quarta-feira, 24 de junho de 2009

Sofia: dia de ressaca

Sofia estava completamente exausta. Chegou em casa, tirou os sapatos, pensou em tirar a maquiagem mas daria muito trabalho. Olhou o dia lá fora, que começava a raiar, e pensou 'hoje é dia de ressaca'. Suspirou e deprimiu, quase que ao mesmo tempo. Dia de ressaca significava um dia inteirinho sozinha em casa, em frente à TV e sem ninguém para sair, beber e esquecer (necessariamente nessa ordem). Sofia andava querendo esquecer a novela, o aluguel, o hospital, as dívidas, o ex-namorado, o microondas que tava quebrado. Queria esquecer essa vida normal, esse cotidiano barato (nem tão barato, porque o que ela andava gastando em cerveja...), queria esquecer seu nome. Numa confusão de tédio, choro travado e sono ela vai até a janela e acende um cigarro. Na primeira tragada lembrou que não tinha comprado a marca habitual e sentiu vontade de vomitar com aquele gosto novo. Olhou no relógio, eram 6:22. Pensou em caminhar, mas foi só olhar os pés ainda marcados (e massacrados) com a fivela da sandália que desistiu. Deitou na cama, fechou os olhos, ficou num meio termo entre dormir e imaginar. O telefone toca, Sofia pensa quem está atrapalhando seu sono e se surpreende ao ver o relógio marcando 11:57, ela ainda se sentia tão cansada, como se não tivesse chegado nem perto de sua cama. De péssimo humor atendeu o telefone:

-Oi
-Sofia? Oi, é Augusto
-Ah, oi. É... Oi, o que foi?
-Não foi nada, eu tava viajando, voltei hoje, lembrei de você

Um sorriso no céu da boca quase sai até os lábios de Sofia, mas ela o reprime e repete o mantra compulsivamente em sua mente "ele não presta, ele não gosta de você". Mas Sofia gostava dele mesmo assim.

Um comentário:

  1. "Queria esquecer essa vida normal, esse cotidiano barato (nem tão barato, porque o que ela andava gastando em cerveja...), queria esquecer seu nome."
    Mas a rotina de dedicar amor a quem não o merece é sempre a mesma. Para todas nós.

    Ótimo texto!

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