E foram meses nessa fuga incansável, nesse dom de desviar os sentimentos, as sensações e a saudade. Se passava, não olhava. Se via, fingia que era engano. E o tempo foi passando e Sofia foi se acostumando a olhar pra baixo toda vez que passava por aquele prédio verde naquela avenida movimentada.
Até que um dia Sofia esqueceu. Esqueceu que o prédio estava lá, continuou, empolgada, cantando Caetano dentro do carro e quando viu, já tinha visto o prédio. E aí foi a surpresa: ela não sentiu nada. Nem arrepio, nem sentimento de angústia, nem medo.
O significado das coisas pode mudar. Não a importância, mas o significado. Foi quando Sofia percebeu que naquele prédio, naquele terceiro andar, naquele apartamento ela já tinha depositado a sua vida inteira. E hoje, naquele momento, só restava uma coisa: saudade.
Sorriu, continuou a cantar a música e voltou a frequentar a avenida principal.
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