Toda vez que alguém fala da tragédia de Santa Maria, parece que eu levo um soco no meu peito. Não consigo mensurar o pavor que bate na minha garganta quando penso que poderia ter sido em qualquer lugar, até mesmo aqui. Até mesmo comigo.
Não sei bem o motivo, mas desde que soube da tragédia, comecei a me lembrar de quando comecei a andar sozinha de casa para o colégio e do colégio para casa. Eu andava rezando para que nada de ruim me acontecesse e com as mãos geladas, com medo da vulnerabilidade de estar ali, sozinha, podendo qualquer pessoa me fazer mal. É assim que eu volto a me sentir hoje. Talvez, por alguns anos, eu e todos os jovens deste país tenhamos achado o que todos os jovens pensam: conosco não vai acontecer.
Enquanto aquelas pessoas se arrumavam para sair, milhares de outros jovens também se embelezavam no sábado à noite. Provavelmente, muitos de nós dançamos as mesmas músicas que tocaram naquela boate e alguns até devem ter passado por situações parecidas. Rimos, cantamos e dançamos. Porque é isso o que os jovens fazem. Nós somos felizes, alegres e extrovertidos. Exatamente como a família da maioria das vítimas descreve os entes queridos que não sobreviveram.
E a mídia expõe os casos mais chocantes. Como o pai que sentiu um pressentimento ruim e foi para a frente da boate. Ou o estudante que tinha mais de 120 chamadas não atendidas no celular. Ou o namorado que mandou uma sms para a amada avisando que não conseguiria sair. Porque o fogo começou a acabar, pouco a pouco, não só com a vida de cada um, mas com a esperança. E nenhum jovem merece viver sem esperança.
O Brasil amanheceu de Luto. Foram mais de um milhão de sonhos cessados. Mais de 200 corpos enterrados. Mais de 100 estudantes feridos. Vidas que se transformaram em um segundo.
Vai passar.
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