Eu tinha uns cinco anos quando te apelidei de gigante. Quando uns meninos idiotas começaram a me amedrontar, entrei em casa, te chamei e mostrei a tua mão a todos eles. No mesmo momento eles pararam de me chatear. Foi quando eu descobri que, não importava o tamanho do problema, se eu te chamasse, iria estar tudo bem.
Mal consigo imaginar como será daqui pra frente. Nesse turbilhão de emoções das últimas semanas, confesso que ainda não comecei a viver, de fato, sem você. Daqui a alguns dias não terá hospital, velório, missa e nem ligações. Não terão pêsames, condolências e sinto muitos. Será minha saudade e eu. Nós duas formando uma dupla imbatível de falta de você. E como você faz falta, pai.
Sua presença na minha vida ultrapassou os limites da paternidade e nossa relação foi de melhores amigos. Não lembro de só um assunto que não tenha conversado com você. Não lembro de decisão alguma que tenha tomado sem os seus conselhos. Você foi meu norte, meu sul, minha alma gêmea. Foi meu melhor amigo, o homem da minha vida, o alicerce de todas as horas. A minha âncora, a minha paz, a minha guerra. A minha honra.
O mundo perdeu um pouco da sua graça, da sua cor e do seu sorriso. Não tem mais tanta graça ouvir Chico Buarque, não tem quem corrija meus erros gramaticais e nem me console das ressacas morais. Não tem quem me cubra na hora de dormir, quem me chame de pacotinho e que me ajude com os trabalhos da faculdade com a mesma atenção e carinho das tarefas escolares. Para você, eu nunca deixei de ser 'de menor'.
Pai, tua voz estridente ainda grita em meu coração. E todas as vezes que o telefone toca, eu penso que é você. Todas as vezes que eu penso em te contar uma novidade, uma piada ou de apenas te pedir que me ensine a lidar com toda essa confusão. Queria ter tido mais tempo.
Você vai viver dentro de mim. Dizem que também vive nos meus detalhes físicos e na minha personalidade. Mas o que ninguém sabe é que você está vivo no meu coração.
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