domingo, 25 de março de 2012

avenida principal

Ele morava numa avenida bem movimentada, uma das principais da cidade. Sofia, então, comprou um mapa da cidade e começou a tentar caminhos alternativos que não a levassem a olhar a varanda, a janela do quarto, ver um pedacinho do teto e do lustre da casa dele. Passar na frente da casa de Téo era como passar na frente de um cemitério. Não dava para fazer isso sem sentir, ao menos, um calafrio.
E foram meses nessa fuga incansável, nesse dom de desviar os sentimentos, as sensações e a saudade. Se passava, não olhava. Se via, fingia que era engano. E o tempo foi passando e Sofia foi se acostumando a olhar pra baixo toda vez que passava por aquele prédio verde naquela avenida movimentada.
Até que um dia Sofia esqueceu. Esqueceu que o prédio estava lá, continuou, empolgada, cantando Caetano dentro do carro e quando viu, já tinha visto o prédio. E aí foi a surpresa: ela não sentiu nada. Nem arrepio, nem sentimento de angústia, nem medo.
O significado das coisas pode mudar. Não a importância, mas o significado. Foi quando Sofia percebeu que naquele prédio, naquele terceiro andar, naquele apartamento ela já tinha depositado a sua vida inteira. E hoje, naquele momento, só restava uma coisa: saudade.
Sorriu, continuou a cantar a música e voltou a frequentar a avenida principal.

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