"Ele beijou seus lábios, ela teve vontade de dizer que o amava, que estava com saudades; se segurou"
Sofia entrou no velho e bom café da esquina. Aquele ambiente tão íntimo, que por vezes serviu de plano de fundo para as cenas de sua vida. Quantos choros nos ombros das amigas, dores de cotovelo curadas a base de chá mate e limão. De vez em quando, quando a seriedade pedia, mandavam descer aquela cerveja "semi-importada" e pensavam estar bêbadas - já que não dá pra ficar bêbada com uma cerveja que custa 7 reais. Pois bem, Sofia entrou no lugar de sempre, falou com Afonso, o garçom que lhe atendia sempre. Viu todos os doces do cardápio, não pediu nada a mais do que seu velho café com menta. Foi quando Ele atravessou a porta de vidro. Sofia sentiu o coração enlouquecido, mas ela não deixou mostrar. Ele beijou seus lábios, ela teve vontade de dizer que o amava, que estava com saudades; se segurou.
Ele vestia tênis vermelho e usava um casaco velho e um tanto sujo. Como sempre, sem cerimônia e romantismo, foi franco e encurtou as carícias do encontro com a delicada frase 'preciso tirar água do joelho'. Sofia estava acostumada com aquele jeito. Afinal, há quanto tempo já estavam juntos? Bem juntos, na verdade "juntos", na prática, pois na teoria ainda eram amigos. Não conversavam sobre o que acontecia, o que tinham, o silêncio e as atitudes se faziam valer. Um filme passava na cabeça de Sofia, desde o dia em que tinha o visto pela primeira vez até o dia de hoje, onde já havia tanta intimidade. Foi pensando na vida que encostou a cabeça no balcão, afim de dormir e sonhar. Só então percebeu que junto a chave do carro dele e à carteira tinha um bilhete e algo embrulhado com papel brilhante. Sofia, intuitivamente, achou que era pra ela e abriu o pequeno presente amarrotado. O bilhete dizia 'seja minha' e o objeto metálico caiu no chão, rodou uns segundos e parou nos pés de Sofia. Ela abaixou-se, era uma aliança. Quando se levantou ele havia voltado e estava em sua frente, com um olhar ansioso. Ela apenas colocou o anel em seu dedo e beijou-lhe os lábios. Era a prova de que até mesmo os brutos ou as modernas, todos são românticos. E, no final das contas, todos queremos alianças.
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