O garçom trouxe os pratos. Começaram a comer e, a cada garfada, Marcelo tinha mais medo. Medo que Luciana dissesse "que porra é essa", mas ela engolia cada pedaço e parecia pensativa. Ele conseguiu relaxar um pouco e aproveitar o sabor do filé ao molho madeira. Luciana até achou o prato de Marcelo mais bonito que o dela, pensou em pedir pra provar, mas seria indelicado.
Então ela lembrou daquele dia na casa de Bruno, em que ele cozinhou um cachorro quente muito ruim e os dois se lambuzavam de molho vermelho. Assim, sem se preocupar em parecer bela, educada ou de família, Luciana se sentia à vontade com Bruno como jamais se sentiu com Marcelo. Pena que, além de Luciana, Bruno fazia outras três garotas também se sentirem à vontade e aí o romance não durou.
Voltando ao filé ao molho madeira, Marcelo continuava a pensar "que porra é essa?" e pensava que Luciana sentia o mesmo. Mas já que ela nada falava, ele também resolvia se calar. Terminaram o jantar. "Sobremesa?" o garçom perguntou, quebrando o silêncio. Luciana disse "eu não quero, você quer?" bla bla bla, foram pra casa.
Boa noite, meu amor, até amanhã, amo você. E deitados em posições opostas - porque não tinha problema, era bom esticar a coluna e a claridade incomodava Luciana, dormir de conchinha era muito mainstream - dormiram abraçados com o medo de amanhã não conseguirem mais se olhar.
E ainda dizem que o amor engorda. O que engorda são as garfadas que a gente dá para evitar a conversa, as risadas e os beijos mal educados.