Lavou o rosto com força, parecia querer se machucar. Deixou, de propósito, o sabão entrar nos olhos. Talvez se algo ardesse ou doesse muito, ela conseguisse esquecer a mágoa que habitava em seu peito naquele instante. Decepção. Tristeza. Sofia estava indignada, perplexa. Qualquer termo mais exagerado e dramático também cai bem.
O que ela não entendia era a contradição do mundo sentimentalista. Ama, mas maltrata. Cuida, mas esquece. Entende, mas não compreende. Confessa, mas não muda. Um cansaço avassalador possuiu seu corpo. Quis deitar e não acordar nunca mais. Diante de tantos perdões, tantos recomeços, tantas chances de fazer tudo dar certo. Não deu certo. O pior é que Sofia sabia que aquela não seria a última vez que sentiria aquilo. As coisas não iriam mudar.
A vontade era de correr descalça, como que para se sentir viva de novo. O mundo inteiro se acabando, tudo se dissolvendo, mas Sofia sorria. Apenas esse tal assunto, esse tal de amor, a tirava o equilíbrio. Era justo? Não, não era justo. Ia acontecer de novo? Sim, ela sabia disso. Então por que não conseguia dar um basta em tudo isso? Isso ela não conseguiu responder. Aliás, ela não conseguiu agir. Sufocada pelo choro, engasgou com a própria angústia.
Ela estava se acostumando. Pobre Sofia.
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