segunda-feira, 19 de março de 2012

alianças vagabundas

Mas eu não te conheço de algum lugar? Não sei, as vezes eu acho que você guarda um segredo e que se essa história de sistema toda existir você deve saber do que acontece por trás das câmeras. Ou você sabe, apenas, o que acontece dentro de mim. Você desvenda meus pensamentos, minhas razões, minhas angústias e meus desejos mais íntimos. Você, menino. Você.

Foi isso que Sofia escreveu pra ele no bilhete amassado que agora ele lia em voz baixa. Sozinho, no quarto de dormir. Ele olhava as fotos na parede. Aquela viagem para Buenos Aires com preço promocional, o reveillon em Bangladesh. As alianças vagabundas compradas na feirinha hippie de Porto de Galinhas e o amor estampado no sorriso dela. Tudo aquilo tinha sido trocado pela "necessidade de liberdade, conhecer outras pessoas, quem sabe a gente se encontra, te amo, marcos, não tem nada a ver com amor" etc que Sofia tinha dito antes de ir embora. 
Há dois meses o coração dele também esperava que ela voltasse. Esperava que ela entrasse pela porta, como se nada tivesse acontecido, e que começasse a reclamar da bagunça daquela casa sem ela. Que começasse a tentar limpar os farelos velhos que estavam em cima da mesa e que reclamasse dele parecer um mendigo com aquela barba mal feita.
Ela, ironicamente, ao contrário do que Marcos pensava naquele instante, não estava numa festa e nem nos braços de outro homem. Ela estava na casa dos pais - pra onde jurou que jamais voltaria após fugir de casa com Marcos há uns 4 anos - deitada na cama, pensando nesse vazio que essa liberdade dá. Afinal, do que adiantava Sofia ter o mundo todo à disposição se a única pessoa que interessava era ele?

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