Seria por uma banalidade, ela sabia. Depois de aguentar tantos fardos, fatos e falsos, ela sabia que por uma simples agulhinha, iria pirar. Pirou. Não tinha mais força para formar frases que fizessem sentido. Jogou tudo pro alto. Pediu demissão, acabou o namoro, fugiu de casa. Jogou o telefone celular no mar, perdeu a carteira, os documentos, se perdeu. Tirou o relógio do pulso, se sentiu livre. Olhou o céu, tentou respirar, respirar, respirar. Viu que ao seu redor as pessoas passavam, a olhavam, deviam cogitar "essa daí não tem mais nada o que fazer da vida". Ela tinha. Tinha tanto a se fazer, tanto que resolveu não fazer nada. Sabia que logo alguém chegaria para tirá-la do "surto". Encostou os pés na areia, alisou os próprios cabelos. "Queria um cafuné", pensou. Mas já que não tinha ninguém, ela mesma poderia fazê-lo. E se alisou, se deu carinho. Se entendeu. Estava com aquela sensação ninguémnomundomeentende e foi quando ele chegou, suado.
-Você está louca? Todo mundo está procurando você
Ela sorriu, como que desdenhasse da frase,
-'Todo mundo' quem?
-Todas as pessoas que você conseguiu tirar do sério, com esse sumiço sem pé ou cabeça
Ela sentiu vontade de explicar. Sentiu mesmo. Mas não, sabia que se esforçaria, mas ele não entenderia. Há coisas que só a gente entende, não é verdade? Então fez o que sabia fazer de melhor. Fingiu.
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