Sofia fechou os olhos e tentou não ouvir ele batendo a porta. Tentou não imaginar ele indo pra casa, triste, confuso, tenso. Tentou não pensar que dos olhos dele caiam lágrimas. E, além disso tudo, ela tentou sorrir. Ela apertou os olhos com mais força e lembrou da frase que sua mãe mais lhe falava 'tem que sangrar pra sarar depois'. Tem mesmo? Por que não simplificar? Por que não ficar no trivial, no básico, no feijão com arroz? Por que a gente sempre complica, sempre inventa motivos que acabam sempre tornando nossa felicidade infeliz? Questionamos demais, falamos demais, sentimos demais. E, mesmo quando tudo é perfeito, mesmo quando tudo é bonito, estragamos. Gostamos do desgaste, do sofrer, do complicar. Sofia chorou de saudade do momento que tinha acabado de acontecer. Era como se ela tivesse tido uma certeza absurda de que há 5 minutos atrás sua vida tinha outro rumo. E agora, depois das duas últimas palavras ("vá embora") ela sentia saudade daquele momento que antecedia, o que ela ainda não tinha mudado o rumo da história. Ele era parte dela, ela era parte dele. Eles eram um só, um nó. Então pra que ele aceitou? Por que ele fez o que ela disse? Por que ele foi? Ele queria ir? Queria, queria sim. Pronto, Sofia desaguou seu pranto, sentiu uma dor tão profunda e fina, mal conseguia respirar. E agora? De repente ela escuta a chave na porta. Ela olha para a porta e continua imóvel, incrédula. Ele se senta junto a ela, no chão, limpa as lágrimas pretas de maquiagem que manchavam a pele dela e a abraça:
-Eu só fui fumar.
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