domingo, 26 de agosto de 2012

21

Lembro a primeira vez que eu fiquei sozinha em casa. Minha mãe tinha ido me buscar numa festa de aniversário de uma amiga da escola e o carro quebrou na volta pra casa. Voltamos andando e o meu pai voltou até lá com ela para resolver a situação do fiat uno azul metálico (horroroso, por sinal). Chovia muito naquela noite. Fiquei olhando da varanda a esquina da rua da minha casa, esperando que meus pais voltassem. Eles demoraram, no máximo, duas horas, mas parecia uma eternidade.
Outro dia estava no ponto de ônibus e uma menina de uns 3 ou 4 anos me olhava e sorria. Então sorri de volta e ela falou para sua mãe "olha, mãe, a mulher tá rindo". Inconscientemente olhei para os lados, procurando a tal mulher. Acontece que aqui, no auge dos meus 21, eu ainda não tinha reparado que não sou mais uma menina. E, acreditem, aquilo me pegou de surpresa.
Crescer dói. Dói pagar as contas e dói mais ainda arcar com as responsabilidades das nossas escolhas. Precisamos decidir o tempo inteiro. Açúcar ou adoçante, com ou sem leite, molho branco ou bolonhesa, ir de escada ou elevador, casar ou comprar um bicicleta. E todas, todas as nossas escolhas provocam reações. E não afetamos só a nós, afetamos a nossos pais, amigos, amantes, colegas de trabalho. Pessoas que lidam com o nosso mau humor, estresse, TPM e azia.
Então vem esse medo de agir, medo de magoar alguém por agir errado. E as vezes nem o medo nos poupa de sermos imprudentes, impulsivos, extravagantes.
Quando a gente tem medo aos 21 e não pode mais esperar os pais na varanda, o que a gente faz? Bem, eu acho que a gente deve começar a limpar toda a sujeira. Deve ser um bom começo.
A primeira tarefa que eu preciso fazer aos 21, portanto, é essa. Limpar toda a sujeira.
Vamos recomeçar. Com medo, é verdade. Mas quem tem medo também tem fé.