terça-feira, 12 de julho de 2011

Loser's game.

Sentados ao chão, com a paciência de  crianças que nada têm a fazer além de esperar que alguma coisa aconteça, Sofia, Clara e Guto fazem um campeonato de derrotas. Decepções amorosas, cicatrizes no joelho, uma relação ruim com os pais e o gosto brega pela música. Tudo é válido para ver quem perde mais no jogo da vida. Até o momento, Guto estava ganhando.
O telefone de Clara tocou. A mãe, que morava em outro estado, tinha sofrido um acidente de carro e a irmã, que a acompanhava, tentou tranquilizar Clara da maneira que pôde, mesmo dando a notícia de que a mãe passaria por três cirurgias ainda naquela noite. O telefone foi desligado, Sofia e Guto não sabiam o que dizer. E Clara, surpreendentemente, deu uma gargalhada. "Acho que ganhei no jogo dos perdedores". Guto e Sofia também sorriram e os três não conseguiram parar de rir. A vida era uma piada mesmo.
Guto era ateu, não acreditava em Deus, nem no amor. Clara era católica, ia à missa todo domingo. Sofia  se dizia budista, mas ainda estava estudando sobre outras possibilidades religiosas. Mas, naquele dia, a fé dominou a vida dos três amigos. Não fé em algum deus ou em algum santo, mas a fé que o mundo não poderia ser tão cruel, as coisas iriam melhorar. Precisavam melhorar. Aquela maré ruim não duraria para sempre, eles eram fortes o suficiente para superar. Tudo ia ficar bem. Sim, tudo.
E lá se iam dez garrafas de cerveja, sapatos jogados ao alto e muitos sorrisos. Clara ligou para sua irmã. Sua mãe passava bem e os riscos de morte tinham desaparecido. Seria essa uma noite de sorte?
Guto olhou pela janela do apartamento e viu quando dois garotos passaram correndo da polícia e jogaram uma pedra, tentando acertar a viatura. Erraram a mira e, claro, a pedra foi no carro de Guto, que tinha acabado de sair do conserto. Guto virou e viu que as meninas comentavam sobre uma nova onda de sorte. Não contou do carro. Apenas abriu mais uma cerveja, distribuiu entre os copos e suspirou "se nada der certo, ao menos ainda poderemos jogar o jogo dos perdedores". E nada mais importava naquela noite do que sorrir.

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