Cresci na praia. Tanto que quando pequena, eu era galega e não, não era de família. Meus cachinhos dourados faziam a família perguntar, com tom de censura, toda semana à minha mãe "Você tá pintando o cabelo dela?". Apesar disso, quando cresci perdi um pouco o hábito de ir à praia. Tempo, coragem, estar fora de forma, preguiça, não gostar de multidão etc. Todas as desculpas eram válidas quando minha mãe, todos os sábados, batia na porta do meu quarto e perguntava "Não quer ir?". Com o passar do tempo, ela parou de chamar.
Trabalho com o que mais gosto: redes sociais. Passo 12 horas por dia na frente do pc, 8h do ponto e, no mínimo, mais quatro stalkeando e escrevendo besteira por aí. Fora o celular que não me deixa desligar nunca e que me possibilita acessar o Face antes mesmo de tirar o lençol do corpo, encolhidinha na cama. Entretanto, senti muita, muita vontade de me desligar de tudo esses dias. Precisei respirar outros ares, quem sabe ares antigos com sabor de carangueijo e caldinho de marisco? Então vamo! Eu e mais três amigos fomos para, exatamente, a praia que eu passei a maior parte da minha vida. Maria Farinha é uma das poucas praias que a prefeitura não colocou pedras para evitar a agressão do mar e, portanto, a maré lá quando enche, enche de verdade. Sentamos no bar da Ceça e Vânia (acho que na verdade é Vânia e Ceça) e pedimos uma fritada de aratu. "Tem não, só no final de semana" "Então vem uma rodada de caldinho de sururu" "Também não tem só nos sábados". Já sem expectativas, perguntamos "Tem o quê?" E Jac, nossa garçonete brother começou a nos trazer o que eles tinham. Uma, duas, três, quatro cervejas, talvez mais, talvez o dobro que isso, talvez meia grade de cerveja na verdade e muitas, muitas histórias. Quando o sol foi caindo e o mar enchendo, tivemos a brilhante ideia de alugar um colchão inflável. A diversão custava R$4 e poderíamos usar por uma hora. Acho que na verdade usamos por umas três e dinheiro algum compraria todas as risadas que demos. Em um momento, sentimos falta dos nossos pais pedindo que não nos afastássemos muito da barraca e que voltássemos para reforçar o protetor solar. Quatro crianças de 20 anos (e olha que eu to sendo boazinha) com um colchão de casal inflável, no mar, brincando de ficar em pé até a onda bater. Em quanto isso, blackberrys, androides e smartphones esperavam dentro das bolsas que tinham ficado lá no barzinho, aos cuidados de Jac.
Saímos de lá completamente renovados. Na volta pra casa, um CD de 2007 de um dos três amigos nostalgiava o Green Day:
I walk this empty street
on the Boulevard of broken dreams
where the city sleeps
and I'm the only one and I walk alone
E lá se foi um dia para não esquecer jamais. Feliz vida.
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
Friendship
E aí ela olhou pra ele, o viu em tantas fases diferentes. Naquele dia em que os dois tinham levado um fora e foram beber juntos, naquela viagem que fizeram com a turma e quase morreram no trânsito, daquela noite em que não tinham nada mais a fazer do que tomar uma garrafa de vinho juntos. Dos tantos dias que ela e ele, ainda tão novos, saíram escondidos do colégio e foram passear no shopping, das vezes que ela tinha pintado o cabelo de roxo, rosa e azul e ele tinha dado risada. Daquela briga catastrófica que ela jogou um copo de cerveja na cara dele no meio da festa, na eterna briga deles dois entre Beatles e Nirvana e dos momentos fofos. Poucos, é verdade, mas olhando assim como um todo, pareciam até muitos.
Encheu o peito, olhou no espelho, pensou nas tantas possibilidades. Se fosse coisa da cabeça dela, se ele não gostasse dela como ela gostava dele, se na verdade ela tivesse descoberto que ele gostava dela e tivesse tentando gostar dele só por obrigação. Mas ela era do tipo impulsiva, sabe como é, dessas que só sossegam quando falam, alarmam, colocam as coisas para fora. E foi, foi até a casa dele. Ele abriu a porta, estava de cueca samba canção e como se não já tivesse o visto assim tantas vezes, ficou constrangida - pela primeira vez. "Preciso falar com você" os dois falaram juntos. E aí ele se antecipou: "Olha, eu ia te contar antes, eu juro. Não se assusta" Ela fechou a mão e segurou forte, já estava pronta para dizer eu também, ele deu aquele sorriso sarcástico. "Olha, a Aninha, sua prima, eu to comendo dela de novo."
E tudo voltou a ser como sempre foi.
Encheu o peito, olhou no espelho, pensou nas tantas possibilidades. Se fosse coisa da cabeça dela, se ele não gostasse dela como ela gostava dele, se na verdade ela tivesse descoberto que ele gostava dela e tivesse tentando gostar dele só por obrigação. Mas ela era do tipo impulsiva, sabe como é, dessas que só sossegam quando falam, alarmam, colocam as coisas para fora. E foi, foi até a casa dele. Ele abriu a porta, estava de cueca samba canção e como se não já tivesse o visto assim tantas vezes, ficou constrangida - pela primeira vez. "Preciso falar com você" os dois falaram juntos. E aí ele se antecipou: "Olha, eu ia te contar antes, eu juro. Não se assusta" Ela fechou a mão e segurou forte, já estava pronta para dizer eu também, ele deu aquele sorriso sarcástico. "Olha, a Aninha, sua prima, eu to comendo dela de novo."
E tudo voltou a ser como sempre foi.
domingo, 6 de novembro de 2011
Dois.
A mesa estava cheia. a música tocava no ambiente e Fagner gritava na radiola "se ao teu lado sei tão pouco de você, é pelos outros que eu sei quem você é' e Sofia viu um casal dançando ao lado na pista de dança mais decadente que já tinha visto. O boteco mais sujo da cidade tinha virado ponto de encontro entre Sofia, seus novos amigos do mestrado, seu núcleo de amigos gays e alguns amigos aleatórios como Nina, amiga que conheceu numa feirinha de artesanato e a quem comprou uma pulseira de prata - falsa.
Ao mesmo tempo, do outro lado da cidade, Roberto assistia a uma apresentação de jazz experimental, ouvia o som e seu sangue fervia. Ao seu lado, a roqueira de batom vermelho tinha belas curvas e um belo sorriso e bebia uma dose de uísque 12 anos. Roberto, então, ofereceu à Roqueira uma próxima rodada do drink e ela consentiu com um sorriso. Esqueceu o cartão de crédito. Merda! Foi sair para tirar dinheiro no posto de gasolina perto do bar. A roqueira era linda demais para deixá-la sem uísque.
Voltando a cena de Sofia no boteco mais sujo, em que Fagner conduzia um casal na pista de dança mais decadente do mundo, o assunto agora era um conhecido de todos que andava anunciando que poderia vir um dia a talvez sair do armário. O papo consistia em todos os gays da mesma afirmarem que fulano sim-é-gay-eu-conheço-um-gay-de-longe-meu-amor e das garotas heteros falarem que não-acho-que-naquela-festa-no-prédio-da-cláudia-ele-queria-me-beijar. Isolada, Sofia continuava ouvindo a letra que saía da radiola. Agora, The Police empolgava com Every Breath You Take. Garçom, mais uma cerveja, por favor.
Roberto voltou ao bar, esticou o braço com o copo de uísque na mão para a roqueira bonitinha e antes que ela fisgasse a bebida, falou "me diga seu nome primeiro" e ela sorridente falou "Gisela" e aí eles começaram um papo besta sobre como era importante o incentivo a eventos como esse, que jazz experimental era o máximo e que gostavam muito daquele bar.
Sofia foi puxada para dançar por um mocinho da mesa ao lado.Dessa vez, a brega radiola tocava Gal Costa "Baby, baby, baby, eu sei que é assim, baby, baby, baby" e Sofia rodopiava com o mocinho no salão. Ele a levou até a quina da parece, colocou sua mão na perna de Sofia e beijou seu pescoço. Sofia rodou a nunca, dando uma volta tão longe que parecia nunca querer chegar na boca do mocinho. Até que chegou.
Roberto continuava o papo cabeça com a roqueira Gisela, até que a menina se cansou, um pouco envergonhada, é verdade, disse que morava ali perto e que poderia continuar a conversa por lá. Chegando ao sofá de Gisela, Roberto a pegou com força, a trouxe para cima de si e a beijou.
Sofia beijava o mocinho da mesa ao lado, Roberto beijava a roqueira bonitinha. E a sensação era, sempre, a mesma. Nenhum lábio era tão macio e as bocas jamais se encaixariam tão bem novamente como foi um dia. E naquele momento, exatamente naquele momento e talvez apenas naquele momento, Sofia e Roberto sentiram saudades.
Ao mesmo tempo, do outro lado da cidade, Roberto assistia a uma apresentação de jazz experimental, ouvia o som e seu sangue fervia. Ao seu lado, a roqueira de batom vermelho tinha belas curvas e um belo sorriso e bebia uma dose de uísque 12 anos. Roberto, então, ofereceu à Roqueira uma próxima rodada do drink e ela consentiu com um sorriso. Esqueceu o cartão de crédito. Merda! Foi sair para tirar dinheiro no posto de gasolina perto do bar. A roqueira era linda demais para deixá-la sem uísque.
Voltando a cena de Sofia no boteco mais sujo, em que Fagner conduzia um casal na pista de dança mais decadente do mundo, o assunto agora era um conhecido de todos que andava anunciando que poderia vir um dia a talvez sair do armário. O papo consistia em todos os gays da mesma afirmarem que fulano sim-é-gay-eu-conheço-um-gay-de-longe-meu-amor e das garotas heteros falarem que não-acho-que-naquela-festa-no-prédio-da-cláudia-ele-queria-me-beijar. Isolada, Sofia continuava ouvindo a letra que saía da radiola. Agora, The Police empolgava com Every Breath You Take. Garçom, mais uma cerveja, por favor.
Roberto voltou ao bar, esticou o braço com o copo de uísque na mão para a roqueira bonitinha e antes que ela fisgasse a bebida, falou "me diga seu nome primeiro" e ela sorridente falou "Gisela" e aí eles começaram um papo besta sobre como era importante o incentivo a eventos como esse, que jazz experimental era o máximo e que gostavam muito daquele bar.
Sofia foi puxada para dançar por um mocinho da mesa ao lado.Dessa vez, a brega radiola tocava Gal Costa "Baby, baby, baby, eu sei que é assim, baby, baby, baby" e Sofia rodopiava com o mocinho no salão. Ele a levou até a quina da parece, colocou sua mão na perna de Sofia e beijou seu pescoço. Sofia rodou a nunca, dando uma volta tão longe que parecia nunca querer chegar na boca do mocinho. Até que chegou.
Roberto continuava o papo cabeça com a roqueira Gisela, até que a menina se cansou, um pouco envergonhada, é verdade, disse que morava ali perto e que poderia continuar a conversa por lá. Chegando ao sofá de Gisela, Roberto a pegou com força, a trouxe para cima de si e a beijou.
Sofia beijava o mocinho da mesa ao lado, Roberto beijava a roqueira bonitinha. E a sensação era, sempre, a mesma. Nenhum lábio era tão macio e as bocas jamais se encaixariam tão bem novamente como foi um dia. E naquele momento, exatamente naquele momento e talvez apenas naquele momento, Sofia e Roberto sentiram saudades.
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
Ainda lembro de nós dois, deitados no chão da varanda, questionando se nuvens eram melhores que estrelas ou se estrelas eram mais bonitas que nuvens. Naquele momento, me sentia completamente feliz, não me faltava nada. Era exatamente o lugar que eu queria estar. Para sempre.
É difícil aprender novas maneiras de viver. Viver por mim, sem você, é como comer pizza sem orégano. É bom, mas não tem tanta graça. Você me faz falta todos os dias e hoje eu queria falar da minha saudade.
Eu ainda amo você, eu ainda penso em você, eu ainda desejo que um dia nós fiquemos juntos de novo, pois não há no mundo lugar mais seguro para mim do que teus braços. E eu tenho tentado, deus, tenho tentado com todas as forças me reapaixonar, por alguém e pela vida, mas a verdade é que eu ainda olho para o mundo procurando por você.
Assinar:
Postagens (Atom)