E aí ela olhou pra ele, o viu em tantas fases diferentes. Naquele dia em que os dois tinham levado um fora e foram beber juntos, naquela viagem que fizeram com a turma e quase morreram no trânsito, daquela noite em que não tinham nada mais a fazer do que tomar uma garrafa de vinho juntos. Dos tantos dias que ela e ele, ainda tão novos, saíram escondidos do colégio e foram passear no shopping, das vezes que ela tinha pintado o cabelo de roxo, rosa e azul e ele tinha dado risada. Daquela briga catastrófica que ela jogou um copo de cerveja na cara dele no meio da festa, na eterna briga deles dois entre Beatles e Nirvana e dos momentos fofos. Poucos, é verdade, mas olhando assim como um todo, pareciam até muitos.
Encheu o peito, olhou no espelho, pensou nas tantas possibilidades. Se fosse coisa da cabeça dela, se ele não gostasse dela como ela gostava dele, se na verdade ela tivesse descoberto que ele gostava dela e tivesse tentando gostar dele só por obrigação. Mas ela era do tipo impulsiva, sabe como é, dessas que só sossegam quando falam, alarmam, colocam as coisas para fora. E foi, foi até a casa dele. Ele abriu a porta, estava de cueca samba canção e como se não já tivesse o visto assim tantas vezes, ficou constrangida - pela primeira vez. "Preciso falar com você" os dois falaram juntos. E aí ele se antecipou: "Olha, eu ia te contar antes, eu juro. Não se assusta" Ela fechou a mão e segurou forte, já estava pronta para dizer eu também, ele deu aquele sorriso sarcástico. "Olha, a Aninha, sua prima, eu to comendo dela de novo."
E tudo voltou a ser como sempre foi.
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