quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Sofia

Sofia saiu do banho e olhou para ele. Sentado na cama, olhava alguma coisa no computador. Ela se jogou ao seu lado. "Queria ser sempre o centro das atenções para você". Ele a beijou na testa e consolou "Você é mais interessante, mas isso é mais importante". Ela não se ofendeu. Levantou, enrolou a toalha no corpo e perguntou "Café?". Ele fingiu não ouvir. Então Sofia abriu as cortinas e viu que o sol brilhava lá fora. Mesmo assim, sentia frio. O barulho daquele quarto de hotel começou a irritá-la. O que estava fazendo ali? "Uma prisão de luxo", pensava. "Acho que vou dar uma volta, você vem?", ele não tirou os olhos do computador "Vá sozinha, depois te encontro''. Ela fez charme "E se eu não voltar?"."Você voltaria. Suas coisas estão aqui. Agora vá, me deixe trabalhar um pouco". Seco e impaciente, como sempre. Ela já devia saber. Tantos anos ao seu lado, sempre o acompanhando nas viagens nacionais, quando voltava ao Brasil, Sofia tinha se tornado mais que uma amiga. Era também amante dele. O homem que não amava mulheres, família, se quer amava bichos. Ele gostava de carros e dinheiro. Charutos, talvez. Mas dizia, surpreendentemente, amar Sofia. Ela não acreditava, não sentia. Mesmo assim, o amava também. Não por devolução, mas por pena. Tinha certeza que era a única no mundo que o conhecia tão bem e, mesmo assim, o queria bem. Terminou de se vestir, pegou o guarda-chuva. Ele, pela primeira vez no dia, olhou para ela. "Está fazendo sol, por que o guarda-chuva?". "Não sei até quando vou ficar lá fora" "Não sabe?" "Não sei quanto tempo a mais vai levar o seu trabalho" "Meu trabalho vai levar todo o tempo. Estou aqui para isso". O celular dela tocou, era Tom. Tom era a maior paixão de Sofia, moravam na mesma cidade e ela estava viajando com 'ele' há semanas, portanto há muito morria de saudades de Tom. Saiu do hotel, conversou com Tom ao telefone. Sentiu o céu, o sol e a voz de Tom lhe tocarem. E o dia, para Sofia, tinha acabado de começar.

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