sábado, 10 de setembro de 2011

Amargura.

Acordou meio amassada. Em meio ao cheiro de vodka que ainda reinava no quarto, sua boca seca e a sensação de que um trem tinha passado em cima dela denunciavam - a farra tinha sido longa. Levantou-se e esbarrando em alguns móveis, abriu a janela. Linda vista de uma praia paradisíaca. Tomou um banho e resolveu descer, tomar um ar sempre ajuda para quem tem ressaca.
A escolha da  tal praia não foi aleatória. Além de ser o lugar perfeito em relação à distância da cidade - nem muito longe, nem muito perto, não era a praia da moda - tinha resolvido se bronzear naquele final de semana e não queria ninguém por perto notando as recentes imperfeições no quadril, causadas por tanto filé com fritas acompanhado de cerveja.
O que ela não contava a ninguém é que exatamente naquele dia faria cinco anos que ela e Téo tinham passado aquela lua de mel improvisada na praia. E após meses de separação, gostaria de tirar de uma vez por todas a marca da aliança que ainda a fazia lembrar todos os dias - Téo passou por você.
Já tinha planejado todo o feriado. Toda vez que lembrasse da lua de mel, iria recordar antes da última vez em que estivera na praia - Comemoração de três anos de casada, um ciúme indevido pela moça do bar e um copo de mojito jogado no seu rosto. Aquilo a fazia sangrar por dentro e lembrar dos motivos que sim, queria tirar a marca da aliança. E não, não iria utilizar anéis de apoio para matar a saudade de roçar o dedo do meio com o dedo médio e sentir aquele conforto. Ia mesmo abandonar o vício, talvez nem usasse mais anéis. Estava cansada de todos aqueles papos, todas aquelas teorias infundadas "tem que contar um dia para cada mês que vocês ficaram juntos" "você só vai esquecer quando arrumar um novo amor" e blá blá blá, todas aquelas coisas que as pessoas dizem quando estão com dó de alguém que perdeu tudo na vida - melhor amigo, companheiro, parceiro e o grande amor. Tudo junto e misturado em Téo, que não era o melhor do mundo em nenhuma dessas qualidades, mas que juntava todas elas naquele corpo bronzeado como ninguém.
Deitou a canga na areia da praia, sentiu o vento brincar com os fios dos seus cabelos. Olhou para o lado, viu um casal, aparentemente, recém casados, sentiu um frio na espinha e sorriu. Foi quando percebeu que ao invés de sentir inveja ou saudade, pensava em como ia doer o copo de mojito que a mocinha ao lado receberia no rosto em alguns anos. Amargura dói, mas saudade dói mais.

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