Sofia estava completamente exausta. Chegou em casa, tirou os sapatos, pensou em tirar a maquiagem mas daria muito trabalho. Olhou o dia lá fora, que começava a raiar, e pensou 'hoje é dia de ressaca'. Suspirou e deprimiu, quase que ao mesmo tempo. Dia de ressaca significava um dia inteirinho sozinha em casa, em frente à TV e sem ninguém para sair, beber e esquecer (necessariamente nessa ordem). Sofia andava querendo esquecer a novela, o aluguel, o hospital, as dívidas, o ex-namorado, o microondas que tava quebrado. Queria esquecer essa vida normal, esse cotidiano barato (nem tão barato, porque o que ela andava gastando em cerveja...), queria esquecer seu nome. Numa confusão de tédio, choro travado e sono ela vai até a janela e acende um cigarro. Na primeira tragada lembrou que não tinha comprado a marca habitual e sentiu vontade de vomitar com aquele gosto novo. Olhou no relógio, eram 6:22. Pensou em caminhar, mas foi só olhar os pés ainda marcados (e massacrados) com a fivela da sandália que desistiu. Deitou na cama, fechou os olhos, ficou num meio termo entre dormir e imaginar. O telefone toca, Sofia pensa quem está atrapalhando seu sono e se surpreende ao ver o relógio marcando 11:57, ela ainda se sentia tão cansada, como se não tivesse chegado nem perto de sua cama. De péssimo humor atendeu o telefone:
-Oi
-Sofia? Oi, é Augusto
-Ah, oi. É... Oi, o que foi?
-Não foi nada, eu tava viajando, voltei hoje, lembrei de você
Um sorriso no céu da boca quase sai até os lábios de Sofia, mas ela o reprime e repete o mantra compulsivamente em sua mente "ele não presta, ele não gosta de você". Mas Sofia gostava dele mesmo assim.
"Queria esquecer essa vida normal, esse cotidiano barato (nem tão barato, porque o que ela andava gastando em cerveja...), queria esquecer seu nome."
ResponderExcluirMas a rotina de dedicar amor a quem não o merece é sempre a mesma. Para todas nós.
Ótimo texto!