terça-feira, 3 de novembro de 2009
Cap. I - um estranho no ninho de Alice
Alice e Rodrigo desembarcaram no aeroporto interiorano. A cidade não era das menos desenvolvidas. "Aqui é o interior com mais cara de cidade grande" dizia o patético prefeito. Alice ria da cara desconfortável de Rodrigo. Ela tinha crescido ali e por mais que sua mente jamais tivesse pertencido aquele lugar, ela gostava de visitá-lo duas, três vezes por ano. Rever os pais, os conhecidos de infância. Ver como todas, literalmente todas as suas coleguinhas de primário já estavam casadas, com filhos. Ela dizia para a mãe "isso não é pra mim" e realmente não era. Tinha levado Rodrigo com ela dessa vez. "Alice trará o namorado, querido" dizia a mãe ao pai, enquanto Alice falava em tom repetitivo do outro lado da linha "mãaae, não é meu namorado!" e não era. Rodrigo havia chegado em sua vida há dois anos. No começo eles não se suportavam. Tinham se esbarrado em um seminário onde se alfinetaram com seus divergentes pontos de vista e alguns meses depois se reencontraram numa mesa de bar de amigos em comum. Começaram a se ver frequentemente, por conta dos tais amigos, e depois de algum tempo se viram trocando e-mails e mais tarde telefonemas. Horas e horas no telefone diariamente, almoços sofisticadíssimos na Mc Donald's do centro. Depois de 6 meses lineares acordaram um belo dia dividindo a mesma cama. Não foi surpresa. Também não tocaram no assunto depois. Aconteceu outras vezes, com frequencia, é verdade. E já que há tanto dividia tudo com Rodrigo, resolveu que iria levá-lo até sua cidade natal, para que ele bebesse o leite fresco da fazenda vizinha e tomasse sorvete de flocos com ela na praça. "Extremamente empolgante" dizia ele com sarcasmo ao vê-la descrever esse tipo de programa do interior. Ela ria e dizia "Você vai sobreviver". Pois bem, chegaram ao salão de desembarque, "Alice! Alice! Alice!" eram exclames altos, Rodrigo olhou ao redor e não acreditou no que viu. Cerca de 15, 16 pessoas, com apitos, bolas de encher... parecia uma festa. De repente percebeu que Alice não estava mais ao seu lado, ela abraçava um coroa bigodudo que dizia "minha princesinha". De repente ela olhou para trás, como lembrando-se que esqueceu de algo e disse "Rodrigo, vem aqui", ele foi. Rodrigo não gostava de toques físicos em quem não conhecia. Alice ria maliciosamente ao vê-lo sendo forçado a abraçar pessoas como Tia Isa - que tinha 73 anos, era surda e cheirava a agrião. Depois de se divertir o bastante, deu um jeito de tirá-lo de lá, "Gente, o rapaz tá cansado, vamos logo". Ele a olhou com a cara mais desesperadora que ela já o tinha visto fazer e disse "É só o começo, não é?" ela deu uma de suas escandalosas risadas e balançou a cabeça afirmando "Você nem imagina o resto".
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