segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

the last.

Pelo quarto ano seguido se encontraram no bar da esquina. Na rua, o trânsito gritava ao som de buzinadas impacientes. No bar, rostos velhos e conhecidos. Estava claro, não era mais um bar de calouros, eles já eram a velha guarda. Em pensar que há quatro anos nada era tão conhecido e comum assim.
A convivência diária os fez compreender que qualquer pessoa do mundo merece o seu respeito e, se possível, a sua compreensão. Fumantes, caretas, gays, héteros, católicos e ateus. Tinha de tudo, sem clichê, tinha mesmo. Mas o que quase já não havia eram os rastros de quem eles eram nos anos anteriores. Os sonhos, as conversas, as roupas e as expressões. Se colocassem as cenas em paralelo, poderíamos dizer que eram cosplays deles mesmos, com um estilo parecido com alguém que existiu há anos atras. A tolerância também aumentou, a pouca vergonha dilatou e o pudor diminuiu. Hoje, naquele instante, eram mais eles do que jamais tinham sido. E não precisavam falar exageradamente sobre si nem fazer perguntas incansáveis sobre o outro, pois o que precisavam saber, já sabiam. Estavam numa fase tão bonita e tão madura que o silêncio bastava.
E conversavam não apenas sobre as aulas, mas sobre dinheiro, aluguel, namoro e preço da gasolina. Conseguiam manter conversas que só faziam sentido pra eles mesmos e que dentro daquela bolha em que viviam eram as melhores conversas da Terra. E foi assim que resolveram não entrar, resolveram tomar uma, duas, três, sete cervejas, conversar bobagens e fazer silêncio. E foi dessa forma que começou a última temporada deles juntos. O último melhor ano de suas vidas.

Apesar da minha fama melancólica e da minha insistência em ser alguém dramático, foi há quatro anos que conheci a família que eu escolhi pra dividir a coisa mais preciosa que tenho na vida: quem sou de verdade. Entre gargalhadas e dias ruins, o meu dia acaba mais feliz por encontrar essas pessoas 6 vezes por semana. Através deles conheci amigos, conheci lugares, músicas, filmes e cores. Mas conheci, principalmente, a mim mesma e descobri a minha capacidade de amar incondicionalmente. 

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