Sofia tinha um sistema paradoxal de se sentir para com o mundo. As vezes ela estava sozinha em seu canto, mas se sentia completamente acompanhada. Outras tantas ficava rodeada de gente, mas se sentia só. Hoje era um dia que Sofia se sentia só.
Os sons da rua pareciam estar em uma sintonia muito distante. Sofia se esforçou para cantar a música do rádio, prestar atenção na conversa da colega ou apenas conversar com alguém. Tudo para esquecer, abstrair que estava em um dia ruim. Nada adiantou. Tudo permaneceu assim, como acordou. E o sol já começava a se pôr. O desespero bateu mais forte, pois é na melancolia da noite que os sentimentos se aguçam - bons ou ruins.
Chegou em casa, se trancou no quarto. Não precisava, estava sozinha em casa. Mas girou a chave apenas para ter um pouco mais de certeza que nada iria atrapalhar sua solidão. Viu a antiga pilha de vinis, pensou "Quando vou ter tempo de arrumar isso?". Tempo. Era isso que lhe faltava. Para si e para o mundo.
O telefone tocou, o celular descarregou de tanto chamar. Até o interfone desparou, mas Sofia não se movia. Seja lá quem fosse, seria incapaz de entender sua solidão crônica, aquilo que lhe fazia querer matar toda a humanidade - já que não faria difirença. Fechou os olhos, sentiu o sono chegar. E respirou fundo, pedindo que no outro dia a disposição chegasse.
Nenhum comentário:
Postar um comentário