que só por que descobriu uma função nova o café sai com gosto diferente. Às vezes em que me declarei, em que gritei para alguém 'alô, amo você', basicamente todas elas não deram certo. Talvez até tenha sido melhor assim, visto que minha coleção de ex-amores incluem meia-dúzia de babacas e alguns bobões. Bem, na época eu não achava ninguém babaca, nem bobão. Por que eles se tornaram isso? Eu pedi a Deus, e como pedi, que cada um deles me amasse. Não amaram. Bem, pode parecer masoquismo, mas eu continuo acreditando nesse tipo de coisa. Não sei, algo me diz que um dia essa hora vai chegar, a porta da minha sala vai abrir e enfim vai entrar alguém que queira realmente ficar. O meu primeiro namoradinho foi no JardimII. O nome dele era Dudu e ele me trocou pela minha vizinha, porque ela era magra. Eu ainda me lembro que um dia, antes de me trocar pela pirralha magrela, ele chegou e beijou minha mão e disse 'minha flor'. Jesus, quanto tempo isso faz? 15, 16 anos? E eu ainda me lembro do canalhinha me chamando de 'minha flor'. Talvez seja difícil esquecer das coisas boas. Talvez seja mais difícil do que qualquer outra coisa. Meu coração busca respostas. Mesmo assim, sei que ele ainda jorra esperança e que não vai parar nunca. Um dia é.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

hello, stranger



Bom, ontem estava em casa, sem muito o que fazer. Aliás, eu tinha muita coisa pra fazer, mas não estava com saco pra fazer o que tinha pra fazer. Então fui pra janela. Gosto de ficar na janela aqui de casa. Eu moro em um prédio que fica no cruzamento de duas ruas - Rua Marechal Deodoro e Rua Larga. Meu bairro não é muito movimentado, tem muitas casas residênciais e aqui na rua só passa um ônibus. Então, como estava dizendo, fui até a janela do meu apartamento, a da sala que dá pra se esticar mais e observar a rua e maior ângulo. Sem pensar no que tava fazendo peguei a máquina e comecei a tirar algumas fotos de todos que passavam. Com o zoom da máquina eu conseguia observar coisas que o meu olho não via tão bem e fui me divertindo. A última foto que bati (ao todo 45) foi a da senhora acima. E só depois da foto tirada eu observei que a senhora olhava para trás. Olhava para o lugar de onde tinha vindo, talvez na espera de alguém, talvez vendo se deixou cair alguma coisa, se esquecia de algo. Não sei. Essa foto me tocou, me tocou mesmo, começo a pensar em toda uma vida que essa velha mulher poderá ter tido, dos amores que teve, dos filhos que talvez tenha, dos amigos... O que será que sobrou de tudo? Quem ela enxerga ao olhar pra trás. Me resta a foto e minhas supostas respostas para minhas curiosas questões.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

'nós dois fomos feitos muito pra nós dois'

Sofia fechou os olhos e tentou não ouvir ele batendo a porta. Tentou não imaginar ele indo pra casa, triste, confuso, tenso. Tentou não pensar que dos olhos dele caiam lágrimas. E, além disso tudo, ela tentou sorrir. Ela apertou os olhos com mais força e lembrou da frase que sua mãe mais lhe falava 'tem que sangrar pra sarar depois'. Tem mesmo? Por que não simplificar? Por que não ficar no trivial, no básico, no feijão com arroz? Por que a gente sempre complica, sempre inventa motivos que acabam sempre tornando nossa felicidade infeliz? Questionamos demais, falamos demais, sentimos demais. E, mesmo quando tudo é perfeito, mesmo quando tudo é bonito, estragamos. Gostamos do desgaste, do sofrer, do complicar. Sofia chorou de saudade do momento que tinha acabado de acontecer. Era como se ela tivesse tido uma certeza absurda de que há 5 minutos atrás sua vida tinha outro rumo. E agora, depois das duas últimas palavras ("vá embora") ela sentia saudade daquele momento que antecedia, o que ela ainda não tinha mudado o rumo da história. Ele era parte dela, ela era parte dele. Eles eram um só, um nó. Então pra que ele aceitou? Por que ele fez o que ela disse? Por que ele foi? Ele queria ir? Queria, queria sim. Pronto, Sofia desaguou seu pranto, sentiu uma dor tão profunda e fina, mal conseguia respirar. E agora? De repente ela escuta a chave na porta. Ela olha para a porta e continua imóvel, incrédula. Ele se senta junto a ela, no chão, limpa as lágrimas pretas de maquiagem que manchavam a pele dela e a abraça:
-Eu só fui fumar.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

escolher ou ser escolhido?


Ando com medo. Medo de não saber o que eu quero, medo de querer o que eu não sei, o que eu não tenho. Ando com medo de escolher e errar ou de ser escolhida e deixar que os outros errem. Como posso ter a certeza do caminho certo? Como ter coisas diferentes e divergentes ao mesmo tempo? Não sei mais de nada. Nada mesmo.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

analisando: é o tchan


Tchutchuca, cachorra, popozuda, todas elas chegaram depois. O que veio antes, bem antes mesmo foi a 'ORDINÁRIA' que o "Cumpadre Washintong" insistia em chamar, enquanto elas, as Ordinárias, dançavam em cima de uma garrafa. Confesso que eu, lá com os meus seis ou sete anos, dançava quase tudo que o Cumpadre Washintong mandava também. E aí veio dança da cordinha, bambolê, dança do bumbum, da abelhinha, da odalisca que fazia a cobra subir. É engraçando pensar que minha mãe permitia que eu dançasse essas coisas e vou além, como QUASE TODAS as mães deixavam ? Talvez as crianças de 10, 15 anos atrás, não fossem tão maliciosas e espertas como as de hoje em dia. Ou talvez fossem mais cínicas e entendessem tudo, mas ficavam caladinhas, bancando as inocentes. A verdade é que o "é o tchan" morreu e a geração deles também. Dançar na boquinha da garrafa tá ultrapassado, a moda agora é chupar que é de uva e sentar que é de menta. O pau que nasce torto nunca se indireita agora é vintage. Que saudade do "segura o tchan, amarra o tchan". O tchan foi esquecido e nós crescemos. Agora eu tenho uma infinita noção da qualidade musical de hoje em dia. Antes eu era feliz, eu era inocente, eu não sabia. Agora eu sei. Que merda.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

palavras sagradas

Sempre que me perco tento voltar ao início. O início me diz muita coisa, inclusive me lembra para onde eu estava indo, então posso retomar o trajeto sem mais confusão. Hoje acordei confusa e peguei o cartão que Papai me escreveu no último dia 24. Apenas Papai tem o dom de me escrever ensinamentos em tão poucas linhas. Aqui vai o cartão :

Muito Amada Filha,

Sei que existo, logo penso (Descartes invertido) que as etapas vivenciadas e vencidas, nessa viagem que ainda não se fez longa, são aquelas realizadas através da excelência do seu caráter, do seu agir sempre ético, da prática constante dos seus atos justos, da sensibilidade exaltecida na construção e fidelidade aos amigos e no amor de filha.

Luminosidade, transparência, lucidez e paixão pela vida, fazem de você um ser humano para quem a felicidade é condição natural e destino de uma mulher que certamente irá ultrapassar as fronteiras do conhecido: No estudo e no amor.
Fundamental: "Da queda, um passo de dança. Da procura, um encontro".

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

flores amarelas não valem muita coisa


E como saber quem é quem? Como saber quem você pode ou quem você não pode confiar? Como saber quem vai te fazer feliz, quem vai te fazer sofrer? Tantas dúvidas deixavam Sofia tonta e com vontade de vomitar. As flores na sala, com o pedido de desculpas, não faziam efeito nenhum. Ela ainda tinha vontade de chorar, vontade de esquecer tudo o que viu e ouviu. Ela olhou para as flores mais uma vez e enfim conseguiu reparar suas cores: eram brancas e amarelas. Ela recordou do dia que falou a ele "as flores amarelas resolvem todos os problemas do mundo", e sorriu de sua própria inocência. Sofia enfim percebeu que para certas coisas só existe um remédio: o tempo. Flores não curam tudo, ela tinha sido enganada quando a tinham ensinado isso. E agora? O que fazer com esse corte tão profundo, doloroso e invisível? Como tirar de seus pensamentos a imagem de ingratidão que não parava de girar em sua mente? Como se sentir quando você dar o seu melhor e não consegue? Sofia olhou pela janela e o dia estava ironicamente bonito. Dentro dela, um caos. Lá fora, tudo bem. Ela fechou a janela para que o brilho do dia não ofuscasse sua tristeza. Jogou as flores amarelas na lixeira e foi deitar, com a esperança de que dias melhores iriam chegar, que o tempo cicatrizasse o ferimento e que sua boca perdesse o gosto de sangue.

domingo, 23 de agosto de 2009

um mais oito

Não resisto a aniversários. Não mesmo, nem um pouquinho. Eles me seduzem, me comovem, me emocionam. E por mais extra.clichê que pareça, eu sempre termino fazendo o bom e velho balanço de vida aqui por essas épocas. Amanhã eu faço dezoito anos. Minha bisavó tem 98, minha mãe tem 50, meu pai 58. Meu pai, minha mãe e minha bisavó ainda erram, então eu nem preciso falar o quanto eu, com meus 18 anos de vida, sou errante. Engraçado que eles também tem outra coisa em comum, já ouvi os três falando algo parecido com a frase 'não sabemos nada sobre a vida'. Engraçado que eu, com 18, achava que sabia. Eu não sei. Não sei de nada mesmo, nadinha. E nem quero saber muita coisa dessa tal de vida. Eu só quero me aproveitar dela, sugar o que ela tem de bom. Até porque eu sei que essa vida é safada, quando a gente menos espera ela vai embora. Bom, mas olhando assim pra trás, nesse pouco de estrada que eu tenho aqui atrás, eu consigo ver muitas mudanças - a ressaltar os últimos meses. As coisas mudaram, eu mudei. Ou apenas tirei alguma pele que havia sobre mim. Eu parei de ter vergonha do que eu gostava, do que eu sentia, do que eu queria. Eu conheci muita gente boa, muita gente eu sei que é só fogo de palha e que talvez não me acompanhe nessa viagem, mas tem um punhado de gente que entrou na minha vida nos últimos tempos que eu confesso que não sei mais viver sem. Também tenho aquela velha e confortante certeza dos 'velhos e bons'. Eles são a única coisa que não muda em mim, meu sentimento por eles permanece sempre aqui, intacto. Talvez eles sejam a única ponte de quem eu era pra quem eu sou e isso me dá chão. Confesso que em um ano consegui muitas coisas. Perdi o medo do escuro, mas ainda tenho medo de sapo e rã. Entrei na faculdade, senti saudades da escola, chorei ao rever antigos amigos, ri ao encontrar novos. Tive noites secretas, compartilhei segredos, caminhei de mãos dadas. Chorei e sorri por amor. Duvidei, me decepcionei, me iludi, acreditei. E lá no fim das tantas eu ainda acho que deva existir uma luz no fim do túnel. Ainda acredito em Deus. Ainda rezo à noite, peço para ser guiada por Ele. Alguns acham bobagem, mas eu continuo a ter Fé. Entendi meus pais e percebi que não adianta, eu jamais vou ter pais normais, jamais vou ter uma família convencional, mas mesmo com toda essa 'maluquice' que me ronda, eu não mudaria NADA neles, nada mesmo. Cheguei até aqui. Espero ir mais e mais e mais e mais longe. Espero ser feliz.

[Bel, Marcela, Catarina, Ana, Jhon, Pedrinho, Duda-lee, Luiza G., Gabi, Thiago, Renan, Malu, Maroca, Nathy, Maga, Brunna, Daniel, Diego, Louise, Tatiana, Rafael, Ricardo, Solanja, Rodrigo, Miguel e Edilene, muito obrigada ♥]

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

I know I'll be alright


E se ela tivesse a liberdade de voltar, fazer tudo diferente? Se tivesse a chance de se entregar a quem não fez, de dizer o que não falou, de dizer 'não' ao invés de sim e vice-versa? Como seria? Quem seria? Com o que tinha dava pra viver, dava pra aguentar. As vezes, em dias laranjas, pensava que tinha muito. Nem todos os dias são laranjas. Era irresponsável, não gostava de ser a culpada de nada. Nesse momento era a única pessoa que podia fazer algo por si. E não estava fazendo. Cheia de dúvidas, cheia de mágoas, cheia de esperanças, cheia de sonhos. Voltou a sua vidinha previsível e deixou de ousar querer mais. Se contentou com o que tinha, se convenceu de que era o bastante e resolveu esperar. Mais uma vez.

sábado, 8 de agosto de 2009

Sofia: laranja.

Estava eu sentada na sala, olhando o sol se pôr entre os monumentos de concreto, vendo o chão de minha sala ficar laranja. Eu, Sofia, sempre gostei de ver o chão laranja. E também sempre gostei de ver o sol se pôr, mas naquela tarde nada daquilo me chamava mais a atenção do que uma certa conversa, obtida em um certo momento, com uma certa pessoa. Me senti presa de repente, quando percebi que meus desejos e vontades estão limitados ao viável e ao possível. Tudo o que quero depende de algo e esse algo quase sempre joga no outro time. Meu desejo de última hora se chama 'amor'. Amor que desejo transbordar, entender e sentir (sem questão de ordem). A gente não ama quando quer, mas quando a gente ama a gente sempre quer. Quer mais, quer de novo, quer todo dia. Eu, naquela tarde laranja, não sabia o que queria, mas fosse lá o que fosse, eu sabia com quem era. Por fim me senti livre do passado pesado, toquei as pontas dos meus dedos no chão; meus dedos também ficaram laranjas. O que me levaria ao próximo capítulo? Eu não sabia. Eu ainda não sei. Mas uma certeza tomou conta de mim, a de que mesmo quando o 'algo' joga no outro time, existe um sol se pondo lá fora, existe o laranja do apartamento. E eu ainda existia ali. Uma leve intuição me dizia que algo de grande estava para acontecer...

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Dentro de mim há uma exaustão. Tantos vasos quebrados, sonhos acabados, ilusões. Não há rancor, mas há tristeza. Tristeza do que não foi, daquilo que eu queria que tivesse sido. Sinto pena de cada pedacinho meu que se perdeu ao longo de todas as quedas. Quedas... Como caí! Caí, levantei, caí de novo, de novo, de novo... Caí como um patinho. Sempre foi fácil me enganar. Hoje pela primeira vez sinto algo acordar dentro de mim. Aquela parte morta, cinza, o tabu dos meus sentidos. Chega alguém que pisa em um lugar que há muito ninguém pisava, alguém que me promete nada mais que a verdade. Sinto um aperto no peito de saudade, uma coragem de seguir em frente, uma vontade de deixar isso crescer. Estou com medo. Medo do que vem pela frente, medo do novo, do estranho, do presente futuro que me aguarda. O que será que me aguarda? Eu estou a esperar e a desejar. Merda.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

parte II


Alô, som, gravando. Começou a segunda parte, aquela que é sempre mais difícil e emocionante. As coisas estão mais claras, as pessoas novas já não são tão novas e quem é quem fica mais evidente. O meu coração grita, chora, ri, tudo ao mesmo tempo. E que tempo é esse que passa cada vez mais rápido? Que me faz confundir meus sentimentos, minhas alegrias com minhas angústias, meu amor com o meu ódio. O tempo está passando, o relógio corre, a vida acontecendo e tudo vai mudando. E como mudou. Mudou em 1 mês, mas já tinha mudado antes. Teve coisa que mudou em uma semana, mas também tem coisa que continua no lugar. Assumir o que você é de verdade, sem medo do que os outros vão pensar. Estar feliz com quem lhe faz bem, independente de quem seja. Fazer alguém feliz. Sorrir. Estar em frente ao espelho e se sentir pura e verdadeira. Falar 'não' sem culpa, e 'sim' também. Viver, viver, viver. Viver é o novo mantra.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

A minha pele tem vestígio de mentirao
Meu corpo grita querendo liberdade da redoma criada
Minha mente anda cansada, procurando a saída
Meus braços não aguentam mais o ritmo, o ensaio
Cala, aguenta, beija, goza, mente
Na solidão de ser só descobri que quero gente

Uma sombra pra pisar, uma sombra e mais nada
O ódio do meu peito me faz gritar calada
O corpo que queima contra o seu, pede por carne
A mentira que te faço falar, soa como o sossego do domingo a tarde
Reviro a história atrás de desculpas que possam me igualar
A toda escória da minha vida, que, uma vez, já deixei que me matassem

Um nó aperta minha garganta
Os dedos do vazio deslizam meu corpo
Sinto saudades do equilíbrio, agora distante
Num baú de lembranças me afogo em quem era, me afogo em você
É como estar acorrentada junto à porta de saída
Não sei como não me sentir suja

Rodrigo Lins e Maria Eduarda Ferraz

terça-feira, 28 de julho de 2009

Sofia: placas de carro não dizem nada


Sofia naquela manhã colocou a calcinha e o sutien da sorte. Não tomou o suco de maçã em caixinha, porque toda vez que ela tomava aquele bendito suco acontecia algo ruim. Tentou sair de casa com o pé direito e rezou no caminho para que tudo desse certo. De nada adiantou, a vaga do emprego tinha sido preenchida. Merda. Saiu do alto prédio empresarial e parou na banca de revista, pediu ao rapaz da banca que lhe desse uma carteira de Carlton, mas voltou atrás quando a voz irritante da consciência lhe disse que ela tinha parado de fumar. Saco! Nem fumar ela podia. Passou uma ambulância e Sofia tinha mania de somar todos os números das placas até totalizar apenas um. Era uma brincadeira que sua mãe tinha lhe ensinado e ela levava essa mania por toda vida. Somou todos os números, deu o número 8. O número significava ódio e era exatamente o que Sofia sentia naquele momento. Que dia azarado! Resolveu ir andando pra casa e enquanto pensava na bela porcaria que era sua vida, tropeçou e caiu nos braços de um anjo. E um anjo de carne osso. E de repente nasce um belo dia.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

O mundo é uma bola

O filosófico trecho da música de brega me trouxe pensamentos e me fez chegar a conclusões. Se o mundo gira, o mundo é uma bola, uma roda gigante ou sei lá o quê, é preciso estar preparado para passar por situações parecidas com essas de agora. A verdade é que não estamos. Esperamos sempre o novo, o diferente, o que na verdade nunca acontece. Na nossa vida as coisas são na grande maioria das vezes muito parecidas, quando não idênticas. Administrar a morte de alguém, o aperto de uma despedida, a impaciência de uma fila de banco, a dor de uma decepção amorosa, a saudade dos amigos, a saudade de quem era você. E quem era você? O que você fez com seu tempo, o que o seu tempo fez com você? Você só repara que mudou quando passa no mesmo trecho da roda gigante e nota que ops! tem algo diferente aqui. Quem você deixou pra trás no caminho? Quanto de quem você era você já não é mais? Você prefere isso de agora ou o você de antes? E quem vai saber...

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Sofia : adeus, anel de coco


Saiu do banho, olhou a janela e decidiu sair. Vestiu o vestido predileto, deu uma olhada na geladeira, tomou o resto de coca-cola sem gás e deixou os pratos de ontem para lavar amanhã. Colocou água na plantinha, ligou a secretaria eletrônica, deu a última conferida no espelho e bateu a porta. Decidiu descer de escada e chegando na garagem resolveu ir a pé. Mas... ir aonde? Tanta pressa, tanto esquema, mas o rumo ela não tinha. Parou na banca de revistas, comprou cigarros e uma revista sobre música. Saiu andando pela rua e decidiu ir à praia. Estava chovendo, Sofia achava a chuva batendo no mar uma das 7 coisas mais lindas do mundo. Sentou na calçada e viu todo mundo indo embora da praia, se enrolando nas toalhas, reclamando da chuva que cortou o barato do sol. "Mais uma vez estou na contramão", pensou e apertou os olhos, deixando cair duas gotinhas de uma água mais salgada que a chuva. Entrelaçou as mãos, sentiu o anel de coco na mão direita "ah, era aliança de compromisso, mas agora é só anel', quantas vezes deu essa explicação. Foi tirando lentamente o anel de seu dedo, olhou para ele como se fosse o mais precioso dos diamantes, fechou os olhos, como quem não queria ver o que estava fazendo e jogouno chão. Sem olhar pra baixo, se levantou e disse baixinho:

-Eu não preciso mais de você

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Sofia: dia de ressaca

Sofia estava completamente exausta. Chegou em casa, tirou os sapatos, pensou em tirar a maquiagem mas daria muito trabalho. Olhou o dia lá fora, que começava a raiar, e pensou 'hoje é dia de ressaca'. Suspirou e deprimiu, quase que ao mesmo tempo. Dia de ressaca significava um dia inteirinho sozinha em casa, em frente à TV e sem ninguém para sair, beber e esquecer (necessariamente nessa ordem). Sofia andava querendo esquecer a novela, o aluguel, o hospital, as dívidas, o ex-namorado, o microondas que tava quebrado. Queria esquecer essa vida normal, esse cotidiano barato (nem tão barato, porque o que ela andava gastando em cerveja...), queria esquecer seu nome. Numa confusão de tédio, choro travado e sono ela vai até a janela e acende um cigarro. Na primeira tragada lembrou que não tinha comprado a marca habitual e sentiu vontade de vomitar com aquele gosto novo. Olhou no relógio, eram 6:22. Pensou em caminhar, mas foi só olhar os pés ainda marcados (e massacrados) com a fivela da sandália que desistiu. Deitou na cama, fechou os olhos, ficou num meio termo entre dormir e imaginar. O telefone toca, Sofia pensa quem está atrapalhando seu sono e se surpreende ao ver o relógio marcando 11:57, ela ainda se sentia tão cansada, como se não tivesse chegado nem perto de sua cama. De péssimo humor atendeu o telefone:

-Oi
-Sofia? Oi, é Augusto
-Ah, oi. É... Oi, o que foi?
-Não foi nada, eu tava viajando, voltei hoje, lembrei de você

Um sorriso no céu da boca quase sai até os lábios de Sofia, mas ela o reprime e repete o mantra compulsivamente em sua mente "ele não presta, ele não gosta de você". Mas Sofia gostava dele mesmo assim.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

quando crescer quero ser jornalista


Decidi fazer jornalismo quando fui oradora da turma na oitava série. Na verdade acho que já falava sobre o assunto antes, mas foi quando percebi que meu singelo texto de oitava série tinha transbordado emoções nas pessoas, que senti que emocionar através da palavra escrita era o que eu queria fazer. Entendo emoção como qualquer nível de sentimento que se explode diante de determinado fato. E, mesmo sabendo o quanto seria duro e difícil, acreditei naquilo que achava digno. Na semana passada o Brasil levou uma linda facada, mas ainda não começou a sangrar. O diploma do curso de jornalismo foi avaliado como desnecessário. Fomos todos vítimas de uma conspiração daqueles que julgam a notícia apenas mercadoria e não levam em consideração o direito de informação (falo da informação verdadeira e respeitosa, diferente dessas que andam circulando há algum tempo). Fazer jornalismo consiste em liberdade de pensamento, ética e respeito. Respeito que foi ignorado quando não se levou em conta a imensidão de pessoas afetadas, principalmente financeiramente (mas é claro que se levou em conta o número de pessoas beneficiadas, principalmente financeiramente). Sim, meus amigos, em breve o Jornal Nacional será apresentado pela Mulher Melancia e o Latino já deve estar se preparando para assumir o Jornal da Globo. Como se não bastasse uma população que é incrivelmente educada para a arte do não saber, colocarão para informar aqueles que também não sabem. Eu também não sei, mas almejei saber. O futuro promete ser triste e talvez ainda mais cruel para nós, JORNALISTAS. O resto, isso que estão querendo empurrar à sociedade, eu não sei quem são. Talvez oportunistas, talvez pobres coitados. Voto nos coitados.


Mesmo assim, ainda quero ser jornalista quando crescer.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

carrossel do amor

"Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o nome", como na música de Calcanhoto, olhei para os lados e vi todas as cores que me pertenciam. Vi que cada uma delas hoje possuem outros tons e percebi que dentro de mim possuo uma aquarela que me faz sentir viva. Sinto pulsar, bater, gritar dentro de mim. Ainda pinto aquelas cores, sempre vou pintar.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

O garoto da casa ao lado

Sofia pegou o jornal, tomou um gole do café. Ouviu algum estrondo na rua, uma batida de carro talvez, então levantou-se e foi até a janela. Viu que algumas pessoas também tinham ido ver o tal estrondo, mas não tinha nada na rua... Talvez tenha sido algum maluco que passou fazendo graça. Levantou os olhos e viu o céu, abaixou um pouco e viu a antena parabólica de um dos prédios vizinhos ao seu e foi só descer um milímetro de sua visão que se deparou com a janela. A janela da casa de Augusto, a tal janela que há algum tempo fazia Sofia suspirar. Ela lembrou de quando acompanhava os passos que Augusto dava de sua casa até a dela e de como seu coração gelava quando ouvia a campanhia de sua casa tocar. Como num flashback chegou a sentir o perfume de Augusto novamente, quase podia toca-lo, pois ainda lembrava do tom de sua voz e da textura de sua pele. De repente Sofia sentiu um sorriso no céu de sua boca, tinha boas lembranças. Muitas. Talvez as coisas tivessem tomado rumos diferentes dos que eles imaginaram, e talvez esse caminho de agora fosse sem volta. Mas as rosas que tinham cultivado eram eternas e essas sempre valeriam a pena recordar. Rosas, que nem as que o porteiro trouxe para Sofia numa terça-feira modorrenta.

'Para sempre teu, para sempre meu, para sempre nosso'

quarta-feira, 13 de maio de 2009

desconserta-se ao rever teu antigo amor

Sofia saiu apressada, quase corria. Ela não sabia para onde estava indo, mas seu coração sentia necessidade de sair daquela casa, tomar novos rumos (mesmo que tão instantâneos e breves como um miojo de galinha caipira). Bem, mas no meio do caminho tinha alguém, tinha um caminho no meio de alguém. Olhou para os pés, não precisava ver seu rosto, sabia que era ele! Era Edgar, amor mais fervoroso que Sofia já viveu na vida. Não o maior, mas o mais fervoroso. Sofia gelou e pensou em sumir, mas Edgar a viu e estava vindo em sua direção. Como se tempo e espaço fossem dimensões volúveis, ao mesmo tempo que seus pensamentos giravam em frações de segundo, Edgar parecia ter asas nos pés, pois estava chegando muito rápido e Sofia ainda não tinha idéia do que fazer, dizer, onde enfiar as mãos. Edgar chegou pleno, calmo e sorridente, elogiou Sofia e brincou com coisas que ela nem acreditou que ele ainda lembrasse. Assim como chegou, disse que estava apressado e precisava ir. Sofia ficou intacta, quase tinha que lembrar de respirar. Como alguém que tinha saído de sua vida há tanto tempo ainda a fazia ter tonturas de nervosa? Lembrou dos dias em que ela e Edgar passavam horas no telefone, riam juntos (e como riam!) e também lembrou que não sabia ao certo o por que não tinha dado certo. 'A gente não pode saber de tudo nessa vida, Sofia' - foi o que sua mãe e todas as suas amigas lhe disseram. Mas para Sofia, lá no fundo, tanto ela como Edgar sabiam sim. De tudo.

sábado, 9 de maio de 2009

-Mas eu não quero te perder
-Eu sei, mas olha o mundo lá fora, ele é tão grande...

abriu a cortina, voltou seus olhos para o horizonte e continuou

-...você merece muito mais desse mundo. Não é justo que você faça de mim o seu universo
-Mas e se eu quiser? Eu sou ciente do que quero
-Eu jamais deixaria você fazer isso
-Não entendo o motivo
-Eu amo você

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sorrindo foi a condição.

Olhou para o céu. Pensou em Rodrigo, em João, em Edgar. Pensou nesse menino de agora, nesse que andava investindo nela e que ela inacreditavelmente não conseguia enxergar a menor graça. Perguntou a si mesma o por que de tanto azedume com o moço e não conseguiu achar resposta. Sentiu vontade de comer leite condensado com as melhores amigas, debatendo os possíveis motivos. Lembrou que uma mudou de cidade, a outra tinha casado e a outra... bem, elas já não tinham tanto tempo uma para a outra agora, tinham crescido. Pensou mais uma vez em Edgar, João e Rodrigo e lembrou de como ria com eles, de como sentia vontade de sorrir, mesmo sem motivos. Era isso! BINGO! O menino de agora não a fazia rir. Esse era motivo do azedume, do desespero, do sacrifício em ser cordial. Sofia abriu sua agenda e riscou o telefone de 'x'- o tal menino de agora. E se ficar sozinha era a condição, ela aceitou. E lembrando de Rodrigo, João e Edgar viu que com eles, mesmo em pensamento, jamais estaria completamente só. E então ela sorriu.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Realizar.

Sonhos e aspirações... todos temos. Projetamos idéias, situações, nos imaginamos em lugares, em postos, em dias. Imaginar, imaginar parece tão longe de realizar, não é verdade? Hoje eu realizei, realizei por conta própria, por conta minha, por mim. E me dei de presente um dia que jamais vou esquecer. Divido apenas com uma pessoa a emoção de hoje e sei que ela está tão realizada quanto eu. E que venham mais dias como esse, nossos dias, dias nossos. Em que possamos fechar os olhos e quase não acreditar no que aconteceu. É verdade.

agradecimento imenso a alguém que comigo divide o carro, hoje as emoções e a partir de agora todos os sonhos: Luiza Assis :)

sábado, 25 de abril de 2009

curso de como NÃO esquecer o ex.

Como esquecer namorados, paqueras, ficantes... Bem, isso eu não sei. Mas sei como manter todos eles bem na sua cabeça, é mais fácil do que se imagina. Portanto agora, meus amigos, começa um minicurso prático de como (não) esquecer o ex. :),

  • Regras super básicas : Primeiro ele tem que ser perfeito, no maior estilo 'nunca vou achar um tão perfeito pra mim quanto esse aqui'. Depois vocês têm que ter vivido uma boa história- dessas cheias de lembranças, mesmo que efêmeras, mas é preciso ter muita coisa para recordar. E por último, vocês precisam ter andado pelo menos uma vez, umazinha se quer, de mãos entrelaçadas.
  • O que fazer : Não vire amiga, irmã, ou qualquer coisa fraterna do ex. Isso faz com que o tempo o torne cada vez mais assexuado junto de você e quem sabe um dia vocês estarão contando segredos de paqueras atuais um ao outro. Ex é sempre ex, não deve virar amigo. Também não ligue, não fique olhando os antigos presentes, nem as cartas, nem nada disso. Guarde tudo no seu íntimo, e relembre sem nada concreto. Isso vai tornar seu amor quase platônico.
  • Quando você tiver plena certeza de que aquele ser era completamente sobre humano, que era perfeito para você e que você o perdeu sem motivos, sem explicação... Bem, aí você pode se relacionar com todos os cachorros da humanidade, pois é só manter na cabeça 'ninguém nunca chegará aos pés de fulano de tal'. E seja feliz, com o que der.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Mas duas pessoas


Mas duas pessoas não se equilibram muito tempo lado a lado, cada qual com seu silêncio. Um dos silêncios acaba sugando o outro, e foi quando me voltei para ela, que de mim não se apercebia. Segui observando seu silêncio, decerto mais profundo que o meu, e de algum modo mais silencioso.

E assim permanecemos outra meia hora, ela dentro de si e eu imerso no silêncio dela, tentando ler seus pensamentos depressa, antes que virassem palavras húngaras.



Budapeste, Chico Buarque.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

dá o fora.

Resolvi não mais ligar. Resolvi que agora vai ser desse jeito mesmo, do jeito que tá. Não se pode desejar uma coisa sozinha, esperar algo de alguém que não promete nada. Eu só acredito naquilo que vejo daqui por diante. Eu vejo muitas coisas, eu vejo uma nova estrada. Com outras pessoas, em outros lugares. Não tem mais nada a ver com você, eu não tenho mais nada pra te dar. Não tem mais nada seu aqui. Vai embora.

O COMODISMO É O MAL DA HUMANIDADE.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

angústia doméstica


O sol entrava pela janela da sala, fazendo sombra no chão e deixando tudo alaranjado. Sofia olhava a TV (apenas olhava, pois não estava vendo nada). Seus pensamentos estavam tão longe que ela nem poderia se mexer, estava dura como pedra. Esperava que aquilo passasse, mas há algum tempo não conseguia parar de pensar em coisas absurdas. Eram pensamentos estranhos, que a levavam a lugares desconhecidos, lhe dando a plena conclusão de que estava sentindo algo que não queria sentir. Não havia uma só explicação para tal sensação, apenas uma angústia doida, misturada com um amor roxo que andava rondando sua vida. Muda por fora, gritava por dentro. Estava desesperada, não sabia o que fazer. Com controlar aquilo que não se pediu pra ter? Mistério.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

ir pra todo lado só te trouxe até aqui


Sofia olhava a cidade, como as pessoas se comportavam, como a vida era um grande jogo, como tudo era bonito e estranho de ser observado. Tinha essa mania desde criança, mania de olhar, olhar, olhar. Ele chegou - Sofia sentiu o coração ter uma convulsão, suas mãos gelavam mais do que a cerveja que segurava nervosamente - deu um sorriso meio sem jeito, Sofia esperou mais. Ele a abraçou, com jeito de quem não ia largar mais nunca e se fez entender com poucos atos - nenhuma palavra foi necessária.


...depois ela acordou.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

remoto controle


As pessoas se acomodam a situações nas quais não estão felizes, embarcam em balsas que são previamente furadas. Coisas que supostamente seriam prazerosas da vida, para alguns se torna luto. Isso tudo por não saber dizer 'sim' ou 'não' na hora certa. Medo de magoar, medo de se arrepender, medo de estar equivocando-se. A esposa quer se separar há 15 anos, sabe que é traída toda quinta-feia pelo marido - com a secretária- mas tem medo equivocar-se. Há 15 anos ela tem medo. O garoto é apaixonado pela melhor amiga, ele vai ser padrinho do casamento dela, pois tem medo de contar a verdade e dar errado - ele guarda esse segredo desde a oitava série. Um homem se submete a um casamento com uma mega madame, socialyte - ele é gay, quer manter a hipocrisia.

Desisto do mundo. Desisto de você.

terça-feira, 7 de abril de 2009

NEW.


O novo é sempre preferido, mais notado, desejado. Tudo que é novo parece ser bom. Às vezes nem é, mas o velho é velho e aí perde a graça. Tudo que é gasto é desgasto? Negamos a eternidade até nas pequenas coisas, não seria esse o resultado da nossa mortalidade? Se fossemos imortais talvez não não desse certo. O novo chama atenção pelo simples motivo de ser inédito. Inédito não é o mesmo que bom, lembre disso.

domingo, 5 de abril de 2009

miniflashback


Sofia passava pela rua, poderia olhar para qualquer canto, mas olhou bem para o canto em que ele estava. Ele, por sua vez, poderia olhar para qualquer uma, mas olhou para Sofia. Os olhares cúmplices se encontraram e tudo voltou, como um flashback de algo que ainda não era passado. Um abraço meio sem jeito, algumas perguntas e respostas - puro convencionalismo.


os olhos dela, esses sim , falaram a verdade- eles gritavam em alto e bom som 'me beije agora'

sexta-feira, 3 de abril de 2009

quarteto.




Marcos chegou primeiro. Sentou, pensou em pedir uma cerveja, pediu uma água. Viu Leandro se aproximar, pensou em levantar para abraçar o amigo, mas deu preguiça. Leandro chegou reclamando de alguma coisa que Marcos não conseguiu entender, pois prestava atenção em Rita. Rita era uma mulher pequena por fora, mas imensa em personalidade. Convencia qualquer um pelo cansaço, era extremamente fiel aos valores e divertia Marcos e Leandro com suas apologias malucas. Rita entrou no restaurante, sentou confortavelmente na cadeira e não deu 'oi', apenas sorriu e disse 'Sim, mas onde está ela?'. 'Ela' era Sofia, aniversariante do dia, a razão pelo qual os quatro se reuniam naquela tarde. Sofia sempre atrasava, não tinha horários, não tinha nada com ela- além do sorriso, é claro. Meia-hora se passou até que Sofia entrou no restaurante, procurando atrapalhadamente os amigos, que, é claro, já estavam lá há muito tempo. Não pediu desculpas, nem saudou ninguém, apenas enrolou o cabelo com as duas mãos e reclamou do calor. Leandro indagou sobre o atraso, Sofia fingiu que não viu e olhou para Marcos. Ela esperava alguma coisa, mas ninguém falou nada. Se olharam então por alguns segundos e cairam na risada. Era inevitável não rir. Ao redor da mesa deles existia uma infinidade de outras mesas, todas cheias de gente, mas aparentemente vazias. Pois é preciso muito mais que corpos para compor uma mesa. É preciso intimidade, piadas, cerveja, sorrisos, lembranças, remorços e carinho. Apenas bons amigos sabem compor bem uma mesa de bar.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

prefiro toddy ao tédio


Me deixa perplexa o quanto as pessoas deixam suas vidas passarem, assim, sem mais ou menos. Não fazendo questão de nada, não olhando pro céu, não prestando atenção na lua, não rindo dos outros. Elas não fazem nada, não deixam nenhum registro, não querem, não importa. Eu tenho sede do mundo, tenho sede da vida, fome de libertação. Pra mim tudo vale, tudo pode, tudo é. E outra, eu não tenho vergonha de mudar de opinião (eu já disse que não sinto vergonha de pensar), portando digo, desdigo, digo... As pessoas são chatas. Se elas soubessem o tempo que perdem questionando, tentanto, dialogando sobre coisas que não vão influenciar em NADA em suas medíocres existências. Estou cansada desses que usufruem de boa aparência, e SÓ. Não pensam, não fazem, não dizem. Estão presos a seus costumes e valores hipócritas. Não se importam com os outros, apenas fingem, pois a vaidade é a mãe do egoísmo e ser 'bonzinho' é bonito. Não sou boa, nem bonita. Mas eu sou exatamente o que aparento ser, olhe na minha face e verá o reflexo de toda a minha personalidade errante, porém transparente.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

tem coisa que 'é' por ser

A gente se questiona, se bate, debate, retruca, esperneia. Chora e quer que tudo seja de outro jeito, mas as vezes esse é o jeito certo, o jeito que é pra ser, não vai mudar. E quantas vezes a vida não foi gaiata e o jeito que foi foi o melhor jeito? Espero que essa seja mais uma gaiatisse da vida.

ps: Precisamos saber a hora certa de ir e a hora certa de voltar, precisamos fazer isso com grande saída e grande entrada. Um pouco do espírito de Penélope Cruz , em Vick Cristina Barcelona, de Woody Allen. :)


segunda-feira, 30 de março de 2009

Se ela te fala assim, com tantos rodeios, é pra te seduzir e te ver buscando o sentido daquilo que você ouviria displicentemente.


Se ela te fosse direta, você a rejeitaria.


Ela vê os dois passando, as mãos entrelaçadas, os sorrisos supostamente verdadeiros, tudo às mil maravilhas. Ela sente seu coração alfinetar , uma dor física que é típica de quem acaba de ver o que não queria - mas precisava. É ver para crer, ela agora tem certeza de que não foi a escolhida, a premiada, a vencedora. Este posto está com uma outra, talvez nem merecesse tanto, talvez tenha sido por não merecer que tenha ganho um prêmio de tão alto preço. A outra tinha cara de quem não sabia o valor do prêmio, mas que achava bonitinho ostentar. Ela, que sozinha estava, voltou acompanhada da angústia de ser só. Mais uma vez voltou ao seu quarto, sentou-se na cama e chorou, como criança. Colocava seus sentimentos na frente do espelho, exatamente como fez quando os detalhou a ele, pena que ele não quis. Ele preferiu a outra, que nada falava - talvez nada sentisse - mas que o enfeitiçava.






domingo, 29 de março de 2009

Um dia cinza, sede pós farra, sono. Típico domingo, com direito a angústia, pensamentos vazios, cabeça cheia. Teria sido um dia comum (que você não é especial pra ninguém), se não por isso que acabo de receber. Recebi de alguém demasiadamente querida uma verdadeira declaração. E de amor!


Olinda, 29 de março de 2009
D., amiga inestimável
É bem verdade que vivemos em freqüências diferentes e que também existam pessoas de maior importância na sua vida do que eu. Esta carta não é para convencer você a nada, também não é treino para redação, é apenas porque estava indo dormir e tive uma incontrolável vontade de prosear nossa vivência.
Mesmo com uma memória tão sistemática quanto a minha maneira linear de agir, não consigo me lembrar da primeira vez que nos falamos. Enfim, eu me lembro que já morando com meu pai, eu desabafei sobre a briga com a minha mãe. E você, sem receio e com palavras claras me tranqüilizou. E depois, nesse turbilhão de existência que você é, vieram confissões, desencontros amorosos, desabafos e conversas sem propósito. Conversas essas que deixaram piadas abstratas eternamente engraçadas. Sem esquecer os debates com meu pai, que mesmo crendo que você é louca, gosta muito de você. E a vida mostrando uma face nem sempre otimista das pessoas, em meio a surpresas e descobertas chocantes, sempre a mesma felicidade contagiante. Com você o tempo assume outra forma, num dia seu você fica triste de tarde, a noite já me liga contando os problemas e rindo. Acho que é impossível não parar de rir, a vida é uma piada mesmo. E fazendo uma alusão histórica que vem desde namorados do ginásio com poderes telepáticos até vocalistas de banda cafajestes, você ainda mantém o mesmo sorriso intrigante e apaixonante, misto de Maysa e Bill Clinton.
Sem entrelinhas e suposições sem fundamentos, é assim que funciona. Demorei tanto pra começar a falar com você, e hoje ficamos conversando até duas horas antes de o Sol nascer. Uma habilidade muito desenvolvida para convencer as pessoas, desde coisas absurdas até temas político-sócio-econômicos. Gostaria de dizer, que mesmo com alguns meses de convivência, aprendi muito, mas muito mesmo com você. Você faz parte de uma etapa de transição da minha vida, e agora sempre que sinto uma sensação de autonomia existencial me remete, dentre outras pessoas, a você.
Às vezes as amizades mais importantes, não são seus vizinhos, seus amigos de sala ou faculdade, mas alguém do outro lado da internet, numa noite quente e deitado num sofá de canguru. Duda vê só, eu sei que não sua amizade de carro-chefe, mas sempre, sempre estarei ali no cantinho, lendo e com cara de poucos amigos, pronto pra escutar e conversar sem se preocupar com o tempo nem tampouco se o telefone fica apitando com a bateria fraca. Quando conheço alguém, especificamente, mulheres não têm como não usar você como parâmetro. Eu sei que faço perguntas idiotas e poucas vezes venho com muito assunto, mas eu estou sempre disposto a compartilhar com você as sensações, boas e ruins. Acredite, mesmo falando alto, na maioria das vezes, querendo convencer a qualquer custo (hahaha), sendo arrogante, sendo isso e aquilo, eu não mudaria nada em você, nada. As pessoas são o que são, aceite e goste ou respeite e evite-as. E quando a gente fica se perguntando sobre o que vem depois da morte, bem eu não sei Duda. Mas, se existir alguma coisa, eu quero te encontrar num jardim florido e ensolarado de domingo e te dar um abraço e contar as besteiras.
Enormes Saudades, M.