domingo, 18 de outubro de 2009

Sofia abriu a janela do quarto, respirou profundamente. Enfim sentia o cheiro do seu velho bairro pacato de novo. Depois de semanas viajando, de tantos dias fora, percebeu que lugar algum a fazia tão bem quanto a sua própria cama. Se sentou numa poltrona que ficava estrategicamente em frente à janela. Olhou o rapaz que vendia sorvete passando e riu. Riu por sentir emoção ao ver aquela cena tão ridícula, de um cotidiano tão simples, mas que era dela. Ela olhou as paredes do quarto, os avisos e bilhetes ainda estavam colados e pensou como era bom se sentir em casa. De repente olhou algo brilhando no chão, se abaixou e pegou o pequeno pedaço de vidro. Eram cacos do porta-retrato que ela tinha jogado ao chão, momentos antes de viajar. Seus olhos encheram de lágrimas, mas mesmo assim sorriu. Lembrou que ao quebrar a foto momentos antes de embarcar, tinha como intuito não deixar nada em sua casa que lembrasse 'ele'. A viagem a faria esquecer de vez o idiota, e na volta ela nem se daria conta que a prateleira estava com uma foto a menos. Ingênua Sofia! Marcelo estava em seu coração, em sua mente, em seus gestos. Ela era ele. Suas atitudes, o que pedia, o que comia, o que dizia. Tudo ainda estava impregnado com o cheiro dele. Em vez de se aburrecer Sofia abriu uma gaveta, pegou um álbum de fotos, escolheu uma em que ele estava deitado em seu colo. Lembrou daquele dia e com detalhes conseguiu sentir o cheiro da pele dele de novo. Colocou a foto em sua prateleira, aliviada:

-Diante dos meus olhos, dentro de mim... -
Fechou os olhos, abraçou a foto- Nem uma volta ao mundo arrancaria você de mim. Você estava comigo o tempo inteiro. Não posso fazer muito, então decidi que por enquanto vou continuar fazendo o de sempre: amando você.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Ela o abraçou com força, quase o sufocou. Deitou no meio das pernas dele, puxou sua mão e praticamente forçou um cafuné:

-Sabe o que eu queria agora?
-Deixa eu imaginar... Um milkshake de ovomaltine, bem grande
-Eu falei o que EU queria agora, não o que VOCÊ quer.
-Tá, o que você queria agora?
-Sair daqui - e olhou pra baixo, como quem se arrependeu de ter dito
-Meu colo e meu cafuné estão tão péssimos assim, Dona Sofia?
-Eu os levaria comigo, juro
-Por que você nunca está satisfeita com o que tem? Por que você sempre 'queria' algo mais?

ela colou os olhos fixamente nele e com um tom ironicamente ofendido respondeu:

-No dia que eu parar de buscar as coisas, eu não estarei bem. É da minha natureza o que você chama de 'insatisfação' e eu jamais quero perder isso.
-No dia que eu te der tudo, Sofia. Quer dizer, se eu conseguisse um dia te dar tudo, o que mais você iria querer?
-Voar.

domingo, 11 de outubro de 2009

Acordei e vi os dois olhos dela fixados em mim. Pensei que não fosse conseguir falar nada, pois minha mente ficou presa ao fascínio daquela cena. Era a primeira vez que eu a via sem maquiagem e ela era ainda mais linda. A boca dela se abriu devagar, como se fosse soltar alguma palavra, mas ela rapidamente trocou por um sorriso...

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

apenas escolha


Bom, certas pessoas possuem dificuldades em falar em público, outras em decorar os nomes alheios, outras de comer verdura. Minha dificuldade sempre foi escolher. Entre 'um e outro' eu sempre ficava com os dois, ou sem nem nenhum. Mas o duro sempre foi deixar algo pra trás, mesmo que aquilo não tenha me pertencido de forma que sua falta me matasse, ainda assim, mesmo com a certeza da superação, eu sempre tive medo de abandonar. Escolher outro caminho, ter a coragem de decidir um novo rumo. É, isso dá medo. Isso treme minhas pernas, faz com que minhas mãos fiquem geladas e me tira o sono. Estar dividida entre o velho e o novo, o certo e o duvidoso, o começo ou o fim. E quando você embarca em um dos dois rumos, você invitavelmente pensa em tudo que está perdendo do outro lado. O ser humano é assim, nunca se contenta com o que tem, é mais fácil se emburrecer pelo que não teve. Mas e agora? Tempo esgotado, preciso decidir. Bom, 'numa guerra existem heróis dos dois lados'. E que o herói do meu lado seja muito mais legal.