domingo, 6 de novembro de 2011

Dois.

A mesa estava cheia. a música tocava no ambiente e Fagner gritava na radiola "se ao teu lado sei tão pouco de você, é pelos outros que eu sei quem você é' e Sofia viu um casal dançando ao lado na pista de dança mais decadente que já tinha visto. O boteco mais sujo da cidade tinha virado ponto de encontro entre Sofia, seus novos amigos do mestrado, seu núcleo de amigos gays e alguns amigos aleatórios como Nina, amiga que conheceu numa feirinha de artesanato e a quem comprou uma pulseira de prata - falsa.
Ao mesmo tempo, do outro lado da cidade, Roberto assistia a uma apresentação de jazz experimental, ouvia o som e seu sangue fervia. Ao seu lado, a roqueira de batom vermelho tinha belas curvas e um belo sorriso e bebia uma dose de uísque 12 anos. Roberto, então, ofereceu à Roqueira uma próxima rodada do drink e ela consentiu com um sorriso. Esqueceu o cartão de crédito. Merda! Foi sair para tirar dinheiro no posto de gasolina perto do bar. A roqueira era linda demais para deixá-la sem uísque.
Voltando a cena de Sofia no boteco mais sujo, em que Fagner conduzia  um casal na pista de dança mais decadente do mundo, o assunto agora era um conhecido de todos que andava anunciando que poderia vir um dia a talvez sair do armário. O papo consistia em todos os gays da mesma afirmarem que fulano sim-é-gay-eu-conheço-um-gay-de-longe-meu-amor e das garotas heteros falarem que não-acho-que-naquela-festa-no-prédio-da-cláudia-ele-queria-me-beijar. Isolada, Sofia continuava ouvindo a letra que saía da radiola. Agora, The Police empolgava com Every Breath You Take. Garçom, mais uma cerveja, por favor.
Roberto voltou ao bar, esticou o braço com o copo de uísque na mão para a roqueira bonitinha e antes que ela fisgasse a bebida, falou "me diga seu nome primeiro" e ela sorridente falou "Gisela" e aí eles começaram um papo besta sobre como era importante o incentivo a eventos como esse, que jazz experimental era o máximo e que gostavam muito daquele bar.
Sofia foi puxada para dançar por um mocinho da mesa ao lado.Dessa vez, a brega radiola tocava Gal Costa "Baby, baby, baby, eu sei que é assim, baby, baby, baby" e Sofia rodopiava com o mocinho no salão. Ele a levou até a quina da parece, colocou sua mão na perna de Sofia e beijou seu pescoço. Sofia rodou a nunca, dando uma volta tão longe que parecia nunca querer chegar na boca do mocinho. Até que chegou.
Roberto continuava o papo cabeça com a roqueira Gisela, até que a menina se cansou, um pouco envergonhada, é verdade, disse que morava ali perto e que poderia continuar a conversa por lá. Chegando ao sofá de Gisela, Roberto a pegou com força, a trouxe para cima de si e a beijou.
Sofia beijava o mocinho da mesa ao lado, Roberto beijava a roqueira bonitinha. E a sensação era, sempre, a mesma. Nenhum lábio era tão macio e as bocas jamais se encaixariam tão bem novamente como foi um dia. E naquele momento, exatamente naquele momento e talvez apenas naquele momento, Sofia e Roberto sentiram saudades.

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