Estava com dois dos meus melhores amigos. A noite de ano novo é a minha preferida do ano. Usei uma calcinha rosa, que era pra ter amor, brincos e pulseira dourados, para ter dinheiro e uma medalha no peito em forma de relógio, que era pra o tempo vir e curar as dores, trazer novas cores.
5, 4, 3, 2, 1. As pessoas se abraçaram. Eu fiquei olhando, sozinha, para os fogos da praia de Boa Viagem. Ali, na cobertura daquele prédio, rodeada de centenas de pessoas no galpão, eu estava só. Eu estava feliz. As cores no céu, o barulho das garrafas explodindo e um pedido, apenas um pedido: mudança. Eu queria mudar.
Acordei no dia primeiro de janeiro e corri para o espelho. Nada tinha mudado. Perdi as esperanças. Não iria ser mágico? Não, não iria. Voltei a dormir. Acordei às 14h e não olhei mais no espelho. Até hoje.
Hoje eu me dei conta de como o tempo passou rápido e de como as dores foram embora. De como me acostumei com a ausência de certas pessoas e de como me apaixonei pela presença de outras. E eu acho que esses quatro meses de 2012 foram mais importantes para a minha mudança do que qualquer outro período da vida inteira. Se os Maias estiverem certos, eu morro em 2012, mas morro renovada.
Ando tendo ideias, sentimentos e reações pouco comuns. Ao longo dos anos, aprendi a cultivar o cinismo. Mas tenho percebido que minhas reações e sentimentos estão cada vez mais à mostra. Teria eu perdido a capacidade de fingir? Teria eu perdido a capacidade e o direito de guardar o que eu sinto só pra mim?
Também me percebo seca em alguns momentos. Tenho chorado menos. De alegria e de tristeza. Algumas lágrias caem. Duas ou três, no máximo. Mas cadê o choro compulsivo, poxa? Ele não vinha umas duas ou três vezes por semana?
E coração de galinha. Eu sempre tive a maior pena na minha vida de comer coração de galinha. E agora eu peço coração de galinha no meio do bar?! Assim, como quem não tem pena das galinhas?
E a música? Eu não vou pro show de los hermanos, não ouço mais Marisa, nem Caetano e nem Gil ultimamente. Tenho escutado Foster the People e publicado fotos no instagram. Meu deus, sou hipster?
Eu não sei pra onde estou indo, não sei com quem estou indo. Desacertei os ponteiros e as direções. Eu to com medo, mas to feliz. E, de tão feliz, decidi uma coisa. Sofia is dead. Sofia me representou por anos. E foi o retrato dos meus sentimentos durante a minha transição da vida boa para a vida difícil - leia-se adolescente para vida adulta. Por isso, vou criar outra personagem. Alguém que represente esse novo eu, essa nova Duda, essa nova etapa, a nova história. Sofia chorou, sorriu, amou, casou com Téo, separou, disse a ele que era tarde demais, acreditou de novo no amor. E Sofia agora vai descansar um pouco, ficar em stand by, quem sabe. Talvez um dia ela volte, talvez uma hora ela apareça e cruze comigo. E aí eu conto tudo aqui, nesse vão de palavras rudes.
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