terça-feira, 11 de setembro de 2012

like a boy

Pedro acordou de um sono pesado. Há dias o vizinho fazia reforma no apartamento, o que impedia que as manhãs fossem silenciosas e as tardes fossem convidativas. Andava sendo difícil trocar a noite pelo dia, como Pedro mais gostava de fazer. Naquela semana, portanto, ele estava dormindo e acordando como a maior parte das pessoas - deitando com a madrugada e acordando com o sol.
Pode ter sido essa mudança drástica de rotina ou a falta do que fazer que andava fazendo a mente de Pedro trair o seu coração e ter sonhos com ela. Betina, que há meses não dava notícias, aparecia em sonhos que não tinham nada a ver, sabe? Uma verdadeira intrusa na imaginação involuntária de Pedro. Ele sonhava que estava jogando futebol e, logo depois, via o sorriso de Betina na imaginária arquibancada. Sonhava que estava em um tiroteio e um dos assaltantes era a própria Betina. Depois sonhou com cartas de baralhos e, deus, quem estava estampada em todas as cartas? Betina, Betina, Betina. 
Desempregado há três meses, as roupas estavam cada vez mais justas. A geladeira só tinha cerveja e água com gás. Mas pensando bem, ele só estava seguindo as regras. Afinal, há algo mais clichê do que um homem abandonado resolver deixar de trabalhar, fazer a barba e ir à academia? É isso que os homens fazem quando sofrem, não é? Bem, pelo menos era assim que Pedro fazia.

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