segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
reflexos.
Olhei bem para seu rosto, suas mãos, olhei também para seus pés. Tentei prestar atenção em tudo, tentei gravar cada detalhe, cada expressão. O olhar já estava impaciente e me perguntava o tempo inteiro 'já posso ir?', apesar de todo silêncio, eu conseguia escutar. Puxei, forçadamente, seus dedos e entrelacei nos meus. Apertei, apertei com um pouco mais de força. Ele não tirava suas mãos das minhas, mas também não retribuia ao aperto. Tentei abraçá-lo, tentei sugá-lo. Tentei absorver tudo que eu podia. Na frente dele e de tudo que ele representava pra mim, na frente da minha vida inteira, na frente de mim mesma. Sorri para ele do jeito que ele gostava, esperei um sorriso de agradecimento, mas ganhei mais uma expressão inerte. Ele apenas me olhava, acho que na cabeça não passava muita coisa e, se passava, devia ser algo bem longe e distoante dali, pois ele realmente parecia não me enxergar. O abracei com mais força. Ele ficou parado por uns instantes, deixou que eu o abraçasse, deixou que eu tentasse difundir o meu corpo com o dele. Depois tentou se soltar, eu apenas exerci mais força e ele entendeu que eu apenas pedia mais um pouco. Por mais algum tempo fiquei ali, abraçada com minha própria vida, com o meu próprio eu, abraçada comigo, com ele, com tudo que nós fomos, com tudo que nós sonhamos. De repente senti repúdio do egoísmo dele, da vontade dele de querer ir embora, de colocar a culpa no tempo, no calor, nos outros, em mim, nos livros. A culpa era dele. Senti nojo dele, senti que se ele queria ir, era porque realmente era melhor que fosse. Me distanciei um pouco, me virei e com as costas viradas para ele eu disse 'agora pode ir'. Foi então quando percebi que ele já tinha ido, talvez antes mesmo de eu me virar. E chorei, pois de mim ele não queria mais nada, nem sequer o desprezo. Chorei por três minutos seguidos e as lágrimas pareciam cair sem controle. Depois parei, percebi detalhes bobos da casa como a pintura da parede que começava a envelhecer. Sentei no chão, rejeitei o sofá. O telefone tocou e eu não quis atender. Lá pelas quatro da tarde me levantei e passando pelo espelho do corredor tive a surpresa de ver o reflexo dele ao invés do meu. Desgraçado, me levou com ele. Se deixou aqui comigo.
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"E chorei, pois de mim ele não queria mais nada, nem sequer o desprezo."
ResponderExcluirEngraçado como isso acontece com uma frequência maior do que seria humanamente recomendável. =/