domingo, 12 de dezembro de 2010

Alô.

O telefone chamava  uma, duas, três, quarenta vezes. Só pode estar fora do gancho. Ele respira fundo, conta até três. Imagina a imagem dela sorrindo, conversando com outros homens. Ela estava nem aí. Ele é que era um idiota, perdia o sábado à noite para tentar ligar, se lamentar. E se ela atendesse, o que diria? Não sabia. Ele apena queria ouvir sua voz, seu sussurro, seu tom. Mas o telefone só dava aquele velho sinal de não atende. Na sala, a TV processava imagens coloridas de algum programa imbecil. O rádio, seu querido instrumento vintage no meio da sala, anunciava a sessão romântica dos sábados. E ele ali, com aquele copo nas mãos, o álbum de foto deles no colo e o telefone chamando, chamando. Sem resposta. Aliás, como tudo estava sendo. Ela tinha ido embora sem resposta, não atendia o telefone, não estava em casa quando ele ia até lá. E se tivesse acontecido alguma coisa com ela? Não tinha. Acontece que ele era bobo demais para perceber que a resposta estava tão simples. Bastava se olhar no espelho e perceber que não era mais aquele por quem um dia ela se apaixonou. Na verdade nem ela era a mesma. Mas ele era obcecado, alucinado por ela. O telefone chamava, chamava. E quando a garrafa de uisque já estava quase vazia, uma voz atendeu. Um homem atendeu. Um homem na casa de Clara. Era impossível. Desligou, rediscou, a voz maculina voltou a atender. Ele, confuso, achou melhor dormir. Tinha fé que no outro dia o telefone iria voltar a chamar sem parar.

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